domingo, 31 de julho de 2011

Conferência de Imprensa, João Frazão, Comissão Política do Comité Central do PCP , Lisboa

Declaração sobre os primeiros 30 dias de aplicação do programa do Governo



Trinta dias de aplicação do programa do Governo PSD/CDS bastam para confirmar as piores expectativas.
Este Governo confirma-se como um executivo ao serviço do grande capital, empenhado em concretizar ponto a ponto o Pacto de agressão e submissão ao povo e ao país que o PS, o PSD e o CDS assinaram com a Troika FMI/UE/BCE.
Este é um Governo determinado em prosseguir a ofensiva contra os direitos dos trabalhadores e do povo, que não tem qualquer pejo em executar mesmo medidas que não constam do seu Programa, com o objectivo de transferir riqueza para os grupos económicos à custa da exploração e do saque dos rendimentos dos trabalhadores e dos sectores não monopolistas. Tal é a situação do roubo que o Governo decretou a 50% do Subsídio de Natal, acima do Salário Mínimo Nacional, aos trabalhadores e aos pensionistas, roubo que é tanto mais escandaloso quando deixa de fora os titulares de rendimentos de capital e quando Passos Coelho prometeu, solenemente, na Campanha Eleitoral, que não aumentaria os impostos e não tocaria no Subsídio de Natal.
Este é um governo que se prepara, e pré-anuncia, aumentos nos medicamentos, nas taxas moderadoras, noutros serviços públicos essenciais, nos preços da água, da electricidade, entre outros, que a irem por diante arrastarão milhares de portugueses para a miséria .
O Governo PSD/CDS comporta-se, à semelhança do que acontecia com o Governo PS/Sócrates, como o representante dos interesses do capital, submetendo-se a eles e aprofundando a promiscuidade entre o poder económico e o poder político. O anúncio de um ou dois orçamentos rectificativos, com o objectivo de incluir nas contas públicas os apoios milionários a atribuir à Banca, seja para a recapitalização que os banqueiros não querem suportar, seja para colmatar os efeitos da gestão fraudulenta como se verificou no BPN, aumentando assim a dívida pública, é, em si mesmo, bastante esclarecedor.
Prepara privatizações à medida desses interesses, organizadas por figuras suas representantes, como se vislumbra na composição do novo Conselho de Administração da CGD, onde pontuam figuras ligadas aos sectores dos Seguros e da Saúde privada, áreas de negócio que o Governo prevê privatizar na Caixa. Inflige sacrifícios incalculáveis aos trabalhadores e à população, com aumentos dos transportes públicos, que chegam a ultrapassar os 25% (os maiores de que há memória e que se somam aos aumentos do início do ano), aumentando assim a qualquer custo as receitas dessas empresas, com o objectivo de preparar a sua privatização e entregá-las aos mesmos grupos (Barraqueiro, Trandev, entre outros) para quem, já hoje, o Estado transfere milhões de euros de indemnizações compensatórias, que nega às empresas públicas.
Uma vez mais, a actuação do governo está a confirmar que a dívida e o défice são apenas pretexto para cumprir uma velha agenda dos grupos económicos e financeiros. As alterações à legislação laboral, que não têm nenhum impacto nas contas públicas, visam isso sim embaratecer e facilitar os despedimentos. Prosseguindo o compromisso já assumido pelo PS, a que a UGT deu o aval, o Governo PSD/CDS não só responde aos velhos anseios do patronato, como lhes promete ainda mais para um futuro próximo. De facto, a diminuição do valor das indemnizações por despedimento, seja ela qual for - para 20, 10, ou menos dias por ano de trabalho - corresponderia à banalização dos despedimentos, dando pretexto às empresas para se livrarem, a baixo custo, dos trabalhadores com melhores salários e direitos, contratando, eventualmente, trabalhadores precários e mal pagos para os substituir.
O Governo PSD/CDS comporta-se como um adversário do interesse nacional que, sistematicamente, põe em causa. Tal é o caso da alienação das golden share de diversas empresas, a começar pela PT. Os direitos especiais que o Estado detém (legitimamente e como acontece em quase todos os países da União Europeia) valiam, do ponto de vista estritamente económico, muitos milhões de euros e, do ponto de vista estratégico, eram de valor incalculável. Foi uma decisão ilegítima, pelo que, no debate agendado para a próxima quarta-feira na Assembleia da República, o PCP vai propor a Cessação da Vigência do Decreto Lei que extingue as golden share do Estado na PT, EDP e GALP, e votará contra a eliminação, proposta pelo Governo para discussão no mesmo dia, dos direitos especiais do Estado em processos de privatização, até aqui prevista na respectiva lei.
Também a decisão de aumentar brutalmente o preço dos transportes públicos, contribuirá para o aumento do transporte individual, com o consequente  agravamento da factura energética e do endividamento do país.
Este Governo coloca ainda em causa o interesse nacional, com a entrega, ao desbarato das principais empresas do sector público e participações do Estado (GALP, EDP, REN, ANA, CGD, TAP, CP, Águas de Portugal, Cimpor, Taguspark), ao sector privado, que acabarão por cair sob controlo do capital estrangeiro, nomeadamente francês ou alemão.
O Governo PSD/CDS prossegue o rumo de subserviência face aos chamados mercados, aos interesses dos megabancos europeus e da banca nacional, cedendo sempre à especulação, e facilitando o engordar de lucros e regalias. Num momento em que são pedidos sacrifícios a milhões de portugueses, ficámos a saber, nos últimos dias, que os 25 mais ricos do país, no ano da crise, aumentaram as suas fortunas em 17%. 25 fortunas que somam mais de 10% do PIB Nacional, cerca de 17,1 mil milhões de euros.
Os resultados do primeiro semestre deste ano, revelados pelos principais grupos económicos contrastam com a crise e as dificuldades que percorrem o país. Com crescimentos que chegam a ultrapassar os 100%, os grupos económicos, - que, por decisão do Governo do PS, primeiro e agora do PSD/CDS, estão isentos de contribuir para a resolução dos problemas nacionais - ostentam lucros de centenas de milhões de euros. A Corticeira Amorim, SGPS, o Grupo Jerónimo Martins, e a Sonaecom, viram os seus lucros crescer 20,3%; 40% e 62% respectivamente. Entre os principais bancos, o BPI e o BCP fecharam o semestre, respectivamente, com 70 milhões e 100 milhões de euros de lucros. A EDP Renováveis duplicou os seus lucros para 90 milhões de euros e a EDP aumentou em 8%, para 609 milhões de euros! A Prossegur aumentou os lucros em 77,5%, a Portucel em 8%, a Mediacapital em 18%. A GALP apresentou lucros de 111 milhões de euros.
O Governo PSD/CDS usa e abusa da mentira insistindo na técnica da falácia e das meias verdades para justificar as suas opções. Foi o desvio colossal, usado como justificação para o roubo do subsídio de Natal, que afinal dias depois já não o era. Foi a tributação de rendimentos de capital que depois não se confirmou. É a mistificação que os rendimentos de capital não são tocados na sobretaxa de 3,5%, para não prejudicar a poupança. É a fantasiosa distribuição dos sacrifícios para todos, que depois não se confirma em nenhuma das medidas tomadas. É a facilitação dos despedimentos que teria como objectivo, imagine-se, o aumento do emprego.
Trinta dias depois do início da aplicação do programa do Governo, o PCP afirma que o caminho que este Governo escolheu, com o qual o PS está profundamente comprometido, e que conta com o silêncio cúmplice ou com o apoio explícito do Presidente da República, é o mesmo dos últimos trinta e cinco anos, que trouxeram o país à situação de desastre em que se encontra. Trinta dias depois, o PCP reafirma que o prosseguimento da política de direita só poderá ter como consequências o aprofundamento da crise económica e social, a ruína de milhares de pequenos e médios empresários, a retracção do consumo, a recessão da economia, o aumento do desemprego, o aumento da pobreza e da miséria, o agravamento dos défices estruturais e da dependência externa, o afundamento do país e a progressiva perda da soberania nacional.
E essa política, que cria dificuldades a milhões de portugueses, só pode ter como resposta a mobilização dos trabalhadores e das populações para impedir a sua concretização. O PCP, ao mesmo tempo que apela à intensificação do protesto e da luta, saúda vivamente as acções já promovidas pela CGTP-IN, em que se destaca a concentração frente à Assembleia da República, realizada na passada quinta feira, no momento em que se discutia a proposta do Governo de alteração à legislação laboral, bem como as diversas acções realizadas pelos trabalhadores em empresas, locais de trabalho e sectores, por outras camadas sociais e pelas populações, em defesa dos serviços públicos.
É exactamente com este sentido que o PCP hoje aqui reafirma que nem este nem nenhum outro Governo poderia contar ou contará com o apoio do PCP para a execução destas políticas, e para apoiar alterações ao Orçamento de Estado que visam tão somente, como afirmou o Ministro das Finanças, permitir a recapitalização dos bancos até a um máximo de 12 mil milhões de euros e, ao mesmo tempo, acomodar os 35 mil milhões de euros que o Estado oferece em garantias à banca para esta emitir dívida para se financiar.
Cumprindo os seus compromissos com o povo português, o PCP está a apresentar, na Assembleia da República um conjunto de propostas alternativas para a resolução dos problemas do país. Porque é possível outro caminho.
É possível um caminho que aposte na produção nacional. Que valorize o trabalho e os trabalhadores, designadamente por via do aumento dos salários e das pensões. Que avance com a proposta de renegociação da dívida pública. Que valorize os serviços públicos e as funções sociais do Estado. Força determinante na oposição à política de direita, anunciamos hoje a realização, durante o mês de Agosto de uma iniciativa do PCP, em todo o país, de contacto, mobilização e esclarecimento dos trabalhadores e das populações, de denúncia da política do Governo ao serviço dos grupos económicos e financeiros, com incidência particular no combate às alterações à legislação laboral e de afirmação das propostas e projecto do PCP.

