A eleição do novo inquilino da
Casa Branca, de seu nome Donald Trump, tem gerado um vastíssimo rol de
comentários «urbi et orbi», demonstrativos de grande preocupação e inquietação,
levando, inclusive, o Boletim dos Cientistas Atómicos a mudar o icónico relógio
do Dia do Juízo Final «Doomsday Clock» para dois minutos e meio antes da
meia-noite, na previsão duma catástrofe global.
A personalidade do Presidente
norte-americano apresenta, de facto, algumas características bem diferentes do
seu antecessor, prenunciando um estilo governativo que promete causar alguma
perplexidade, nomeadamente na área climática, na nuclear, na dos direitos
humanos e na do relacionamento com os outros países, globalmente falando.
Desde logo o caso da
construção do muro em toda a fronteira entre os Estados Unidos e o México,
«obra» a ser paga pelos mexicanos através da imposição de taxas à importação de
produtos oriundos desse País ibero-americano, cujo Presidente já repudiou tal
medida.
Mas os mesmos críticos de
agora sobre este muro, alguma vez levantaram a voz contra a construção do muro
levantado pelos israelitas para isolamento dos palestinianos e os muros criados
para suster a enorme onda de refugiados, fugidos das guerras causadas pelo
imperialismo na Somália, no Iémen, no Iraque, na Líbia, no Afeganistão e na
Síria?
Estas barreiras espalham-se
por todo o velho continente, entre a Grécia, a Turquia, a Macedónia, a
Eslovénia e a Croácia, a Hungria, nos seus vários limites fronteiriços, nos
enclaves espanhóis em África e até em França, no acesso à linha ferroviária do
Eurotunel que conduz ao Reino Unido.
Mas não fica por aqui o Presidente
norte-americano, pois já se pronunciou sobre a NATO, considerando-a uma despesa
inadmissível, sobre a política expansionista do seu antecessor a obrigar a
presença militar em vários teatros de guerra e mesmo sobre as sanções impostas
à Rússia, bloqueando as trocas comerciais.
A Rússia nunca foi totalmente
bem-vinda na ordem mundial ocidental e, por essa razão, também se tornou
marginalizada para participar nela em condições iguais, daí que o Presidente Putin
tenha procurado criar a sua própria ordem internacional.
Assim sendo, por que razão não
deveria Trump tentar a aproximação com Putin? Os ucranianos fizeram campanha
por Hillary Clinton, acreditando que ela iria salvaguardar os seus interesses
como, aliás, aconteceu com a ajuda na criação dum governo pró-nazi na Ucrânia,
sendo, portanto, razoável que Putin se aproximasse de Trump, que expressara
repetidamente admiração pela sua liderança, em vez de Hillary Clinton que o
comparou a Adolf Hitler.
Não esqueçamos que, apenas
alguns dias antes de deixar a Casa Branca, Barack Obama decidiu não desperdiçar
a oportunidade para fortalecer o destacamento de tropas americanas na América
do Sul, projectando a construção duma nova base militar no Peru e já
anteriormente milhares de soldados estado unidenses, acompanhados por centenas
de blindados, se deslocaram para a Polónia.
Por outro lado, o Ministro dos
Negócios Estrangeiros alemão, Sr. Steinmeier, talvez o próximo líder da
Alemanha, declarou há dias que, com Trump, a velha ordem mundial do Século XX
acabou para sempre, ou seja, esta ilustre gente chora de facto o fim da ordem
liberal mundial e acompanha o choro com uma gigantesca operação de ilusionismo
e hipocrisia, para fazer crer que as tragédias e sofrimento que o capitalismo
mundial seguramente trouxe e trará aos povos, seja quem for o presidente
norte-americano, serão culpa apenas do inquilino de turno na Casa Branca, mas
não, pois as instituições de suporte do sistema continuam a sua acção, mesmo
quando os seus chefes são apanhados em corrupção e falcatruas, pois acabam
sempre ilibados de culpas por uma Justiça burocrática, ineficaz e carente de
meios humanos e materiais para exercer cabalmente a respectiva função, ou seja,
ao empobrecimento forçado dos povos contrapõe-se a vida faustosa e perdulária
de alguns, por exemplo, a dos oito bilionários que possuem tanta riqueza como a
metade mais pobre da população mundial.
É este, sem dúvida, o
verdadeiro problema mundial: as desigualdades sociais.
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