sexta-feira, 3 de maio de 2013

Não à destruição do Serviço Nacional de Saúde

Custo diário é de 6,70 euros, mas só quatro horas podem custar 3,90 euros aos utentes
Utentes e autarcas criticam preços cobrados no estacionamento do Hospital Padre Américo
Antes cheio, o parque de estacionamento do Hospital Padre Américo, em Penafiel, é hoje um espaço onde não faltam lugares livres. O porquê é simples de explicar. Desde o passado dia 25 de Março, entrou em vigor o contrato de concessão que permite à empresa Orange Park cobrar até 6,70 euros por 24 horas de ocupação do espaço. E a maioria das pessoas que recorre ao hospital, para visitas, consultas e idas às urgências, opta por deixar o carro na rua ou nos parques de terra contíguos. A situação levanta críticas por parte dos utentes e dos autarcas da região e já levou à aprovação de duas moções, na Assembleia Municipal de Paredes e na Assembleia Municipal de Penafiel, contra os valores “exorbitantes” cobrados pelo estacionamento, até agora gratuito.


Parque das Urgências também é pago
A questão veio a público no final do ano passado. Um contrato de concessão celebrado entre o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa e uma empresa privada, válido por 14 anos, previa a ampliação, execução e exploração do parque de estacionamento do Hospital Padre Américo, que passaria assim a ser pago. Na altura, o conselho de administração do CHTS justificou ao VERDADEIRO OLHAR esta opção com o aumento de segurança que isso trará ao espaço, já que "verifica-se, nos últimos tempos, um aumento de assaltos e danos em viaturas, bem como a existência de 'arrumadores' que pressionam os utentes a dar-lhes dinheiro". Além disso, referiu o hospital, havia um uso abusivo dos lugares de estacionamento, com pessoas a deixar o carro o dia todo no parque mesmo não recorrendo aos serviços de saúde. O hospital garantia também que não haveria cobrança nos espaços destinados aos funcionários e às urgências. Mas, além da concessão dos 465 lugares dos parques A e B (junto à farmácia e à unidade de Psiquiatria), está também a ser alvo de cobrança o parque que serve o serviço de Urgência.
Em contrapartida, este contrato previa também que a concessão permitiria a construção de um edifício chamado "Casa do Pessoal", no valor de um milhão de euros, destinada ao uso dos funcionários, com uma área administrativa; creche, berçário e jardim-de-infância; refeitório; e uma área polivalente que inclui um auditório.
Assembleias Municipais de Paredes e Penafiel contra a cobrança
A cobrança começou no dia 25 de Março e tem gerado críticas.
Na semana passada, os eleitos da Assembleia Municipal de Paredes aprovaram, por unanimidade, uma moção apresentada pela CDU contra os "valores exorbitantes" que estão a ser cobrados aos utentes dos parques de estacionamento do hospital. "Esse pagamento vai onerar a muito difícil situação económica das famílias, utentes e acompanhantes, da região, constituindo assim uma dificuldade adicional, pois em local com inexistentes transportes públicos, em grande parte do dia, o automóvel privado constitui a única alternativa", sustentava o documento. Já esta segunda-feira, um documento semelhante foi aprovado pela Assembleia Municipal de Penafiel (com uma abstenção), manifestando a preocupação com a cobrança instituída, sobretudo quando a concessão foi estabelecida em vésperas da mudança do conselho de administração.