sábado, 30 de julho de 2011

Nota do Gabinete de Imprensa do PCP

Nova administração da CGD insere-se na privatização e desmantelamento do banco público



Face à designação pelo Governo PSD/CDS de uma nova administração do Grupo Caixa Geral de Depósitos, decidida nesta semana, o PCP considera o seguinte:
1. A nomeação de uma nova administração do Grupo Caixa Geral de Depósitos, quer pela sua composição, quer pela estrutura agora definida, corresponde aos objectivos impostos pela troika e assumidos por PSD, CDS e PS: de privatização das empresas seguradoras do Grupo – Fidelidade, Bonança e outras –, responsáveis por 44% da actividade seguradora em Portugal; de redução da actividade da CGD no plano internacional; de venda de importantes participações da Caixa num conjunto de empresas estratégicas nacionais – PT, EDP, REN, Cimpor, Águas de Portugal, GALP, Taguspark, BCP e BPN, entre outras - que colocam em risco a existência e o papel do banco público e põem em causa instrumentos de intervenção do Estado na economia nacional.
2. Ao contrário do que a demagógica propaganda do Governo tem vindo a afirmar quanto à redução de cargos nas empresas públicas, esta nomeação, para lá de aumentar significativamente o número de administradores - correspondendo à distribuição de alguns cargos por «boys» do PSD e do CDS/PP – visa, pelos nomes que foram indicados, colocar à frente do banco público representantes directos dos interesses de alguns dos principais grupos económicos e financeiros do país. Vindos directamente de grupos financeiros, de influentes escritórios de advogados, de consórcios privados no sector da saúde, os nomes escolhidos confirmam um percurso que une PS, PSD e CDS na crescente promiscuidade e subordinação do poder político ao poder económico.
3. Com esta nomeação está escolhida a equipa que na administração da CGD dará continuidade e aprofundará uma gestão do banco público que em vez da promoção e do apoio à actividade económica, da garantia do acesso ao crédito por parte da população, de apoio ao investimento público e à actividade produtiva, se fixará como pedra angular do criminoso processo de privatizações e saque dos recursos públicos e dos escandalosos apoios à banca privada que têm vindo a ser concretizados.
4. Num momento em que o Governo exige e impõe inaceitáveis sacrifícios à população para satisfazer os interesses do capital, designadamente do sector financeiro, o PCP reafirma a necessidade de um outro rumo, de uma política patriótica e de esquerda que, no plano imediato, garanta: o reforço do sector público financeiro – banca e seguros – designadamente da CGD; o apuramento da acção fraudulenta levada a cabo no BPN, das suas consequências para o erário público e a sua não privatização; a imposição de uma taxa efectiva de IRC de 25% sobre a banca; uma política de acesso ao crédito, designadamente por parte das PME's, que estimule a actividade económica e apoie milhões de portugueses perante o sufoco a que estão sujeitos pelos juros dos empréstimos à habitação.
5. Uma política que considere o acesso ao crédito como um serviço público, para além de defender o papel e o carácter público de todo o grupo CGD cuja única forma de estar ao serviço do país é por via da recuperação para as mãos do Estado do sector financeiro em Portugal.

