sexta-feira, 17 de agosto de 2012


                      Entradas de leão e saídas de sendeiro



Assentando arraiais no nosso País, através do acordo celebrado com PS, PSD e CDS, a troika internacional, pela boca dos respetivos técnicos, desde sempre nos tem habituado a tecer rasgados elogios ao governo português pela forma como tem executado fielmente os mandamentos e ainda pelo desplante e falta de respeito pela população como sempre pensou e decidiu ir mais além.  

Aos elogios de fora responde o discurso interno na mesma linha e salientando com falsidade não existir outro caminho nem tão pouco propostas alternativas ao programa em curso que, como todos bem sabemos, nos está a empobrecer, a causar miséria na população e colocar em causa a nossa soberania, pois estas «fanfarronadas» não encontram no dia a dia dos portugueses qualquer semelhança com a realidade, bem pelo contrário, a receita conduz o doente não para a cura, mas para o agravamento da doença e a sua morte prematura.

E senão vejamos: pelos dados disponíveis ao comum dos mortais, mesmo não possuindo diploma conseguido em três penadas, o desemprego aumentou em vez de diminuir e as receitas fiscais diminuíram em vez de subir; a dívida pública aumentou, situando-se nos 190 mil milhões de euros, representando 111,7% do produto interno bruto (PIB) e colocando o nosso País na terceira posição mais elevada de endividamento na União Europeia, logo a seguir à Grécia e à Itália; o défice, ai Jesus deste e dos anteriores governos e à sombra do qual tudo devia ser sacrificado, vai ser excedido em larga escala, com os portugueses a sofrer na pele o resultado; a economia não cresce, mantendo-se em compasso de espera; o saque das parcerias público privadas ao erário público, a manutenção das mordomias aos antigos detentores de cargos públicos e, em muitos casos, a sua «passagem» para o sector privado com ordenados escandalosos, continuam e depois dizem que não há dinheiro para a Saúde, Educação, Transportes, Segurança Social; a Banca não apoia as pequenas e médias empresas, apesar de ser a grande beneficiária dos dinheiros da Europa connosco; todos estes factores e outros, tais como, a estagnação das pescas, agricultura e boa parte da industria, representam a realidade do nosso País nos dias de hoje e, mesmo assim, sendo considerados como a aluno bem comportado da União Europeia, porque carga de água é que não conseguimos chegar com o pé à pegada e pelo menos melhorarmos a nossa prestação? Ou não somos o tal bom aluno e existem alternativas a estas políticas, ou estamos a ser alvo duma colossal mentira externa e interna.

Pode, porém, acontecer que ambas as alternativas sejam verdadeiras, o que parece ser o pensamento mais avisado e, nesse sentido, a única solução é arrepiar caminho urgentemente, pois amanhã pode ser tarde.

Nesse sentido e já que nem com o Presidente da República podemos contar, face ao seu alheamento ou alinhamento com a situação atual e o seu esquecimento da Constituição, somente nos resta mandarmos «lixar» o governo e o seu líder que, preocupado com as eleições mentiu antes delas ao prometer o que sabia não ia cumprir, mente agora sobre a estado da Nação, ao afirmar que estamos no bom caminho, alinhado com a troika internacional, e continuará a mentir até ao fim.

Acabaram as entradas de leão, pois as saídas de sendeiro estão a conduzir-nos por becos sem saída, demonstrativos do total falhanço das medidas de fora a que as de dentro ainda aceleram mais a queda no abismo.   

Manuel Vilas Boas