Entradas de leão e saídas de sendeiro
Assentando arraiais no nosso País, através do acordo celebrado com PS,
PSD e CDS, a troika internacional,
pela boca dos respetivos técnicos, desde sempre nos tem habituado a tecer
rasgados elogios ao governo português pela forma como tem executado fielmente
os mandamentos e ainda pelo desplante e falta de respeito pela população como
sempre pensou e decidiu ir mais além.
Aos elogios de fora responde o discurso interno na mesma linha e salientando
com falsidade não existir outro caminho nem tão pouco propostas alternativas ao
programa em curso que, como todos bem sabemos, nos está a empobrecer, a causar
miséria na população e colocar em causa a nossa soberania, pois estas
«fanfarronadas» não encontram no dia a dia dos portugueses qualquer semelhança
com a realidade, bem pelo contrário, a receita conduz o doente não para a cura,
mas para o agravamento da doença e a sua morte prematura.
E senão vejamos: pelos dados disponíveis ao comum dos mortais, mesmo
não possuindo diploma conseguido em três penadas, o desemprego aumentou em vez
de diminuir e as receitas fiscais diminuíram em vez de subir; a dívida pública
aumentou, situando-se nos 190 mil milhões de euros, representando 111,7% do
produto interno bruto (PIB) e colocando o nosso País na terceira posição mais
elevada de endividamento na União Europeia, logo a seguir à Grécia e à Itália; o
défice, ai Jesus deste e dos anteriores governos e à sombra do qual tudo devia
ser sacrificado, vai ser excedido em larga escala, com os portugueses a sofrer
na pele o resultado; a economia não cresce, mantendo-se em compasso de espera;
o saque das parcerias público privadas ao erário público, a manutenção das
mordomias aos antigos detentores de cargos públicos e, em muitos casos, a sua
«passagem» para o sector privado com ordenados escandalosos, continuam e depois
dizem que não há dinheiro para a Saúde, Educação, Transportes, Segurança
Social; a Banca não apoia as pequenas e médias empresas, apesar de ser a grande
beneficiária dos dinheiros da Europa connosco; todos estes factores e outros,
tais como, a estagnação das pescas, agricultura e boa parte da industria, representam
a realidade do nosso País nos dias de hoje e, mesmo assim, sendo considerados
como a aluno bem comportado da União Europeia, porque carga de água é que não
conseguimos chegar com o pé à pegada e pelo menos melhorarmos a nossa
prestação? Ou não somos o tal bom aluno e existem alternativas a estas políticas,
ou estamos a ser alvo duma colossal mentira externa e interna.
Pode, porém, acontecer que ambas as alternativas sejam verdadeiras, o
que parece ser o pensamento mais avisado e, nesse sentido, a única solução é
arrepiar caminho urgentemente, pois amanhã pode ser tarde.
Nesse sentido e já que nem com o Presidente da República podemos
contar, face ao seu alheamento ou alinhamento com a situação atual e o seu
esquecimento da Constituição, somente nos resta mandarmos «lixar» o governo e o
seu líder que, preocupado com as eleições mentiu antes delas ao prometer o que
sabia não ia cumprir, mente agora sobre a estado da Nação, ao afirmar que
estamos no bom caminho, alinhado com a troika
internacional, e continuará a mentir até ao fim.
Acabaram as entradas de leão, pois as saídas de sendeiro estão a conduzir-nos
por becos sem saída, demonstrativos do total falhanço das medidas de fora a que
as de dentro ainda aceleram mais a queda no abismo.
Manuel Vilas Boas