domingo, 24 de julho de 2011

Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral do PCP, Águeda, Comício

PCP apela à luta contra as alterações à lei laboral


Camaradas:
O governo mudou, mas tal como prevíamos, a política segue o mesmo rumo que tem conduzido o país ao declínio e à contínua degradação da vida do nosso povo.
O governo mudou, mas não mudaram os hipócritas fundamentos, nem os falsos pretextos para continuar o processo de aprofundamento da exploração dos trabalhadores e de rapina sobre os recursos nacionais.
O governo mudou, mas tal como no passado com Sócrates e com Durão, para falar só dos mais próximos, a primeira medida tomada foi para fazer exactamente o contrário do que haviam prometido e anunciado – o roubo de metade do subsídio de Natal, com mais um imposto extraordinário sobre os rendimentos do trabalho.
Juraram que não, que não tocariam no subsídio de Natal, mas em escassas semanas deram o dito por não dito e, esgrimindo os mais cínicos argumentos, carregaram novamente e apenas sobre o trabalho, deixando de fora os rendimentos de capital – os dividendos de acções e os lucros das empresas e as grandes fortunas.
Se era já uma profunda injustiça esta penalização suplementar dos trabalhadores e dos reformados, a decisão de exceptuar neste imposto os rendimentos dos que ganham milhões é não apenas um acto de extrema perversidade, mas um claro indicativo da natureza viciosa das políticas que PSD e CDS-PP estão já a executar.
Está aqui mais uma vez bem patente neste imposto desnecessário e injusto a falsidade do argumento do imprescindível esforço nacional de todos para vencer a crise e da chamada equidade das medidas de austeridade que têm sido tomadas e que estão a ser tomadas.
A mesma falsidade, os mesmos critérios, as mesmas opções políticas que presidiram à elaboração do pacto da ingerência externa assinado pelo PS, PSD e CDS com a União Europeia e o FMI e igualmente ao Programa do novo Governo que o assumiu por inteiro e que servem a oligarquia económica e financeira que domina o país.
Esse desastroso e ilegítimo pacto de agressão, com severas medidas de austeridade para o povo e de venda ao desbarato do património do país, que o Programa do novo Governo ampliou com o objectivo de levar mais longe a ofensiva contra os interesses populares.
Um Pacto e um Programa que, a serem concretizados, não apenas conduzirão ao agravamento brutal da vida dos trabalhadores e das outras camadas populares, como condenarão o país à recessão, ao declínio e ao desastre.
Tínhamos dito e prevenido que a política de direita, seja ela executada pelo PS, pelo PSD ou pelo CDS e agora exacerbada pelas medidas do Pacto do União Europeia/BCE e FMI, não resolveria os problemas nacionais, apenas agravaria a vida dos portugueses e, na verdade, ainda agora começaram e já se vê o caminho que leva o país e a vida dos portugueses, particularmente aqueles que vivem do seu trabalho e de uma reforma.
Se com o Pacto da troika da ingerência a recessão económica e o desemprego assumiam uma dimensão preocupante, como os próprios o admitiam, com este governo e as medidas já tomadas é mais recessão em cima da grave recessão prevista e mais desemprego em cima da elevada taxa de desemprego existente e esperada.
É já o agravamento de todos os problemas que se perspectiva com a política do Pacto e com a política e as medidas do governo do PSD/CDS. Prometem a recuperação económica para 2013, mas todos os indicativos vão no sentido contrário.
Mudaram os executores mas o país permanece enredado no círculo vicioso da dependência em relação aos grandes interesses económicos nacionais e estrangeiros que têm condenado o país à ruína e os trabalhadores e o povo ao desemprego, ao trabalho precário, à perda continua do seu poder de compra e cada vez mais portugueses à pobreza e à miséria.
As medidas de agravamento sucedem-se umas atrás das outras. Elas são um autêntico assalto ao bolso dos trabalhadores e das populações. Depois do roubo do subsídio de Natal anunciam agora um colossal aumento de 15% em média dos transportes públicos. Aqui está mais uma medida prevista no pacto das troikas que os senhores do governo e os senhores do PS esconderam do povo e do país durante a campanha eleitoral.
Podem continuar a falar da legitimidade reforçada deste governo e da sua política que os portugueses não tardarão a reagir à enorme trapaça que, por omissão, PS, PSD e CDS levaram ao engano muitos milhares de portugueses.
Milhares de portugueses que vão agora confrontar-se com a violência destes aumentos brutais com que não contavam e que se irão traduzir numa redução significativa do valor real do seu salário. Alguns terão, certamente, dificuldades em pagar o transporte para ir trabalhar. E porquê este aumento brutal? Simplesmente para criar condições à privatização das empresas públicas de transporte!
Não há salário, nem reforma que aguente este aumento sistemático de impostos, de transportes, de energia, de bens e serviços essenciais, dos medicamentos, de juros na habitação e muito menos aguentam aqueles que são empurrados para o desemprego ou vivem de um trabalho precário, mal remunerado e que são uma grande parte dos trabalhadores, nomeadamente jovens.
Esta semana, com uma urgência desmedida e atropelando prazos previstos na Lei sobre a discussão pública, marcaram para o próximo dia 28 o debate na generalidade da primeira iniciativa legislativa apresentada pelo Governo do pacote de alterações às leis laborais previstas Pacto. Dando seguimento às propostas do anterior governo do PS não perderam tempo para prosseguir a sanha persecutória e revanchista contra os trabalhadores portugueses.
Pretendem com esta primeira proposta criar as condições para os despedimentos mais fáceis e mais baratos. Uma inaceitável proposta de redução de 30 para 20 dias do valor da indemnização por despedimento e de limitação a 12 meses do valor máximo dessa indemnização. Uma proposta ainda em aberto, nomeadamente no que diz respeita ao Fundo de compensação, ficando a incógnita se serão os trabalhadores a pagar parte do seu próprio despedimento.
Este é um primeiro passo desse diabólico plano da troika da ingerência e dos partidos da submissão que acordaram ainda no seu sinistro memorando o alargamento das possibilidades de despedimento por “justa causa”; a flexibilização do horário de trabalho por via do “banco de horas”, a redução do valor pago pelas horas extraordinárias e o ataque à contratação colectiva e ao papel dos sindicatos na negociação, entre outras.
Com estas alterações às leis laborais, o Governo e os partidos da troika pretendem pôr todos os trabalhadores em situação de precariedade para os tratarem como material descartável e continuarem a escalada de redução das suas remunerações, como o evidencia a evolução do número de trabalhadores com o salário mínimo, que duplicou nos anos de governo do PS.
Todas estas propostas não resolvem nem o problema da dívida, nem do défice, nem nenhum dos problemas nacionais, visam apenas o aumento da exploração do trabalho.
Não é com mais precariedade e com salários mais baixos que se desenvolve o país. É com emprego com direitos, com a valorização dos salários, com a estabilidade dos vínculos que se garante e constrói um país desenvolvido e de progresso, que rejeite o estafado modelo de baixos salários.
Pode este Governo vir com a conversa fiada do apoio às famílias, mas precisam de explicar como pretendem apoiar as famílias, permitindo que um trabalhador seja facilmente despedido perdendo a fonte do seu sustento ou possibilitando que se deixe de pagar horas extraordinárias ou ainda pressionando no sentido do rebaixamento dos salários.
Esta ofensiva visando a anulação dos direitos dos trabalhadores e de ataque aos rendimentos do trabalho não pode ficar sem resposta, quer no plano institucional, quer no plano da luta de massas. E se há quem pense que os trabalhadores e povo estão condenados assistir de braços cruzados à destruição das suas vidas, é necessário que se lhes recorde que com outros governos que se julgavam estar seguros de pedra e cal, não só foi possível interromper os seus planos, como derrotá-los.
Estas primeiras medidas no plano social, a que se juntam outras já tomadas no domínio económico, são, sem dúvida, uma pequena amostra do vasto plano de ataque aos interesses populares que o actual Governo tem em curso com a complacência e o apoio do PS, submetido que está aos compromissos com a troika estrangeira. De facto, o programa que o Governo do PSD e CDS apresenta assume-se como uma verdadeira declaração de guerra aos trabalhadores e ao povo.
Um programa que promove a exploração do trabalho, corta nos salários, nas pensões e nos apoios sociais e no próprio sistema de segurança social. Um programa que visa o aumento brutal dos impostos sobre a habitação e o consumo. Um programa que avança com um conjunto de privatizações de empresas e serviços públicos, ampliando a entrega da riqueza nacional e do controle da nossa economia aos grandes grupos económicos.
Com este programa, a palavra de ordem do Governo é entregar ao desbarato empresas lucrativas, que em muitos casos constituem verdadeiros monopólios naturais ou que prestam serviços públicos essenciais. E o primeiro exemplo da entrega ao desbarato foi dado com a eliminação das Golden Shares na PT, GALP e EDP, entregando de borla os direitos especiais do Estado aos accionistas privados destas empresas.
A alienação destas acções douradas cujo valor se estima em muitos milhões de euros é um acto de gestão danosa contrária aos interesses nacionais. É a confirmação de completa submissão por parte do poder político aos grandes poderes económicos, aos quais se dá de mão beijada o completo controlo dos sectores estratégicos da nossa economia
Pela via de privatizações ou pela via de diminuição de direitos aí os temos também a pretender garantir uma maior fatia de sectores sociais para o negócio privado. É a entrega de hospitais e centros de saúde. É o prosseguimento da destruição da escola pública, justificada com a mistificadora retórica neo-liberal da “liberdade de escolha” que só a tem quem tem dinheiro para a pagar.
Nos seus objectivos está a transformação do Estado de Abril, garante e protector de direitos, num Estado assistencialista e residual nas suas funções sociais e económicas. Querem transformar os direitos próprios de cada português à saúde, à educação, ao apoio social numa política de caridade pública e privada, de estigmatização da pobreza e dos mais desfavorecidos.
Camaradas:
Dizem que estas medidas e o Pacto de agressão que assinaram eram inevitáveis por causa da dívida e para sossegar os mercados.
Em relação à acalmia dos mercados a resposta foi dada pela Moody´s ao colocar Portugal no lixo, apesar do pacto da intervenção externa e da atitude obediente e servil do Governo português com o seu propósito de dobrar a parada dos sacrifícios aos trabalhadores e ao povo.
E em relação à dívida? Quem pode de boa fé acreditar que o problema se resolverá seguindo o mesmo caminho, as mesmas receitas, as mesmas políticas que levaram à sua colossal dimensão e que são, no essencial, as soluções da troika e do Governo?
Não! Não se resolverão nem com as orientações do novo Governo, nem com as medidas impostas pela troika do FMI/BCE/UE!
