O problema dos juros da dívida
No Orçamento de Estado para 2013 está previsto
o montante de cerca de 7 mil milhões de euros para pagamento de juros da dívida
soberana, verba esta equivalente a 4,3% do PIB nacional português.
A professora Margrit Kennedy, que
normalmente escreve no «sítio» Occupy
Money, diz-nos na edição de 2012 saída há poucos dias o seguinte,
referindo-se aos Estados Unidos: uns espantosos 35% a 40% de tudo que compramos
vai para juros, os quais seguem a caminho de banqueiros, financeiros e
detentores de títulos, facto este que ajuda a explicar e ilustra bem como a
riqueza é sistematicamente transferida do comum dos mortais para a Wall Street, ou seja, os ricos ficam
progressivamente mais ricos à custa dos pobres, não pela «ganância» da praça
financeira, mas sim por causa da matemática inexorável do nosso sistema
bancário privado.
Diz ainda a professora Margrit, que esta
situação poderá constituir uma surpresa para grande parte das pessoas e muitas
delas pensam até que, se pagarem os seus cartões de crédito a tempo e não
contraírem empréstimos, não estarão a pagar juros, o que não é de todo verdade.
Comerciantes, grossistas, retalhistas e
fornecedores, todos eles, ao longo da cadeia de produção, dependem do crédito
para pagamento das suas contas, na medida em que antecipadamente pagam pelo
trabalho e pelos materiais com que obtêm o produto para venda, o qual será
comprado pelo consumidor final e pago a 90 dias, razão pela qual acrescentam
juros aos custos de produção que serão transferidos para o consumidor.
No seu País natal a Alemanha, a
professora Margrit menciona encargos de juros rondando os 12% para a recolha do
lixo, para a água de beber 38% e para o arrendamento da habitação 77%, cálculos
estes efetuados na investigação do economista Helmut Creutz, através de
publicações do próprio Bundesbank e
referentes a despesas de famílias alemãs em bens e serviços de uso diário
durante o ano de 2006, salientando, no entanto, que números semelhantes podem
encontrar-se nos lucros do sector financeiro dos Estados Unidos no mesmo ano.
Conclui ainda que ativos de bancos,
lucros financeiros, juros e dívida, têm estado a crescer exponencialmente,
salientando que o crescimento exponencial dos lucros do sector financeiro se
verifica à custa dos sectores não financeiros, onde o rendimento cresceu
linearmente, na melhor das hipóteses.
Em 2010, 10% da população possuía 42% da
riqueza financeira, enquanto que 80% dessa mesma população possuía apenas 5%,
significando isto que os 80% pagam os encargos dos juros ocultos que os outros
arrecadam e consequentemente o juro torna-se um imposto com carater recessivo
que os mais pobres pagam aos mais ricos, inexorável e continuamente, razão pela
qual o crescimento exponencial é insustentável.
Esta situação usurária e exploradora só
poderia ter um fim com a nacionalização da banca, ou seja, o Estado controlar
todo o sistema para evitar a financeirização da economia e eliminar os juros ou
reverte-los.
Em termos globais, 40% dos bancos são de
propriedade pública e concentram-se em países que escaparam à crise bancária
iniciada em 2008 e esses países, os chamados BRIC, Brasil, Rússia, India e
China, cresceram economicamente 92% na última década, ao passo que as economias
ocidentais continuam a afundar-se.
Foi por esta e outras razões, que a
União Europeia esteve em protesto, abrangendo essencialmente países como
Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia, Bélgica, e Luxemburgo, protesto que
no nosso País tomou a forma de Greve Geral, uma das maiores e mais participadas
de sempre, deixando aos dirigentes a mensagem dum rotundo «Não» às políticas de
exploração desenfreada e ao Pacto de Agressão e exigindo a mudança para um novo
rumo de crescimento económico e desenvolvimento.
Manuel Vilas Boas, membro da C.C. de Baião do PCP
Sem comentários:
Enviar um comentário