domingo, 26 de maio de 2013

Eufemisticamente falando

Vocábulo até há pouco tempo desconhecido da maioria dos portugueses e ao governo até convinha que assim fosse, eis que saltam para a ribalta os agora designados swaps para enegrecerem ainda mais a atuação do executivo governamental, que, pelos vistos, não acerta uma.
Traduzido para português este termo significa simplesmente troca ou permuta, mas apareceu para denominar contratos de alto risco destinados a proteger empréstimos ou financiamentos, face à variação da taxa de juro.
Teoricamente, estes contratos até poderiam constituir um benefício para os que a eles recorressem, se não estivessem dependentes de derivados financeiros especulativos, como a cotação do petróleo, por exemplo.
À frente destas operações especulativas encontram-se, sem surpresa, bancos como o Goldman Sachs, o JP Morgan, o Deutsche Bank e o BNP Paribas, os quais venderam estes produtos a empresas públicas portuguesas, entre outras, à Metro de Lisboa, à Carris, à Metro do Porto e à STCP, e elas aceitaram adquirir, negócio que no momento presente se cifra em perdas de cerca de 3 mil milhões de euros e está a escandalizar a opinião pública, a tal ponto de, à falta de melhor, dois secretários de Estado terem apresentado a demissão por legitimarem esta verdadeira negociata especulativa.
Para além do impacte negativo que esta situação representa em termos financeiros, não é de somenos a sua repercussão em termos políticos, numa altura particularmente grave da nossa vida coletiva, pois estão postas em causa a legitimidade dos que aceitaram as negociatas, como também a atitude dos executores das mesmas, situação ainda não suficientemente esclarecida e suscetível de legitimamente criar a dúvida sobre se a gestão das empresas ligadas ao sector público não estará no cerne das suas dificuldades, para justificar a sua entrega de bandeja ao sector privado.
O problema deverá passar pela barra do tribunal, até porque a Sr.ª secretária de Estado do Tesouro, alijando responsabilidades, culpa o anterior executivo por esta escandalosa situação, mas não refere como tudo começou e irá terminar.
Trata-se, no entanto, de mais um «eloquente» processo de gestão governamental merecedor de total reprovação e uma prova insofismável do trilho seguido de financeirização da nossa economia e submissão à ditadura dos chamados mercados que nos está a levar para a ruína.
Mesmo assim, o primeiro-ministro, na sua alocução ao País , voltou a insistir e a apelar ao consenso para as suas ruinosas políticas, dirigindo-se especialmente ao maior partido da oposição, talvez, apostando na observação de visíveis ambiguidades e permeabilidade do mesmo às «virtudes» da União Europeia da Sr.ª Merkel ou aproveitando o discurso do secretário geral de apelo a maioria absoluta em próximas eleições, que desejamos se realizem o mais breve possível, mas para conseguirmos um governo patriótico e de esquerda, pois o que nos espera é um novo pacote de 6 mil e 500 milhões de euros até 2016, que nos continuará a levar para mais desemprego, miséria e recessão económica.
Estará o maior partido da oposição disponível para este programa, sabendo que os partidos da coligação pouco ou nada abdicarão dele? A população não quer mais do mesmo com outras caras ou coligações com a mesma gente ligada à crise.

Portugal precisa de novo rumo, novas políticas que promovam a justiça social e o desenvolvimento económico, precisa dum novo governo que renegoceie a dívida soberana, pois o «tratamento» para a crise até agora seguido já demonstrou estar errado e continuar a repartir injustamente os seus custos. 

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