Como há muito denunciamos o endividamento do país é a consequência mais visível da política de desastre nacional que PS, PSD e CDS impuseram nos últimos 35 anos. É a consequência da desindustrialização, do abandono da agricultura e das pescas, de privatizações, da financeirização da economia, da submissão às imposições da UE e do grande capital nacional e estrangeiro.
Um processo que se acentuou por via da adesão ao euro, das políticas restritivas impostas e pelas irrealistas regras da União Económica e Monetária, que continuam! É consequência igualmente da transferência para o Estado e para os contribuintes dos prejuízos do sector financeiro e que tem no BPN o mais vivo exemplo da má gestão e da delapidação do património do país, cuja privatização conheceu um novo avanço esta semana.
Conhecem-se as responsabilidades do Governo PS que decidiu intervir no BPN e deixar de fora um vasto património do grupo SLN. Conhecem-se as posições dos outros partidos da troika.
A sua estratégia foi sempre clara: transferir para o Estado as consequências das fraudes e crimes de gestores, banqueiros e outros amigos que ao longo de anos se aproveitaram do BPN, para voltar a entregar o banco, limpo, a um qualquer grupo privado, como agora está acontecer. A ideia era e é muito simples: nacionalizar os prejuízos, privatizar os lucros!
Foi com esse objectivo que agiu o governo do PS e é com esse objectivo que age agora o Governo do PSD/CDS ao tentar vender o BPN de qualquer maneira, sem qualquer preço base.
O valor dos prejuízos que o país já pagou pelo BPN é de 1 800 milhões, mas é bem possível que o valor final suba bem acima dos 5000 milhões se atendermos às garantias que o Estado continua a dar à Caixa para emprestar ao BPN e agora também às empresas criadas para receber o seu lixo.
A solução podia também hoje ser outra.
O BPN tem 1600 trabalhadores e mais de 230 balcões. Recuperado o BPN devia ser um novo banco público vocacionado para áreas específicas, com potencial para poder pagar ao Estado – a todos nós – os prejuízos que os partidos da troika transferiram e querem continuar a transferir para o bolso dos portugueses. Mas em vez disso são mais uns milhões que se esvaem em benefício dos grandes grupos económicos.
Foi por tudo isto que a dívida cresceu desmesuradamente e não, como querem fazer crer, por “o povo viver acima das suas possibilidades” como sistematicamente insinuam os responsáveis pela crise e o poder que os serve.
Camaradas:
Com esta política, com o Pacto e as medidas previstas é o afundar do país e a vida dos portugueses atolada no pântano. Cada dia que passa com este governo, com esta política é tempo perdido na via da solução dos problemas nacionais.
A presente situação do país, com o prosseguimento da destruição do tecido produtivo, da estagnação e recessão económicas, mas também com o alastramento do desemprego e de agravamento das condições de vida, torna ainda mais urgente e indispensável uma ruptura com o actual rumo da vida nacional e a concretização de uma política patriótica e de esquerda capaz de dar resposta aos problemas do país.
Rejeitar o programa ilegítimo de submissão externa, renegociar a dívida pública, defender a produção nacional e uma justa distribuição da riqueza, continua a constituir a resposta patriótica e de esquerda de que o país precisa.
Uma renegociação da dívida compatível com uma estratégia de estabilização financeira sustentável, com o crescimento económico, o equilíbrio das contas públicas e o emprego.
Uma política patriótica e de esquerda que permita potenciar a produção nacional, que valorize a agricultura e as pescas, promova um programa de industrialização do país, valorize o mercado interno com a indispensável elevação dos salários, pensões de reforma e rendimentos da população, reforce o investimento público orientado para o crescimento económico, defenda e reforce o sector empresarial do Estado nos sectores básicos e estratégicos e apoie as micro, pequenas e médias empresas designadamente por via do controlo dos custos dos principais factores de produção e do financiamento público.
Uma política patriótica e de esquerda capaz de tomar as medidas de política fiscal que se impõem para fazer pagar mais a quem mais tem e mais ganha.
Em relação á solução do problema da dívida e do serviço da dívida, hoje uma questão central e de tanta importância para encetar um outro rumo para o país, vimos como reagiram PS, PSD e CDS à nossa proposta pioneira para a renegociação da dívida externa portuguesa debatida esta semana na Assembleia da República. Vimos como reiterada e irresponsavelmente foi rejeitada por esses mesmos partidos, na base do estafado argumento da sua impossibilidade e da sua contraproducencia.
Entretanto o que vimos no dia seguinte na Reunião Extraordinária de Chefes de Estado e de Governo da Zona Euro? Vimos a Cimeira de Chefes de Estado a decidir uma renegociação encapotada, pondo a nu, ao contrário do que sistematicamente foram negando, que a renegociação da dívida é não só possível como inevitável. De facto, as decisões adoptadas na Cimeira são uma confissão de que as propostas do PCP para a renegociação da dívida são um caminho forçoso e para nós necessário, para salvaguardar os interesses do país e dos portugueses. Não naqueles termos concretos e com os conteúdos que foram acordados, que não são a mudança que a situação impõe para dar resposta aos problemas dos trabalhadores e dos povos da Europa.
As decisões tomadas, forçadas pelo desastre a que foi conduzida a Grécia e para que estão a ser encaminhados outros países da Europa, designadamente Portugal, são uma resposta ditada não pela necessidade de resolver os problemas dos povos, mas para garantir os interesse do capital financeiro e das principais potencias europeias. Decisões que vão no sentido do agravamento das limitações da soberania dos Estados, de insistência no caminho do retrocesso social, de declínio económico e nos draconianos programas de austeridade. De facto, a redução das taxas de juro e do alargamento dos prazos para Portugal pagar a dívida mantendo o programa de agressão e submissão com o seu vasto pacote de medidas contra o país, significa, para lá do reconhecimento da impossibilidade de aplicar os termos anteriormente acordados desse programa – como PCP desde o início alertou –, uma forma de globalmente promover a continuação do saque dos recursos nacionais, à custa do agravamento da exploração e do comprometimento do futuro do país.
Ao contrário, aquilo que se impõe e que o PCP propõe é uma renegociação da dívida pública nos prazos, nos juros e nos montantes, liberta dos brutais condicionamentos impostos pela troika. As medidas anunciadas significam que o país continuará sujeito à depredação dos seus recursos e o povo português a enormes sacrifícios, desde logo pelo valor do aumento global dos juros do empréstimo que implica com o novo prazo. Um serviço da dívida que – num quadro de recessão económica prolongada em que o país se encontra – para além de inaceitável se revelará impagável.
O processo de concentração e centralização de poder económico e político desencadeado em nome do combate à crise, as políticas contidas na “governação económica” e no “Pacto para o Euro mais” e os chamados pacotes de resgate financeiro não só não resolveram qualquer dos problemas económicos e financeiros no espaço da Zona Euro, como os aprofundaram vertiginosamente.
Por mais que o governo português e as potências da União Europeia queiram esconder, a resposta aos gravíssimos problemas exige, entre outras medidas: o fim da liberalização dos movimentos de capitais, dos paraísos fiscais e o efectivo combate à especulação; a baixa da taxa de referência do BCE; o fim dos mercados secundários e dos seus títulos especulativos; a alteração dos objectivos e funcionamento do BCE; a substituição do Pacto de Estabilidade por um programa de emprego e desenvolvimento económico, numa rápida e sólida estratégia para a criação de emprego e aumento do poder de compra dos trabalhadores e dos povos.
Camaradas:
O conjunto das extensas e graves medidas que o Governo pretende aprovar no imediato e nos próximos meses, exige que nos preparemos para uma luta que pode ser prolongada e em muitas frentes. É isso que se impõe fazer, assegurando uma forte intervenção no plano da acção política e da luta de massas, porque só a luta pode conter e derrotar os desígnios dos que apostam no aprofundamento da exploração do trabalho e na degradação das condições de vida do povo.
Luta de massas que constitui na actual situação a resposta necessária e determinante contra a agressão a que os trabalhadores, o povo e o país estão sujeitos e é o factor essencial de construção de um Portugal de justiça e de progresso.
A ofensiva que aí está, bem patente nas primeiras medidas do novo Governo, precisa de ser confrontada com a luta e a determinação dos trabalhadores e das massas populares no imediato.
É preciso fazer frente e fazer frente desde já! Fazer frente às medidas e a um governo que tem pressa no ataque aos direitos e às condições de vida do povo. Fazer frente com as massas, dinamizando a sua luta, pelo aumento dos salários, em defesa dos horários de trabalho e da exigência da sua redução, no combate à precariedade, pelo direito ao subsidio de desemprego e pela exigência de emprego, na defesa da segurança social.
Uma luta que é preciso alargar a amplas camadas da população contra as privatizações, a extinção dos serviços públicos, a defesa do Serviço Nacional de Saúde e da Escola Pública, a garantia de um sistema de transportes públicos e o combate ao aumento dos preços.
Neste momento difícil, o PCP dirige-se aos trabalhadores, aos jovens, ao povo português reafirmando a importância da acção e da sua luta na defesa do regime democrático de Abril e dos direitos sociais, económicos e culturais do nosso povo. Acção e luta que exigem um partido reforçado, mais forte com uma intervenção diversificada capaz de responder às exigências da hora presente.
Uma intervenção à altura deste Partido que este ano está a comemorar 90 anos de vida. Deste Partido que nasceu, vive e projecta o seu futuro sempre a pensar servir os trabalhadores e o nosso povo. Que esteve sempre presente nos momentos mais difíceis ao lado dos trabalhadores e do povo travando os combates necessários. É com essa perspectiva que aqui estamos com a determinação, a firmeza, a mesma disponibilidade combativa de sempre deste Partido Comunista Português.
São grandes perigos e ameaças que pesam sobre os trabalhadores, o nosso povo e o próprio regime democrático de Abril e que exigem um Partido cada vez mais preparado, mais forte, mais activo, mais interventivo, ainda mais ligado aos problemas e aos trabalhadores, capaz de dinamizar e dar um novo ímpeto à luta.
Tempos em que os comunistas são chamados a redobrar o trabalho para cumprir o seu insubstituível papel ao lado dos trabalhadores e do povo, combatendo a exploração, as injustiças, as desigualdades, mas também a resignação, dinamizando a resistência e a luta.
Temos um Partido como nenhum outro, com uma história, força, valores e projecto sem igual.
Os tempos que vivemos exigem muita coragem, mas coragem foi o que nunca faltou a este Partido Comunista Português, a este grande colectivo, aos militantes do Partido e da Juventude Comunista Portuguesa.
É com essa coragem e com a confiança que ela nos dá que vamos em frente com a luta pela democracia avançada, por um Portugal de progresso, tendo sempre no horizonte a perspectiva do socialismo.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Conferência de Imprensa, João Ferreira, Deputado ao Parlamento Europeu

