sexta-feira, 24 de julho de 2015

A impossibilidade das alianças à esquerda

                       
«O sistema de crédito público, ou seja, das dívidas do Estado, cujas origens descobrimos em Génova e Veneza já na Idade Média, tomou posse da Europa toda durante o período da manufactura.
O sistema colonial, com o seu comércio marítimo e as suas guerras comerciais, serviu-lhe de estufa e deste modo, fixou-se primeiramente na Holanda. A dívida do Estado, isto é, a alienação do Estado, tanto despótico como constitucional ou republicano, marcou com o seu selo a era capitalista.
A única parte da chamada riqueza nacional que realmente está na posse coletiva dos povos modernos é a sua dívida de Estado e daí, muito consequentemente, a doutrina moderna de que um povo se torna tanto mais rico quanto mais profundamente se endividar. O crédito público torna-se credo do capital e com o surgir do endividamento de Estado, vai para o lugar do pecado contra o Espírito Santo, para o qual não há qualquer perdão, a blasfémia contra a dívida pública.
Os Estados europeus disputaram-se a patente desta invenção e, uma vez entrados ao serviço do realizador de mais-valia, extorquiram para esse efeito, o próprio povo, indirectamente através de direitos proteccionistas, directamente através de prémios de exportação, etc. Nos países vizinhos dependentes, toda a indústria foi violentamente surripiada, como, por exemplo, a manufactura da lã irlandesa pela Inglaterra. No continente europeu, segundo o exemplo de Colbert, o processo foi ainda mais simplificado, pois o capital original do industrial emanou aí em parte directamente do Tesouro do Estado».
Assim pensou e escreveu Marx, de cuja obra aqui fica um pequeno extrato que bem poderíamos extrapolar para os dias de hoje, dada a sua atualidade, mas também na medida em que o sistema ideológico preconizado por este autor e filósofo alemão revolucionário, ao criticar o capitalismo, proclama a emancipação da humanidade numa sociedade sem classes, sem exploração, de justiça social e desenvolvimento económico, em que a riqueza seja distribuída por todos.

Torna-se, pois, no mínimo surpreendente, que o atual líder do partido socialista apareça na televisão com ar desolado!? a afirmar que, à sua esquerda ideológica consequente, não existe vontade de qualquer aliança. No entanto, o facto relevante, com o decorrer dos tempos, é conhecermos qual o campo sempre preferencial onde os socialistas encontram os seus aliados para as políticas de direita que nos levaram à crise que querem agora perpetuar, apesar do repúdio da população portuguesa. Onde existe afinal a dificuldade das alianças à esquerda?

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