"Estão a colocar uma portagem no acesso aos cuidados de saúde"
O VERDADEIRO OLHAR foi ouvir os autarcas da região e, mais críticos ou menos, todos concordam num ponto: os valores cobrados são demasiado elevados.
Celso Ferreira vai até mais longe. "É inadmissível e vergonhoso cobrar aos utentes e visitantes pelo estacionamento criado para o acesso aos cuidados de saúde e que antes era gratuito", sobretudo quando não há alternativas, sustenta o autarca. "Não devia ser cobrado nem um cêntimo. Aquilo não é um centro comercial e a população não pode ser prejudicada mais uma vez. Como se já não bastassem as SCUT, aquilo que o conselho de administração fez foi colocar uma portagem no acesso ao hospital e aos cuidados de saúde", argumenta o presidente da Câmara de Paredes, que lamenta que a antiga direcção do Hospital Padre Américo tenha tomado esta decisão "gravosa" já em fim de mandato. Celso Ferreira caracteriza este acto de gestão como "injustificado", especialmente porque, "as verbas não se destinam a melhorar os cuidados de saúde prestados pelo hospital".
Em Janeiro deste ano, Pedro Pinto diz ter enviado uma carta ao antigo conselho administração do hospital, pedindo a suspensão da concessão e demonstrando a sua preocupação sobre esta matéria. "Está-se a penalizar os utentes. De acordo com a informação divulgada, não se vislumbra que vá haver melhorias no serviço público de cuidados de saúde pelas receitas angariadas com esta concessão", argumenta o presidente da Câmara de Paços de Ferreira. O autarca lembra que o deficitário sistema de transportes colectivos da região obriga muita gente a recorrer à viatura própria para se deslocar ao hospital e, por isso, critica o valor que está a ser cobrado. Se no parque do Hospital Padre Américo uma hora custa 1,20 euros, nos parcómetros do concelho esse valor é de 0,40 cêntimos, compara. Pedro Pinto espera agora que o novo conselho de administração pode ser mais sensível e renegociar o contrato para "baixar estes valores exorbitantes".
Já o presidente da Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa e da Câmara Municipal de Lousada diz manter a expectativa de que haverá "prudência" por parte da administração do hospital numa altura em que a população é fustigada com pagamentos de impostos e taxas. "Espero que o novo conselho de administração seja mais sensível e que siga um caminho diferente", afirma Jorge Magalhães. Os valores que estão a ser cobrados actualmente são muito elevados, concorda o autarca. "Parece-me que tem que haver ponderação e redução do valor", sustenta. "Mesmo que haja necessidade de existir taxas, o custo não pode ser tão penoso para quem diariamente tem que se deslocar ao serviço de saúde", declarou o presidente da Câmara de Lousada. 
A preocupação da Câmara Municipal de Penafiel com esta questão já levou a uma reunião com o novo conselho de administração, presidido por Carlos Vaz, refere Alberto Santos. "Mostraram-se receptivos e ficaram de reavaliar a questão mas lembraram a existência de um contrato assinado", explica o autarca. O presidente da Câmara penafidelense diz ter conhecimento de que os valores cobrados têm afugentado as pessoas do estacionamento e faz com que deixem o carro na via pública, criando alguns transtornos. A opinião de Alberto Santos é clara: "Achamos que no acesso a um serviço público, como é o caso do hospital, nem sequer deveria haver pagamento. Qualquer preço será excessivo". "Também levantamos a questão sobre os fins para os quais esta concessão foi feita", adianta o autarca. 
Esta sexta-feira, os autarcas da região vão reunir com o conselho de administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa e, entre outros temas, irão abordar esta questão, dando nota do seu descontentamento.  O VERDADEIRO OLHAR tentou obter uma reacção junto d administração do Hospital Padre Américo, que não quis, para já, prestar mais esclarecimentos.

 
Parque custa 6,70 euros ao dia, mas primeiras quatro horas custam 3,90 euros
A taxação do parque está dividida em fracções de 15 minutos, havendo valores diferentes para o dia e a noite. O tarifário afixado mostra que por quatro horas o utente paga 3,90 euros, sendo que o valor desce para 2,80 euros se a ocupação do parque for no período nocturno.
A taxação máxima, para 24 horas de permanência do veículo, é de 6,70 euros, valor já mencionado no contrato de concessão assinado, no ano passado, pelo Centro Hospitalar. Em média, isso corresponderia ao pagamento de 0,30 cêntimos por hora, como foi no início divulgado pela administração do hospital. Mas não é bem assim. Primeiro, tudo depende se precisa de ir ao hospital de dia ou de noite. Depois, tem que saber que nas primeiras horas o valor a pagar será mais elevado.
Durante o dia, se só ficar no parque por 15 minutos, será gratuito, mas se ultrapassar esse tempo pagará 0,40 cêntimos por essa primeira fracção e 0,35 cêntimos pela seguinte (0,75 cêntimos no total). Caso ainda precise de ficar no parque depois desse período, deve acrescentar 0,25 cêntimos a esse valor e, se chegar a ficar uma hora, pagará 1,20 euros. Duas horas custarão 2,30 euros e, para três horas, o valor aumenta para os 3,20 euros.
2,60 euros por duas horas e três minutos
Como mostra o ticket, fizemos o teste. Estacionamos o carro durante duas horas no Parque das Urgências do Hospital Padre Américo para ver o custo que isso acarreta.
Segundo o ticket, entramos às 14h20. O estacionamento estava praticamente vazio, já que a maioria das pessoas deixa os carros nas ruas e parques de terra contíguos. Depois de fazermos esta reportagem dirigimo-nos à máquina para pagar o estacionamento. Tinham passado exactamente duas horas e três minutos. Por isso, pagamos 2,60 euros: 2,30 correspondentes à permanência por duas horas e outros 0,30 cêntimos pelos três minutos usados da fracção seguinte.
Mas grande parte dos utentes, sobretudo das urgências, permanece mais de duas horas no hospital, como provam os testemunhos recolhidos.