Sobre as conclusões da Cimeira dos Países da Zona Euro



Forçados pelo desastre a que foi conduzida a Grécia e para que estão a ser encaminhados outros países da Europa, designadamente Portugal e a par do risco de alastramento do incumprimento à Itália e à Espanha, a Reunião Extraordinária de Chefes de Estado e de Governo da Zona Euro de ontem tomou decisões que constituem um novo e mais grave passo no sentido da limitação da soberania dos Estados, uma resposta no sentido da garantia dos interesses do capital financeiro e das principais potências europeias, um factor de agravamento da situação do país e de limitação ao seu desenvolvimento e progresso.
1. As decisões adoptadas são uma confissão de que as propostas do PCP (reiterada e irresponsavelmente rejeitadas por PSD,CDS e PS) para a renegociação da dívida são um caminho inevitável, como é testemunhado por esta “renegociação” encapotada e que põe a nu, ao contrário do que sistematicamente foram negando, que a renegociação da dívida é não só possível como inevitável. No entanto, o conteúdo e os termos das decisões tomadas não são a mudança que a situação impõe para dar resposta aos problemas dos trabalhadores e dos povos da Europa, mas a insistência no caminho do retrocesso social e de declínio económico.
2. A redução das taxas de juro, a par do alargamento dos prazos para Portugal, mantendo o conjunto das opções políticas contidas no programa de agressão e submissão assumido por PS, PSD e CDS com a UE e o FMI, significa, para lá do reconhecimento da impossibilidade de aplicar os termos anteriormente acordados desse programa - como PCP desde o início alertou –, uma forma de globalmente promover a continuação do saque dos recursos nacionais, à custa do agravamento da exploração e do comprometimento do futuro do país.
3. Ao contrário daquilo que se impõe e que o PCP propõe - uma renegociação da dívida pública nos prazos, nos juros e nos montantes, liberta dos brutais condicionamentos impostos pela troika, as medidas anunciadas significam que o país continuará sujeito à depredação dos seus recursos e o povo português a enormes sacrifícios.
Nas condições ontem renegociadas, pelo mesmo empréstimo contraído com a UE e o FMI, Portugal vai pagar uma taxa de juro anual de 3,5% por um período de 15 anos. O que significa que, em vez dos 30,4 milhões de euros que Portugal teria de pagar de juros por este empréstimo, terá agora de pagar 40,95 mil milhões de euros de juros no novo prazo fixado. Uma decisão que, podendo reduzir o montante anual dos juros a pagar nos próximos anos, agrava de facto em 10 mil milhões de euros o valor global dos juros que serão pagos à custa da sangria dos recursos nacionais, do aumento da exploração e de um serviço da dívida que – num quadro de recessão económica prolongada em que o país se encontra – para além de inaceitável se revelará impagável.
4. O PCP sublinha que, contrariando as tentativas da parte do governo PSD/CDS de iludir os portugueses, quanto ao significado destas decisões, na verdade, aquilo que este se prepara para concretizar nos próximos meses, com o apoio do PS, é o conjunto de medidas previstas no acordo com a UE/FMI: a facilitação e embaratecimento dos despedimentos; ataque aos salários e pensões; o roubo no 13º mês; agravamento dos preços da energia, dos medicamentos e dos transportes; privatização de empresas e sectores públicos estratégicos; transferência directa de milhões de euros do Estado para a banca. Isto é, o aprofundamento da acumulação e concentração de capital por parte dos grupos económicos e financeiros e a garantia dos interesses dos credores, à custa das condições de vida do povo e da própria actividade económica.
5. O PCP não pode deixar de sublinhar o quanto revelador é, sobre quem efectivamente manda na União Europeia e os interesses que esta serve, o facto desta Reunião Extraordinária de Chefes de Estado e de Governo da Zona Euro ter sido precedida de um encontro prévio entre Merkel e Sarkozy e de nele terem também formalmente participado os representantes do capital financeiro e dos grandes bancos da União Europeia. Em conformidade, a decisão do Fundo Europeu de Estabilização Financeira poder comprar directamente dívida dos Estados, no chamado mercado secundário, traduzir-se-á, na prática, na transferência de dívida pública detida pela banca para o sector público, isto é, para as costas dos povos da Europa.
Igualmente grave são os novos passos dados no sentido da criação de autênticos protectorados no seio da União Europeia e de novas formas de colonização económica. A transferência para estruturas supranacionais da possibilidade de gestão directa dos fundos estruturais da União Europeia atribuídos à Grécia, representam uma inaceitável e perigosa ingerência.
6. O PCP reafirma que a actual situação é inseparável da natureza do capitalismo, do processo de integração capitalista na União Europeia e no Euro – para cujas consequências o PCP sucessivamente alertou - e que o enquadramento da situação em que se realizou esta Reunião da Zona Euro é a prova inequívoca de que o processo de concentração e centralização de poder económico e político desencadeado em nome do combate à crise, as políticas contidas na “governação económica” e no “Pacto para o Euro mais” e os chamados pacotes de resgate financeiro não só não resolveram qualquer dos problemas económicos e financeiros no espaço da Zona Euro, como os aprofundaram vertiginosamente. As suas terríveis consequências estão bem à vista e não se limitam aos países alvo da ingerência externa, confirmando o carácter sistémico desta crise e que é indissociável do aprofundamento da crise estrutural do capitalismo.
7. Independentemente da análise detalhada das medidas tomadas nesta reunião, o que sobressai e se evidencia, é a incapacidade estrutural de responder à crise e de superar as contradições em aprofundamento. A natureza e as opções que presidem mais uma vez à forma como a União Europeia reage à crise, são elas próprias – como o PCP repetidamente afirmou – sementes de novas e mais profundas crises.
Por mais que o governo português e as potências da União Europeia queiram esconder, a resposta aos gravíssimos problemas exige o fim da liberalização dos movimentos de capitais, dos paraísos fiscais e o efectivo combate à especulação; a baixa da taxa de referência do BCE; o fim dos mercados secundários e dos seus títulos especulativos ; a alteração dos objectivos e funcionamento do BCE; a substituição do Pacto de Estabilidade por um programa de emprego e desenvolvimento económico; a abordagem corajosa e responsável sobre o futuro do Euro e da UEM; uma profunda revisão da política económica da União Europeia visando a resolução de problemas comuns a vários estados apostando no desenvolvimento dos seus sistemas produtivos, numa rápida e sólida estratégia para a criação de emprego e aumento do poder de compra dos trabalhadores e dos povos.
Apelando à intensificação da luta dos trabalhadores e o povo português, o PCP reitera que a real solução para actual crise reside num questionamento do actual rumo e Tratados da União Europeia e numa total inversão das políticas económicas e sociais. O PCP entende que o caminho de uma efectiva renegociação da dívida pública, da recusa das medidas contidas no programa de agressão e intervenção externa, da defesa dos direitos dos trabalhadores e do povo português e da valorização da produção nacional, é aquele que, no quadro de uma política patriótica e de esquerda, constitui a única alternativa para evitar o desastre e afirmar uma via soberana de desenvolvimento e progresso social.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Intervenção de Honório Novo na Assembleia de República

PCP denuncia a transferência dos prejuízos da banca para o bolso dos trabalhadores e do Povo


