segunda-feira, 22 de junho de 2015

A síndrome do alívio

                                              
O presidente de alguns portugueses, assim qualificado pelo seu alinhamento constante com as políticas do atual governo que deixam largas franjas do povo português no limiar da pobreza e o País no descalabro económico, parece começar os preparativos de fim de mandato que não deixa saudades.
Quando primeiro-ministro desmantelou e destruiu a indústria pesqueira, a agricultura e a indústria pesada e já como presidente foi pródigo nos apelos de regresso ao mar e ao campo, ele, que por alguns é considerado uma sumidade na área económica, tal e qual como outros também foram intitulados como melhores gestores mundiais de empresas públicas portuguesas com os resultados sobejamente conhecidos, não teve qualquer dúvida em declarar que nunca tem dúvidas e raramente se engana e, certamente nesse pressuposto, declarou o BES como instituição bancária segura, deixando os «lesados» em situação precária que tem motivado constantes manifestações de desagrado.
Na sua recente visita à Roménia, declarou aos jornalistas que «todos os países da União Europeia estão preocupados com a situação grega», realidade, aliás, bem visível quando ouvimos os responsáveis da área económica na Europa e nos Estados Unidos, mas «em Portugal os efeitos podem ser contidos», certamente a pensar no discurso da ministra das finanças sobre os cofres cheios que contribuirão para solucionar o problema.
Também por altura da sua visita à Bulgária já se tinha referido à situação na Grécia, usando doutorais considerações e rompendo assim com o comportamento eticamente devido a um País estrangeiro, comportamento esse que, aliás, pratica em relação aos acontecimentos no seu próprio País sobre os quais se abstém de comentar habitualmente, se está fora.
Porém, o momento mais comovedor desta viagem terá acontecido ao pisar solo búlgaro e, quando interpelado pela televisão, ter confessado sentir-se aliviado, o que desde logo poderia estar relacionado com uma viagem acidentada causadora de fortes enjoos ou cólicas, mas não, não fora essa a razão do alívio que se relacionava, isso sim, com o conhecimento que tivera, entretanto, da tão desejada privatização da TAP pela qual tinha rezado a Deus para a livrar de maus caminhos, privatização efetuada como é de geral conhecimento em condições tais que, mesmo no partido do Sr. Presidente, causou mal estar e dando a noção duma «libertação» a qualquer preço. Não ficaria completa esta resenha sem uma referência às cerimónias do 10 de Junho que não contaram com as instituições representativas dos militares, mas contaram com um discurso presidencial denotando completo alinhamento com as medidas do governo e ainda com as habituais condecorações às personalidades do País de Camões por relevantes serviços prestados, com especial incidência sobre a condecoração atribuída ao costureiro da primeira dama que a todos deixou profundamente emocionados, tal a profundidade do cometimento.
Regressando ao País real, constatamos o agravamento da situação social e económica, perspetivando-se mais privatizações a retalho. A dívida pública portuguesa ultrapassa já os 130% do PIB e nos últimos quatro anos emigraram 485 mil portugueses, o que constituirá seguramente mais um motivo de alívio para o presidente de alguns portugueses, o qual mais dia menos dia nos presenteará com nova mirabolante narrativa sobre a ínclita geração de governantes que nos transformaram a vida num inferno.

É lícito considerar que o trabalho deve proporcionar a eliminação da pobreza, no entanto e para já tal objetivo não está no horizonte de um milhão de portugueses.  

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