quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Um parto difícil

                                             
Em termos médicos é usual utilizar-se o termo distorcia para designar dificuldades encontradas na evolução de um trabalho de parto, tornando essa função difícil, impossível ou perigosa. Em sentido figurado, quando verificamos a existência de impedimentos inusitados ou acções de bloqueio, obstaculizando o prosseguimento e a finalização conseguida de um determinado objectivo, costumamos desabafar aplicando a frase «foi um parto difícil».
Aos últimos acontecimentos políticos no nosso País pode bem atribuir-se esta figura alegórica, pois, passados que foram cinquenta dias sobre as eleições legislativas de 4 de Outubro, finalmente viu a luz do dia a consequência política e institucional da vontade do povo português manifestada nessas eleições.
Após a derrota eleitoral de PSD e CDS e a rejeição do programa do governo da coligação em 10 de Novembro na Assembleia da República, foi finalmente removido o respectivo executivo governamental, tomando posse de seguida o 21º Governo Constitucional como não podia deixar de ser.
Consumou-se assim a derrota final e definitiva da coligação PSD/CDS pondo fim ao deliberado arrastamento com que o Presidente da República procurou impedir e dificultar a concretização de uma solução governativa de acordo com a nova relação de forças políticas na Assembleia da República.
Regista-se e critica-se o processo iniciado com a comunicação do mais alto magistrado da Nação em 23 de Outubro, em si mesma contrária à Constituição e ao respeito pelas regras democráticas exigíveis ao seu cargo, que cinquenta dias depois indica e não indigita António Costa como primeiro-ministro e põe termo à crise que ele próprio criou em desrespeito da vontade da Assembleia da República e dos deveres constitucionais. Fê-lo, deve ser sublinhado e não ocultado, com manifesta contrariedade pelos pressupostos e pelos termos usados e conhecidos de todos, perante uma solução que até ao último momento tentou impedir, demonstrando uma hostilidade patológica inadmissível.
Mesmo no discurso do acto de posse do novo governo não hesitou na aposta do confronto directo com o agora primeiro-ministro ao afirmar que não abdica de nenhum dos poderes que possui, incluindo a demissão do governo, que tem dúvidas quanto à solidez dos acordos celebrados com o PCP, BE e PEV, que somente deu posse por não poder institucionalmente dissolver a Assembleia da República e por manifesta inviabilidade dum governo de gestão.
A realidade é que ao presidente está vedado dissolver o Parlamento e convocar novas eleições até porque a Assembleia da República não pode ser dissolvida nos primeiros seis meses de novo mandato. No entanto, possui outros poderes intocáveis, tais como, demitir o primeiro-ministro e exigir outro governo com a mesma composição do Parlamento, vetar leis e usar da palavra dirigida ao Parlamento ou ao País durante os quatro meses que lhe restam de mandato que não deixa saudades. Como resposta, o novo primeiro-ministro afirmou que o seu governo tem garantias de durabilidade dadas pelos seus parceiros à esquerda e que responde apenas perante a Assembleia da República, ou seja, temos por parte do mais alto magistrado da Nação um claro exemplo do que não deve ser a postura presidencial, ao preferir o afrontamento e ao desrespeitar o conteúdo da nossa Constituição que lhe compete cumprir e fazer cumprir.

Esta situação convoca-nos para assegurarmos nas próximas eleições presidenciais a eleição dum candidato que impeça o percurso de comprometimento com a política de direita e de confronto com a Constituição da República que PSD e CDS já preparam com o apoio ao seu candidato. 

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