«O sistema de crédito público, ou seja, das dívidas do Estado, cujas
origens descobrimos em Génova e Veneza já na Idade Média, tomou posse da Europa
toda durante o período da manufactura.
O sistema colonial, com o seu comércio marítimo e as suas guerras
comerciais, serviu-lhe de estufa e deste modo, fixou-se primeiramente na
Holanda. A dívida do Estado, isto é, a alienação do Estado, tanto despótico
como constitucional ou republicano, marcou com o seu selo a era capitalista.
A única parte da chamada riqueza nacional que realmente está na posse
coletiva dos povos modernos é a sua dívida de Estado e daí, muito
consequentemente, a doutrina moderna de que um povo se torna tanto mais rico
quanto mais profundamente se endividar. O crédito público torna-se credo do
capital e com o surgir do endividamento de Estado, vai para o lugar do pecado
contra o Espírito Santo, para o qual não há qualquer perdão, a blasfémia contra
a dívida pública.
Os Estados europeus disputaram-se a patente desta invenção e, uma vez
entrados ao serviço do realizador de mais-valia, extorquiram para esse efeito,
o próprio povo, indirectamente através de direitos proteccionistas,
directamente através de prémios de exportação, etc. Nos países vizinhos
dependentes, toda a indústria foi violentamente surripiada, como, por exemplo,
a manufactura da lã irlandesa pela Inglaterra. No continente europeu, segundo o
exemplo de Colbert, o processo foi ainda mais simplificado, pois o capital
original do industrial emanou aí em parte directamente do Tesouro do Estado».
Assim pensou e escreveu Marx, de cuja obra aqui fica um pequeno extrato
que bem poderíamos extrapolar para os dias de hoje, dada a sua atualidade, mas
também na medida em que o sistema ideológico preconizado por este autor e
filósofo alemão revolucionário, ao criticar o capitalismo, proclama a
emancipação da humanidade numa sociedade sem classes, sem exploração, de
justiça social e desenvolvimento económico, em que a riqueza seja distribuída
por todos.
Torna-se, pois, no mínimo surpreendente, que o atual líder do partido
socialista apareça na televisão com ar desolado!? a afirmar que, à sua esquerda
ideológica consequente, não existe vontade de qualquer aliança. No entanto, o
facto relevante, com o decorrer dos tempos, é conhecermos qual o campo sempre
preferencial onde os socialistas encontram os seus aliados para as políticas de
direita que nos levaram à crise que querem agora perpetuar, apesar do repúdio
da população portuguesa. Onde existe afinal a dificuldade das alianças à
esquerda?
Sem comentários:
Enviar um comentário