Senhora Presidente
Senhoras e Senhores Deputados

Quero juntar a voz do PCP à indignação do País contra o colossal aumento do preço dos transportes públicos, (média de 15%), que o Governo anunciou.
Esta é mais uma das medidas previstas no Memorando da Troika que os senhores do Governo e os senhores do PS esconderam do Povo e do País durante a campanha eleitoral.
Centenas de milhares vão agora defrontar-se com a violência inaceitável destes aumentos brutais. Há trabalhadores que podem mesmo não ter dinheiro para pagar transportes e ir trabalhar. Centenas de milhares de portugueses vão agora começar a confrontar-se com as consequências reais das malfeitorias que PS, PSD e CDS negociaram e acertaram com a troika para submeter o nosso País e os seus trabalhadores.
Desenganem-se, porém, o Governo e os partidos da Troika porque um dia destes, como dizia o Poeta pode ser que o “Povo queira um mundo novo a sério”!
Senhora Presidente
Senhores Deputados
O Governo PSD/CDS brindou o País com dois exemplos claros de má gestão e delapidação de dinheiros públicos.
Invocando o Memorando da Troika, o Governo aprescindiu dos direitos especiais que o Estado detinha na GALP, na EDP e na PT, dando “uma borla” à custa dos contribuintes, (nas palavras de Campos e Cunha), aos accionistas privados destas empresas.
O valor económico das acções douradas não é o seu valor facial. Longe disso. O valor real destas acções pode ser estimado em muitos milhões de euros, tem a ver com o poder de influenciar a gestão empresarial que lhes é atribuída. Quando essas empresas foram privatizadas, elas foram vendidas abaixo do preço de mercado por causa dos direitos especiais do Estado. Por isso, no momento em que, por mera opção ideológica, o Governo decide prescindir desse poder, o mínimo que se exigia era defender o interesse público, isto é, o Governo só deveria prescindir dos seus direitos se os accionistas pagassem o verdadeiro valor económico das acções douradas.
Como dizia há dias Octávio Teixeira, esta operação constitui um verdadeiro crime económico contra os interesses do nosso País!
O segundo acto de má gestão e delapidação do património tem a ver com a privatização do BPN, ontem concluída.
Conhecem-se as responsabilidades do Governo PS que decidiu intervir no BPN e deixar de fora um vasto património do grupo SLN/BPN que deveria ter servido para evitar que a factura da acção mafiosa do “bando do BPN” penalizasse os portugueses e o País. Por isso o PCP votou contra a “nacionalização das acções representativas do capital social do BPN”, no que aliás foi apenas acompanhado pelos Verdes.
Mas não foi necessário esperar pela Troika – nem pelo seu memorando - para se perceber o que o então Governo PS mais o PSD e o CDS queriam afinal fazer com o BPN.
A estratégia comum foi sempre clara: transferir para o Estado as consequências das fraudes e crimes de gestores, banqueiros e outros amigos que ao longo de anos se aproveitaram do BPN e voltar depois a entregar o banco limpo a um qualquer grupo privado. A ideia síntese dos partidos da troika, era, (e é), muito simples: nacionalizar os prejuízos, privatizar os lucros!
Primeiro o Governo do PS lançou um concurso para a privatização, que ficou deserto porque que o preço (180m€) e as condições não satisfaziam os apetites privados. Queriam o banco mais limpo e ainda mais barato! Para isso o Governo PS criou três veículos com o “lixo” do BPN, com um valor facial de 3900m€ dos quais 1800m€ incobráveis. Estes até já estão nas contas de 2010, agravando o défice em 1,0% do PIB, aí se juntando aos prejuízos no BPP, 450 m€, 0,3% do PIB.
Agora é o Governo da direita a seguir as pisadas do anterior, a tentar vender o BPN de qualquer forma e maneira, sem qualquer preço base, se necessário retalhado às fatias, uns balcões para um lado, outros para outro, uns créditos para aquele, parte dos trabalhadores para um outro e, claro, mais umas largas centenas de trabalhadores no desemprego.
O valor dos prejuízos que o País já pagou pelo BPN é de 1800 milhões a que se devem somar os 600m€ de aumento de capital que ontem foi exigido por um concorrente. Só que a procissão ainda vai no adro e é possível que o valor final suba bem acima dos 5000 milhões se atendermos às garantias que o Estado continua a dar à Caixa para emprestar ao BPN e agora também às empresas criadas para receber o seu lixo.
Por isso não surpreendem as fugas de informação que anunciam um Orçamento Rectificativo que contemple este e outros apoios à banca e ao sector financeiro.
Nada disto preocupa os partidos da troika. Longe vão os tempos em que Paulo Portas, Assunção Cristas ou Hugo Velosa exigiam saber os prejuízos que o País vai pagar com a falsa nacionalização do BPN.
O BPN tem 1600 trabalhadores e mais de 230 balcões. Recuperado, com marca nova e gestão própria, o BPN podia relançar-se e obter as rentabilidades normais da área financeira. O BPN devia ser um novo banco público vocacionado para áreas específicas, com potencial para poder pagar ao Estado – a todos nós - os prejuízos que os partidos da troika transferiram e querem continuar a transferir para o bolso dos portugueses.
Por isso nos opomos à privatização do BPN.
Por isso voltamos a denunciar hoje mais este acto de delapidação do património e de transferência dos prejuízos privados da banca para o bolso dos trabalhadores e do Povo.
Disse.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Intervenção de Agostinho Lopes na Assembleia de República

PCP propõe a Renegociação da Dívida Pública e o Desenvolvimento da produção Nacional


