sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP

Abertura da Festa do «Avante!»



Jerónimo de Sousa, na abertura da 35ª Festa do “Avante!”, saudou os milhares de homens, mulheres e jovens participantes nas jornadas de trabalho militante de uma Festa que se realiza no momento em que o Governo desencadeia e aplica medidas que se sucedem em avalanche contra os trabalhadores, as populações e todas as classes e camadas antimonopolistas.
A todos saudamos pela presença na 35ª edição da nossa Festa, edificada a pulso por muitos milhares de participantes nas jornadas de trabalho militante. A pulso mas com uma alegria imensa de homens, mulheres e jovens livres de pensamento mas animados por valores solidários, por um ideal que dá expressão ao sonho avançado da sociedade que projectamos e pretendemos construir para o nosso país e o nosso povo.
Festa incomparável, distintiva na forma como é erguida neste reencontro da política com a arte, a cultura, o desporto, com as regiões, com a gastronomia, o convívio fraterno, com a juventude, que sendo uma festa dos comunistas é uma festa do povo, que sendo uma festa solidária haveria de ser e será uma festa de solidariedade internacionalista com os trabalhadores e os povos que resistem e lutam. Honra-nos muito que meia centena de delegações internacionais estejam presentes na nossa Festa do «Avante!».
Esta Festa tem uma outra dimensão, um carácter e um valor acrescido quando nos confrontamos com uma dura realidade nacional, com uma situação vincada pela violenta ofensiva política, económica, social e cultural e contra a soberania nacional, quando a toque de caixa da troika estrangeira e do seu programa de agressão e submissão, o Governo PSD/CDS acolitado pelo PS desencadeia e aplica medidas que se sucedem em avalanche contra os trabalhadores, as populações e todas as classes e camadas antimonopolistas.
Festa de homens, mulheres e jovens de um partido que se contagiam por uma corrente de confiança e que não se submetem à ideologia das inevitabilidades com que massacram os ouvidos dos portugueses todos os dias difundidas à vez, ora pelos centros e agências de informação, ora pelos governantes, ora por essas picaretas falantes, comentadores ao seu serviço.
Há momentos em que é preciso dizer não! Dissemos não ao programa de agressão e rejeição imposto pela troika estrangeira, acordado e executado pelo trio PS, PSD e CDS. Nem lá fomos dar o aval a uma troika sem legitimidade, que já tinha o seu pacote pronto como comida mastigada. Dizemos não, não por teimosia mas com base numa análise objectiva, com a certeza que a não ser travado tal Programa, as injustiças sociais, o desemprego e a pobreza atingirão cada vez mais portugueses, a recessão económica, agravar-se-á e o país andará para trás. Assim foi, assim está a ser! Os seus mentores e executantes tinham tanta consciência disso que já lançam a ideia que afinal este calvário de sacrifícios e de austeridade não é só até 2013. Será para 2013, 2014, 2015 e depois logo se vê.
Aos que nos querem vender os sacrifícios como inevitáveis, aos que nos dizem que isto é mau mas é necessário, nós dizemos: estamos mal agora para ficar pior mais adiante. O corte no subsídio de natal, o congelamento dos salários e das pensões, o aumento dos impostos, o aumento do desemprego, a falência de quase 3 mil empresas nestes primeiros 6 meses do ano e a recessão económica são a prova provada que não estamos a sair da crise mas a assistir ao seu agravamento.
O Governo PSD/CDS não faz o que faz por sadismo. Faz porque está na sua natureza, na sua ideologia, na sua identificação com a troika estrangeira e com os interesses dos poderosos ainda por cima com as costas quentes pelo colaboracionismo do PS.
Os exemplos do chamado programa de emergência social ou do “passe social +” põem de forma mais crua a ideologia do Governo em que se procura substituir o Estado com preocupações sociais pelo estado assistencialista. Primeiro criam a pobreza e aumentam o número de pobres, depois a partir do estado de pobreza avançam com medidas parcelares, recuperação do conceito da “sopa do Sidónio”, do medicamento fora do prazo que sendo para pobre não interessa a consequência, mesmo nas cantinas de refeição para pobres dispensa-se a fiscalização da ASAE (é para pobre não interessam as condições de saúde e higiene).
No “Passe Social +”, para o rendimento das famílias não contam os filhos! E só falta qualquer dia meterem uma braçadeira de cor negra no pobre, uma amarela nos que correm o risco de o ser, ou um chip para definir quem tem direito a esmola.
