segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Os meandros da nossa alimentação

                                            
A Marine Harvest é uma empresa com ligações em vários países do mundo, tendo como principal actividade a produção, processamento e comercialização de salmão de viveiro, cujas operações estão centradas na Noruega, Escócia, Canadá, as Ilhas Faroé, a Irlanda e Chile. O grupo tem uma participação entre 25% e 30% no mercado global de salmão e truta, sendo considerado o maior do mundo no sector e cotado na Bolsa.
O salmão de viveiro, por exemplo, na Noruega, é criado numa quinta especial cuja estrutura é feita de armações em aço que deixam passar a água sem oferecer resistência e podem absorver o impacto de ondas até sete metros de altura, sem importunar os peixes ou colocar em risco a estabilidade física do próprio empreendimento, situa-se em pleno Mar do Norte, a pouca distância da costa norueguesa de Stanvanger, dedica-se à cultura de salmão e constitui a aposta de uma empresa da Noruega na produção de peixe em escala industrial para consumo humano.
As crises alimentares dos últimos anos, doença das vacas loucas, dioxinas, febre aftosa, orientaram os cidadãos para o consumo de outras proteínas animais. O peixe constitui a alternativa mais óbvia e plausível, admitindo-se mesmo que seja a proteína por excelência do terceiro milénio, aliás os profissionais da Saúde até aconselham o consumo de salmão, truta, cavala e sardinha. Os efeitos estão à vista traduzidos num aumento mundial da procura de peixe, que já é na ordem dos três por cento ao ano e o problema maior é que a exploração de espécies piscícolas está a esgotar os recursos dos oceanos com o negócio da aquacultura, já disseminado por inúmeras quintas nomeadamente ao longo das costas norueguesa e chilena, poluindo as águas e afectando os empreendimentos turísticos.
As quintas de exploração podem albergar até 100 mil salmões cada uma, engordados durante 14 a 16 meses da sua estadia e passando dos 70 gramas iniciais para um peso adulto de 4,5 quilos, pois são alimentados cerca de 20 vezes por dia, ou seja, um belo negócio para a empresa Marine Harvest, mas, dando crédito à revista científica Nature, um enorme perigo para a saúde do consumidor e para a existência de outras espécies de peixes que alimentam os salmões à pressão e tendem à extinção.
Mas de que forma a aquacultura modifica a composição nutricional do salmão? Vale sequer a pena comprar o salmão de aquacultura ao sabermos que ele está muito mais confinado em termos de espaço e é alimentado com cartuchos de proteína, inevitavelmente mais gordos?
Várias análises demonstraram que o salmão de aquacultura tem uma menor concentração de ómega 3 em comparação com o salmão selvagem, mas sabemos também que o salmão de aquacultura vem com uma quantidade muito elevada e não saudável de outras gorduras, incluindo o ómega 6, mas também de outros ingredientes, tais como, dioxinas, PCBs, associados a problemas cancerígenos, retardantes de combustão, pesticidas, especialmente para os parasitas, antibióticos, sulfato de cobre, para eliminar as algas das redes, e canthaxantin corante associado a danos na retina, usado para colorir de vermelho vivo as versões cinzentas de peixe da aquacultura.
Na semana passada, a televisão pública através da antena 3, honrou o jornalismo de investigação e cumpriu o seu estatuto de serviço à comunidade, embora envergonhadamente, pois fê-lo de madrugada propiciando menos audiência, mas mesmo assim conseguindo mostrar claramente, uma imagem vale mais que mil palavras, a negociata das quintas de salmão que depois vai aparecer nos balcões das grandes superfícies para satisfação do consumidor, convencido da sua qualidade e benefício para a saúde pública.
A alimentação, nas mãos de gente sem escrúpulos que só olha para os proventos, tende cada vez mais a tornar-se não um factor de bem-estar físico e mental, mas na correia de transmissão de doenças, algumas sem cura possível, situação que nos coloca na obrigação de sermos cada vez mais criteriosos na escolha dos produtos, quantas vezes ignorar a publicidade enganosa e sobretudo procurar os produtos da nossa lavra que os temos bons e de excelente qualidade, na nossa terra e no nosso mar, assim contribuindo para a nossa saúde, o desenvolvimento económico, a promoção da agricultura e pescas.


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