 
Utentes queixam-se do preço e optam pela rua
À porta do Hospital Padre Américo até há quem concorde com a ideia da concessão e de cobrança do parque, desde que isso trouxesse benefícios para os cuidados de saúde. Mas a maioria das pessoas que aceitou falar à nossa reportagem critica o facto de o estacionamento de um hospital público, a que as pessoas se deslocam por necessidade e não por escolha, ser pago.
Rolando Pinto, de Lousada, é um deles. "Não devia ser cobrado. Isto não é um parque de estacionamento que se use quando se vem passear. Ninguém deixa o carro aqui e vai fazer coisas de lazer. Vimos por necessidade", defende. Sempre que vem ao Hospital Padre Américo, pelo menos uma vez por mês, para análises de controlo ao sangue, o homem demora cerca de três horas e opta por deixar o carro na rua. "Mas já me avisaram que a GNR tem andado a multar", confessa.
Quem também opta pelos parques de terra ou pelo estacionamento na estrada que circunda o hospital é António Sousa. "Eu quando não tenho lugar neste parque aqui fora, porque agora está sempre tudo cheio, até deixo no parque do Pingo Doce", revela o lousadense. "Eu até acredito que podíamos pagar um euro por dia para usar o parque se estivéssemos a contribuir para termos benefícios na saúde, mas assim é muito dispendioso. Até porque vindo às urgências o normal é passar aqui cinco ou seis horas", frisa o cidadão.
"É muito caro"
"Acho mal pagar estacionamento quando estamos num hospital público, até porque como contribuintes já pagamos os nossos impostos", realça António Alves, de Castelo de Paiva, depois de acabar de estacionar o carro na rua que dá acesso ao hospital. Também cá fora ficou o carro de Cidália Ribeiro. "É muito caro", explica a residente em Lousada. "Mas tenho cá o meu filho nas consultas externas e quando não arranjo lugar cá fora tenho mesmo que pôr o carro no parque. No outro dia paguei 3,70 euros", conta, defendendo que tendo em conta as horas de espera o valor cobrado devia ser mais baixo.
"Venho aqui dia sim, dia não por causa da fisioterapia e tenho uma reforma de 250 euros. Fico aqui pelo menos duas horas. Já via a vida da gente se tivéssemos que pagar. Agora escolhemos o parque cá de fora nem que seja longe", confessa Engrácia da Conceição, de Paredes. "Já pagamos muita coisa para pagarmos mais esta despesa", acrescenta Adriana Ribeiro, de Lousada.
"As pessoas estão aqui um dia inteiro e acho que não se justifica esta cobrança, é um exagero", criticam Manuel Nogueira e Manuel Mesquita, de Amarante, que quando se depararam com um parque pago voltaram atrás e estacionaram fora do hospital. 
Grávida, Sara Coelho, de Paredes, tem que vir ao Hospital Padre Américo com regularidade. "É sempre chato ter que pagar, mas se o dinheiro for para melhorar as condições", argumenta, enquanto põe 1,85 euros na máquina de pagamento por uma hora e meia de utilização do parque.

2 comentários:

  1. A situação não afecta só os munícipes dos concelhos de Penafiel e Padres, mas também os concelhos do baixo Tâmega onde se inclui Baião.
    Como infelizmente este centro hospitalar é frequentado semanalmente por muitas centenas de Baianenses que também são atingidos por mais este atentado ao direito à saúde, é caso para perguntar:
    O Sr. Presidente de Câmara de Baião e restantes Vereadores, assim como a Assembleia Municipal de Baião tomaram alguma posição pública perante mais esta roubalheira descarada?
    Se tomaram, onde é que a mesma se encontra?

    ResponderEliminar
  2. Esta ROUBALHEIRA DESCARADA afecta também os utentes de Amarante; contudo em Amarante o Dr Armindo Abreu que foi o "coveiro" do Hospital de Amarante não mexe uma palha! os Amarantinos (tal como os Baionenses) agora têm que percorrer 30 km, pagar gasolina, portagens exorbitantes, taxas moderadoras caríssimas e agora ainda têm que pagar estacionamento durante as injustificadas horas e horas de espera num hospital onde muitas vezes a qualidade no atendimento é péssima! ISTO É UMA VERGONHA. ACORDEM AMARANTINOS. Este contrato feito pela anterior administração teve como único objetivo favorecer esta Empresa Amiga "sugando" ainda mais o desgraçado do pobre utente!

    ResponderEliminar