A solidariedade para com os mais pobres e mais vulneráveis é uma valor humano! Mas os pobres que agradecem essa solidariedade têm como anseio das suas vidas deixarem de ser pobres e serem tratados como cidadãos com dignidade, com emprego, com salários e com direitos!
Em nome da crise, ou do Programa da troika, PSD e CDS levarão o mais longe possível a sua política de afundamento do país, farão da vida de muitos portugueses um inferno e depois quem vier atrás que feche a porta.
Não nos conformamos. Não aceitamos o quanto pior melhor. Há um caminho alternativo. Há uma política alternativa, patriótica e de esquerda, renegociando a dívida em que estamos atolados, defendendo e modernizando o nosso aparelho produtivo e aumentando a nossa produção nacional, respeitando e valorizando os salários e os direitos dos trabalhadores, parando com as privatizações, com os privilégios e os benefícios para a banca e os grupos económicos e apoiando antes as micro, pequenas e médias empresas, onde residem mais de 80% dos empregos no país e afirmar a nossa soberania nacional. Sim, sabemos que é um caminho que está por construir. Uma construção que é possível com acção, com luta concreta e convergente.
Os detentores do poder, do privilégio e das fortunas colossais acharão que isto é uma heresia. Mas essa imensa maioria de milhões de portugueses que estão a ver o seu país a sangrar em vida, atingidos e sufocados por mais cortes, mais sacrifícios, menos direitos no trabalho, menos salário, menos reforma, menos saúde, menos educação – que já questionam porquê, para quê e para quem estes sacrifícios, quando partindo dos seus próprios problemas e aspirações ganharam a consciência que pode haver e há saída, uma política e um rumo diferentes, partindo da luta concreta para a luta convergente – então sim, é possível libertarmo-nos do jugo das inevitabilidades e alcançar uma vida melhor.
E, se todos os que são vítimas desta política e deste programa de agressão e submissão são necessários a essa luta, permitam-me uma palavra à juventude e às novas gerações. Àqueles que nasceram pouco tempo antes ou depois de Abril.
Novas gerações que cresceram entendendo a liberdade e a democracia tão naturais como o ar que respiram.
Novas gerações que a política de direita tem condenado à mais brutal exploração com a desvalorização do trabalho e que vê, de forma sistemática, os seus parcos salários serem puxados para baixo sob o efeito da enorme precariedade e do elevado desemprego juvenil, hoje com uma taxa de 27%.
Novas gerações que esta política condena também a uma vida dependente e com acrescidas dificuldades em começar e manter a sua própria vida e família.
Novas gerações que vão ver agravados todos os seus problemas com o programa do governo e da troika, não apenas no domínio do trabalho, mas também nos da educação e do ensino, e na habitação.
Novas gerações que serão as primeiras vítimas do plano de ataque global aos direitos laborais dos trabalhadores portugueses e que o actual governo de Passos e Portas acaba de relançar com a apresentação da proposta de lei dos despedimentos.
Os direitos sociais no capitalismo nunca são perenes. Ganham-se e perdem-se. Nunca são dádivas e muito menos legados doutras gerações. Conquistam-se e defendem-se pela luta dos próprios em cada época concreta.
Às novas gerações está colocada a questão de saber se aceitam uma política que lhes nega o futuro ou se se assumem com força transformadora, lado a lado com outras gerações, como obreiros das suas vidas e da sua felicidade. A vossa luta não é delegável mas pode e deve ser convergente.
Dia 1 de Outubro, na grande jornada nacional convocada pela CGTP-IN, a presença e voz das novas gerações será força de exemplo e garantia que a luta continua.
Aqui estamos com todas as inquietações e preocupações que resultam da situação em que vivemos, aliadas a esta determinação e confiança que nos caracteriza, confiança em que o Partido é chamado às mais altas responsabilidades e aos seus compromissos com os trabalhadores e o povo português. Partido que nesta época que vivemos honra a sua história e o seu percurso. Partido que precisa de ser mais forte, mais influente e preparado para todos os combates que aí estão e se avizinham. Um partido que edifica esta Festa dá-nos confiança e até coragem para fazer frente ao que aí vem!
Vamos a isto camaradas!

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