Sra. Presidente
Sras. e Srs. Deputados

A 5 de Abril de 2011, vésperas do pedido do Governo PS de intervenção externa, o PCP avançou com a proposta da renegociação da dívida pública. Uma resposta patriótica e de esquerda ao rumo de desastre nacional que estava a ser imposto.
Opondo-se, PS, PSD e CDS escancaram as portas a uma intervenção externa do FMI, do BCE e da CE. Um programa ilegítimo de submissão e agressão ao povo e ao país, que o novo Governo PSD/CDS, com a colaboração do PS, quer concretizar. E ir mais além…
Como há muito denunciamos o endividamento do país é a consequência mais visível da política de desastre nacional que PS, PSD e CDS impuseram nos últimos 35 anos. Um endividamento líquido público e privado, que assume hoje uma colossal dimensão! Consequência da desindustrialização, do abandono da agricultura e pescas, de privatizações, da financeirização da economia, da submissão às imposições da UE e do grande capital nacional e estrangeiro.
Um processo que se acentuou de forma exponencial por via da adesão ao euro e a gestão orçamental segundo o PEC!
Consequência da transferência para o Estado, que depois transferiu para os portugueses, dos prejuízos do sector financeiro, ler BPN e C.ia! A que se segue há um ano, a criminosa espiral especulativa, que par da austeridade dos PEC nos conduziram a uma dramática situação social e económica.
Uma dívida que não decorre de um povo “a viver acima das suas possibilidades”, ou por causa de uma anónima classe política, ou pior ainda, por idiossincrasias do povo. Mas por causa de políticas e opções políticas do PS, PSD e CDS e dos seus governos num processo de aprofundamento da dependência externa e de subordinação aos grupos do grande capital. Uma dívida que tem uma componente opaca e ilegítima que necessita de ser apurada, para se determinar a efectiva responsabilidade do Estado português.
A NECESSÁRIA RENEGOCIAÇÃO DA DÍVIDA
O caminho da renegociação da dívida pública não é uma solução fácil, nem pode constituir uma medida isolada. Mas deve ser encetada com urgência, por iniciativa do Estado Português.
Alguns eixos que consideramos essenciais.
A prévia avaliação completa e rigorosa da dívida. Um serviço da dívida compatível com o crescimento económico. A salvaguarda dos pequenos aforradores. A reconsideração do empréstimo do FMI/BCE/CE.
Uma forte iniciativa negocial e diplomática junto de outros países visando uma acção convergente e solidária na resolução dos problemas comuns.
Uma política activa de “renacionalização” e de diversificação externa do financiamento.
A consolidação das finanças públicas concretizada pelo lado das Despesas e das Receitas.
O aumento da produção, contendo e substituindo importações por produtos nacionais e fazendo crescer as exportações.
UM PACTO DE AGRESSÃO
A alternativa à renegociação é o programa de submissão e agressão externa da Troika. Ou seja a garantia do dramático agravamento dos problemas do País, mais recessão, falência de milhares de PME, mais desemprego, mais pobreza e atraso económico e social.
Um programa que é um escândalo pelo seu destino – o sector financeiro - e pelos 30 mM € de juros a pagar. Pelo aumento da exploração dos trabalhadores e aumento generalizado de impostos e dos preços. Pelos cortes na saúde, educação e segurança social, pelos cortes nos investimentos públicos. Pelas privatizações. Porque é insustentável, não resolvendo a própria questão da dívida pública. Mas que abrirá portas para novas medidas de austeridade, de que já é exemplo o roubo do subsídio de Natal!
Um programa que viola a independência e soberania nacionais, que acentuará a dependência e fragilidades estruturais do País. Que em confronto com a Constituição da República, atinge o regime democrático português.
Um programa semelhante ao que foi aplicado na Grécia e na Irlanda – autêntica recolonização - com as consequências que conhecemos.
E um programa inútil. Como na Grécia, na Irlanda, não travou o agravamento vertiginoso da especulação financeira. O lixo das agências de rating. A cacofonia europeia! A insuportável pesporrência e prepotência imperial da Srª Merkel e c.ia!
AS EXPLICAÇÕES E JUSTIFICAÇÕES DOS “EUROPEÍSTAS”
Políticos e ideólogos neoliberais, da social-democracia aos conservadores, – em Portugal gente do PS, PSD e CDS e a lista é longa! - são diariamente confrontados com a brutal realidade da integração europeia e do euro (a pedra sobre a qual Guterres ia construir a sua Europa) no quadro da crise do sistema capitalista. Confronto, que põe a nu/desmascara toda a propaganda, todas as fraudes e mentiras que ao longo de 25 anos foram impingidas sobre uma União Europeia de “coesão económica, social e territorial” de “solidariedade entre os Estados-Membros” (ainda hoje inscrita nos tratados). É assim necessário ensaiar velhas e novas explicações e justificações e inventar soluções miraculosas para a dramática situação que Portugal e outros países da periferia europeia enfrentam!
Explicações e justificações com que entramos no reino dos mitos. O mito dos pais fundadores da CEE/União Europeia, a dos líderes inspirados (não se sabe se por alguma luz divina) que se lhes seguiram. O tempo do paraíso comunitário, em que o feroz leão convivia com o manso cordeiro (não sabem alguns, ainda hoje, de que se alimentava o leão!), onde não havia “egoísmos nacionais”! Os “grandes e desinteressados” líderes, que guiados pelo ideal de uma Europa unida e solidária, conseguiram o facto notável de mais do que duplicar o nº de Estados-Membros no alargamento a Leste, reduzindo o Orçamento Comunitário!
E perante uma gestão da crise das dívidas soberanas conduzida pelos interesses do capital financeiro europeu e do Directório, onde prevalecem os interesses do capital alemão, perante a profunda crise da Zona Euro, desdobram-se em lamentações sobre a escassez de líderes e a fartura de egoísmo. E inventam soluções mirabolantes e bombásticas, que em geral escondem a proposta e escolha pura e dura de um Super-Estado federal, o projecto que os povos da Europa acabaram por derrotar, negando uma pretensa “constituição europeia”! Projecto que aliás, mesmo transfigurado de Tratado dito de Lisboa, dotado de avanços significativos de federalismo, para lá do aprofundamento do neoliberalismo e militarismo, não acrescentou uma vírgula à prevenção e resposta à profunda crise que atravessamos!
É assim que aparece um novo “New Deal” subscrito por M Soares e J Sampaio. E nasce “Uma visão clara para o Euro”, um novo Plano Delors e C.ia (González, Prodi e Vitorino). E até o PR Cavaco Silva, veio no sábado fazer o apelo platónico à desvalorização do euro (para favorecer a competitividade das exportações europeias), esquecido que esteve de se manifestar contra a também recente subida da taxa de juro pelo BCE! Tudo para confortar a possível consolidação da tese de um Ministro das Finanças Europeu, embrião de um pretendido futuro governo económico europeu.
Tudo tem acontecido desde há cerca de ano a esta parte, na União Europeia e na Zona Euro, com a desestabilização económica, social e política de Estados-Membros soberanos como a Grécia, a Irlanda e Portugal perante a chantagem e agiotagem dos chamados mercados financeiros e agências de rating, e a participação activa dos membros do Directório das grandes potências, com a Alemanha à cabeça. E se depois de tudo isto, há ainda alguém que julga que a solução passa pelo reforço do comando político e económico do Directório, via soluções federalistas, como não é possível admitir ingenuidade ou boa fé, tal desígnio, só pode ser classificado como cumplicidade com políticas que ofendem a dignidade e direitos de milhões de cidadãos da Europa.
Não há mais margem para ambiguidades e dúvidas. Portugal, seguindo as orientações comunitárias teve o PEC 1, o PEC 2, o PEC 3, transformado em OE/2011, o nado-morto PEC IV, a intervenção externa do FMI, BCE e CE, o dito Memorando da Troika, recauchutado em versão agravada em Programa do XIX Governo Constitucional. Cada um desses Programas visava acalmar os mercados financeiros! Cada cedência abria-lhes o apetite e subia a parada da chantagem. E a União Europeia a ver… E após o último, o Programa do Governo, com o acrescento de última hora, em antecipação aos desejos dos mercados, de um preventivo imposto sobre os trabalhadores e os pensionistas, para escândalo de tanta gente, acabamos no “lixo” de uma agência de rating. E oh escândalo, oh indignação, oh repúdio dos que há umas semanas/meses diziam ser necessário respeitar os mercados… Mas “Pode alguém ser quem não é?” Consumatum est? Não! Até à próxima!
Um dia destes, alguém comentando estas coisas, do euro e da reestruturação da dívida, no Diário Económico, sob o título “Razões radicais”, referindo o PCP, escrevia direito por linhas tortas: “Porque razão acontece tantas vezes que o discurso da esquerda mais radical acaba por ter razão antes do tempo?” E concluía: “Será que daqui por uns tempos, vamos ouvir os economistas de direita reconhecer que isso é inevitável?”.
Quem politicamente não tiver preconceitos, terá de olhar para o percurso dos posicionamentos do PCP sobre estes assuntos, e no mínimo concluir, pela coerência, consistência e aderência à realidade do seu discurso. Sobre a adesão à CEE. Sobre os sectores produtivos nacionais. Sobre a moeda única/Euro. Sobre o endividamento do País.
Razões fortes para uma reflexão séria sobre o Projecto de Resolução que hoje trazemos a debate “Pela renegociação da dívida pública e pelo desenvolvimento da produção nacional”!
Disse.

terça-feira, 19 de julho de 2011

CONCURSO PECUÁRIO DA RAÇA BOVINA AROUQUESA


PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS
Comissão Concelhia de Baião

AO POVO DE BAIÃO

Num esforço conjunto das Juntas de freguesia de Ovil e Loivos do Monte, realizou-se no passado dia 16 do corrente mês um Concurso Pecuário, promovendo a raça bovina arouquesa e que teve a presença de algumas dezenas de agricultores, não só do Concelho de Baião mas de concelhos vizinhos, os quais, remando contra ventos e marés, ainda tiveram a coragem para se deslocar a este certame, procurando manter de pé uma das áreas mais importantes da nossa Agricultura: a criação de gado e a defesa das raças autóctones.
Louvamos esta iniciativa que vem de encontro àquilo que há muitos anos vimos afirmando: a Agricultura pode e deve ser apoiada pelo poder central e local, contrariamente ao que tem acontecido, pois só assim se contribui para a riqueza nacional, diminuindo importações, ao mesmo tempo que se incentiva o trabalho nos campos, hoje ao abandono, se promove o meio ambiente e se dignifica a vida rural, procurando cativar gente nova para este sector, tal como a pesca e a indústria, essenciais à nossa independência económica, especialmente em tempos de crise como agora vivemos. 
Não deixa de ser uma atitude hipócrita, ouvir hoje o Sr. Presidente da República dizer que nos devemos virar para o mar ou que devemos importar menos produtos agrícolas, quando sabemos que foi nos seus mandatos como Primeiro Ministro, onde as políticas de destruição da frota pesqueira, da nossa agricultura e da indústria tiveram lugar.
Se pensarmos, por exemplo, que nos dias de hoje existem em Portugal 220 mil agricultores a receber subsídios para não trabalharem a terra, temos uma ideia daquilo que os sucessivos governos têm feito contra a agricultura, não só a mando de Bruxelas, mas também por actuação própria, entregando nas mãos do grande capital e das multinacionais do comércio e da importação o sector agro alimentar.
E no entanto há muitos agricultores a querer e saber produzir, mas também sabem que hoje, quando semeiam, estão a perder dinheiro, pois as sementes, as rações e os combustíveis estão mais caros e ao escoarem os seus produtos recebem menos e muitas vezes nem os conseguem escoar, pois tudo ou quase tudo é importado, mesmo sabendo nós que temos os melhores azeites, vinhos, queijos, leite, fruta, batata, milho, trigo, produtos que até ganham no estrangeiro prémios de qualidade e por cá é confrangedor ver tanta terra a monte e cheia de silvados, servindo de pasto para o fogo, aldeias desertificadas e crescentes assimetrias entre o litoral e o interior, causando enormes dificuldades e desigualdades sociais. Veio dinheiro da União Europeia, mas para que serviu? Quem beneficiou? Só nos últimos 30 anos desapareceram mais de 500 mil explorações e a superfície agrícola diminuiu de centenas de milhar de hectares, ao mesmo tempo que os efectivos animais também baixaram nos ovinos, caprinos e suínos, os apoios do PRODER para instalação de jovens agricultores foram suspensos e a reforma da famigerada PAC parou.
Também na agricultura é preciso um novo rumo e uma nova política agrícola que respeite e apoie a agricultura familiar, os pequenos e médios agricultores e proteja os Baldios para benefício da população e do País, mas essa política não será possível com os mesmos que trouxeram a crise.


