1. Com o início do novo ano, estão a ser
concretizados vários aumentos de preços de alguns bens e serviços
essenciais, desde os transportes públicos às portagens, do pão às rendas
da habitação, do serviço postal às comissões bancárias, entre outros.
Para o PCP, estes aumentos de preços de bens e serviços essenciais
constituem motivo de preocupação dado o seu peso significativo nos
orçamentos familiares. Vale a pena lembrar que quase dois terços das
despesas familiares são com habitação, transportes e alimentação.
Os aumentos que se estão a verificar limitam o impacto da melhoria
mais significativa das condições de vida da população que, pela
intervenção do PCP e pela luta dos trabalhadores e das populações, foram
conquistadas nos dois últimos anos.
2. Como o PCP tem alertado repetidamente, o Governo
PS continua a optar por não libertar o País dos constrangimentos
impostos pela UE e o grande capital que atingem as condições de vida de
grande parte da população.
São disso exemplo a grave situação de serviços públicos essenciais,
como na saúde, renovando as Parcerias Público Privadas, apesar do
desastre que constituíram as anteriores, mantendo limites à contratação
de médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar, ou rejeitando a proposta do
PCP de isenção de taxas moderadoras, designadamente para doentes
crónicos; nos transportes públicos, a dramática degradação sentida
diariamente pelas populações, em particular nas áreas metropolitanas,
incluindo ao nível das condições de segurança do material circulante, ao
mesmo tempo que aumentam os preços da sua utilização; ainda nos
serviços públicos, tem significado a recusa por parte do governo de
proceder à recuperação do controlo público dos CTT, quando se assiste a
um processo de destruição da empresa, em que o grupo económico e
financeiro que a controla aumentou exponencialmente as tarifas mas
piorou drasticamente o serviço e delapida património, preparando-se para
encerrar dezenas de postos de atendimento e despedir um milhar de
trabalhadores.
Em relação aos custos com a energia, o PCP chama a atenção para o
facto de em 2017 o Governo não ter cumprido a Lei do Orçamento do
Estado (OE) no que concerne à redução do preço do gás de botija, bem
como uma posterior Resolução da Assembleia da República no mesmo
sentido, apresentada pelo PCP. Impõe-se avançar com medidas concretas
que permitam reduzir o preço do GPL, quer sob a forma de gás de botija
quer canalizado, com a instituição de um regime de preços máximos.
Igualmente, é possível e necessário baixar o preço do gás natural,
concretizando o que foi aprovado no OE para 2018, por proposta do PCP.
O PCP tem sistematicamente confrontado o governo com a necessidade da
redução dos custos com a energia eléctrica para os consumidores. A
proposta da ERSE da Tarifa de Baixa Tensão para 2018, com a redução de
0,2% é um elemento que resulta também da luta persistente do PCP. Por
outro lado para aqueles que estão no mercado liberalizado, a EDP
anunciou um aumento de 2,5%. Além da critica que nos merece este
aumento, sublinhe-se que, por iniciativa do PCP, foi aprovada a medida
que permite a todos os utentes regressarem ao mercado regulado,
prevenindo assim serem afectados pelo aumento dos preços.
É necessário e possível ir mais longe. Necessário porque a baixa do
custo da energia eléctrica, além da contribuição para a melhoria do
rendimento líquido dos portugueses, é oxigénio na dinamização da
economia nacional!
É possível, porque há muito por onde cortar nos avultados lucros da
EDP, da REN e de outras electroprodutoras. Integrando nos cortes as
verbas ilegalmente obtidas nos CMEC (Contratos de Manutenção de
Equilíbrio Contratual), vulgo rendas, transpondo para as eléctricas os
custos do Défice Tarifário, fazendo a REN suportar os custos de novas
redes, eliminando os custos da Garantia de Potência. A reversão do
aumento da taxa de IVA que o Governo do PSD/CDS colocou a 23% também não
pode ser esquecida.
3. Não é possível avaliar as consequências destes
aumentos ignorando a política de décadas em que sucessivos governos
privatizaram sectores da nossa economia e do serviço público
entregando-os aos grandes grupos económicos e financeiros. Assim como
não podem ser entendidos à margem da política de liquidação de direitos e
aumento da exploração do Governo PSD/CDS-PP e muito menos ignorando que
estes aumentos conduzirão à acumulação dos lucros de algumas grandes
empresas, sem que tenha havido sequer subida dos seus custos
operacionais.
Apesar de todas as limitações existentes e com as quais urge romper,
teria sido possível, fossem outras as opções do governo, impedir o
aumento de 2,5% do custo dos transportes públicos, alargar a regulação
dos preços a todo o sector eléctrico e impor uma baixa global à custa
dos lucros das empresas, travar novas subidas nos custos dos serviços
bancários, congelar uma parte significativa dos custos dos serviços
públicos prestados, tal como foi feito, por iniciativa do PCP, com as
propinas do Ensino Superior.
4. Como o PCP tem vindo a sublinhar, Portugal
precisa é de uma outra política, uma política patriótica e de esquerda,
que rompa com a matriz que há décadas é responsável pela estagnação do
rendimento dos trabalhadores e dos pensionistas e reformados, que
restringe o mercado interno e é também responsável pelas dificuldades de
milhares de micro pequenas e médias empresas.
É necessária outra política que rompa com a política de direita,
responda aos problemas estruturais do País, reduza o desequilíbrio na
distribuição do rendimento, contribua efectivamente para o bem-estar dos
trabalhadores e do povo e concretize as medidas e possibilidades
abertas com a actual correlação de forças na Assembleia da República.