PCP/Baião, Julho de 2011

PCP – EM DEFESA DA PRODUÇÃO NACIONAL

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Conferência de Imprensa, Jorge Pires, da Comissão Política do PCP , em Lisboa

Não à privatização e à comercialização dos cuidados de saúde!



A pressão da política de direita sobre o Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem sido uma constante desde a sua criação em 1979 assumindo novos desenvolvimentos nas últimas semanas com a multiplicação de artigos, comentários e intervenções públicas por parte de muitos daqueles que, ansiosos por mudanças profundas neste sector, não poupam esforços no sentido de pôr em causa o serviço público de saúde.
O objectivo é muito claro: privatizar e comercializar os cuidados de saúde.
Ignorando deliberadamente os resultados obtidos em saúde ao longo dos trinta e dois anos de existência do SNS, medidos a partir de indicadores como o aumento da esperança de vida e taxas de mortalidade, a campanha procura acelerar e aprofundar o processo de privatização em curso de acordo com as orientações expressas nos programas da troika e do Governo, de transferir do Estado, o tal sujeito “demasiado gordo”, para os grupos privados da saúde, uma parte significativa da prestação de cuidados.
Mas é preciso destacar que a OCDE considerou que a despesa pública em saúde não tem grandes desperdícios e que será difícil ser muito mais eficiente. Considerou ainda que para os ganhos em saúde da população, os gastos até nem dispararam.
No essencial, o que defendem os arautos do primado do privado não é que o Estado gaste menos em saúde, mas que o Estado transfira para os grupos privados a prestação de cuidados garantindo os clientes e assumindo o pagamento dos custos. Ou seja, que o Estado fique com a promoção e o financiamento, o que tem custos, e os grupos privados com a prestação de cuidados, o que dá lucro.
Estamos a falar de um sector, o da saúde que, de acordo com a Conta Satélite da Saúde movimenta mais de 17.000 milhões de euros, sendo que uma parte significativa deste valor é gerado na actividade do SNS. É aqui que reside a explicação para a campanha hostil a que tem sido sujeito o SNS ao longo dos anos.
Esta pressão vinda dos grupos monopolistas e dos seus propagandistas é acompanhada pela sistemática intervenção do Presidente da República na defesa de algumas das medidas enunciadas no programa do Governo para o sector da saúde. Intervenção que não difere nos seus objectivos das responsabilidades que assumiu quando o seu governo, em 1995, deu o primeiro grande passo na privatização e comercialização dos cuidados de saúde, com a decisão de entregar a gestão do Hospital Amadora/Sintra ao grupo Mello.
No essencial as suas intervenções centram-se em medidas que, em nossa opinião, são claramente inconstitucionais, o que não é aceitável vindo de quem jurou defender a Constituição da República Portuguesa.
O texto constitucional define de forma muito clara e precisa o papel do Estado na garantia do acesso à saúde de todos os portugueses em equidade, não numa perspectiva assistencialista, mas como um direito de facto e dá ao Serviço Nacional de Saúde, universal, geral e tendencialmente gratuito, o estatuto de instrumento para a concretização desse direito.
Medidas como o pagamento dos actos clínicos indexado aos rendimentos do agregado familiar que por mais que procurem esconder é uma forma de co-pagamento, ou um “plano de prestações garantidas” que põem claramente em causa a condição e a matriz constitucional do SNS, são, para além de socialmente injustas, inconstitucionais.
Há muito tempo que os grupos financeiros que consideram a saúde uma “área de negócio em expansão”, vêm defendendo uma partilha com o Estado para a implementação de um sistema de saúde a duas velocidades. Por um lado, um serviço público para os mais pobres, com poucos recursos e uma natureza caritativa que garanta um pacote mínimo de cuidados de saúde e, por outro, uma estrutura assente nos grupos económicos, com financiamento do Estado e complementado com seguros de saúde vendidos por empresas dos mesmos grupos financeiros que vão prestar os cuidados. Este segundo garantindo cuidados de melhor qualidade para os agregados familiares com maiores rendimentos.
A tese de que sairá mais barato ao Estado é falsa!
A privatização e o crescimento do papel e da influência do capital no sistema de saúde têm-se saldado pelo crescimento da despesa pública e dos custos pagos directamente pelos bolsos dos doentes, como acontece em Portugal. Os grupos monopolistas favorecidos pela política de direita dizem apostar na saúde como área de negócio, mas o alvo dos seus investimentos não é na saúde! É a doença o centro da sua actividade e a fonte dos seus lucros.
Dizem os defensores da privatização dos cuidados de saúde que o privado faz melhor e com menos custos. Nada mais falso!
Em saúde, mercado, livre escolha e liberalismo são iguais a ineficiência, falta de qualidade e risco. Se dúvidas ainda possam subsistir, tomemos como exemplo a privatização da gestão do Amadora/Sintra que se traduziu num enorme prejuízo para o Estado, os custos com as Parcerias Público Privado onde o privado não corre riscos pois o Estado financia e garante os clientes e os operacionais dos hospitais onde as grandes derrapagens acontecem, sobretudo no alargamento das convenções, nos medicamentos e na prestação de serviços por privados e não nos custos com pessoal.
A saúde, actualmente reconhecida como um factor interno ao próprio desenvolvimento económico e social é, por outro lado, em larga medida, resultado do impacto das opções de política económica e social prosseguida.
São os mesmos, os responsáveis pelas políticas de direita que têm conduzido o país e os portugueses para uma situação de desastre económico e social, que vêem agora exigir medidas no campo da saúde ainda mais penalizadoras para as famílias de menores rendimentos.
Considerando o investimento em saúde lido em percentagem do PIB, Portugal encontra-se no meio da tabela entre o conjunto de países da OCDE; já relativamente aos custos para as famílias, Portugal está entre os três países da União Europeia onde esse valor é maior. De acordo com a Conta Satélite da Saúde de 2008 as famílias portuguesas já pagavam em média 1206,6 euros/ano, sendo que a estimativa para 2010 é de 1366 euros. Estamos a falar de cerca de 30% do total das despesas em saúde, para além do que já pagam nos seus impostos. Esta situação é tanto mais injusta, quando se sabe que 49 % dos agregados familiares em Portugal tinham em 2009 um rendimento médio mensal bruto que vai até 849 euros.
Nem tudo está bem no SNS. É um facto.
A falta de médicos de família para centenas de milhar de portugueses, a degradação e o encerramento de instalações e serviços de proximidade, as taxas ditas moderadoras, os custos com os medicamentos e as intermináveis listas de espera para uma consulta da especialidade ou uma cirurgia, tornam-se ainda mais insuportáveis quando largas camadas da população sobrevivem atoladas no pântano da pobreza e das desigualdades.
A crise em que o país está mergulhado não é uma inevitabilidade. Na saúde, como para os outros sectores existe uma política alternativa.
A solução não é privatizar, condicionando dessa forma ainda mais o acesso de milhões de portugueses aos cuidados de saúde.
A solução passa por promover a sustentabilidade, reorganização e financiamento adequado do SNS, desenvolvendo plenamente as suas potencialidades através do total aproveitamento da capacidade instalada e do reforço dos recursos técnicos e humanos garantindo elevados níveis de qualidade.
A solução passa por pôr um ponto final na promiscuidade entre os sectores público e privado com total separação entre eles.
A solução passa por nos libertarmos dos interesses das grandes multinacionais do medicamento, tomando medidas que tenham em consideração a importância estratégica e de soberania de uma verdadeira política do medicamento.
A solução passa por garantir médico de família a todos os portugueses e o acesso à consulta no dia, acabando com as inaceitáveis listas de espera para além dos tempos regulamentados.
A solução passa, num momento em que a esmagadora maioria das famílias estão mais fragilizadas nos seus rendimentos, por reduzir os custos para os utentes cumprindo o preceito constitucional de um SNS tendencialmente gratuito.