quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Divagações presidenciais

     
Incapaz de se sintonizar com a Constituição da República que jurou cumprir e fazer cumprir, mas não conseguindo «disfarçar» as simpatias inerentes à sua condição de militância no PSD, o mais alto magistrado da Nação actual, em fim de mandato, procurou influenciar a opinião pública, ignorando a nova composição da Assembleia da República e depois de ter dito que já tinha ponderado sobre todas as variantes políticas que pudessem surgir após as legislativas.
Caracterizado por uma personalidade narcísica, não se conteve ao afirmar anteriormente que nunca tinha dúvidas e raramente se enganava, resultando daí, talvez, a falta de credibilidade das suas opiniões e, ao mesmo tempo, pouca transparência no caso das acções do BPN, da reforma que não chega para as despesas, das amizades com personagens envolvidas na corrupção, da falta de comparência nas cerimónias do 5 de Outubro como representante máximo da República Portuguesa, alegando que tinha de reflectir sobre a nova situação política, mesmo depois de afirmar que possuía todos os dados ponderados, e da actuação como primeiro-ministro, destruindo a frota pesqueira, a agricultura e a indústria, apelando depois para o regresso ao mar, ao campo e à industrialização.
Todo este comportamento em nome duma política favorecedora do grande capital monopolista e explorador, dos mercados, da destruição do Estado Social, medidas que levaram o País para o declínio social e económico, tornando urgente revertê-las, sob pena de continuarmos cada vez mais dependentes e empobrecidos.
Após conhecimento dos resultados das legislativas e de ter reunido com o actual primeiro-ministro, dirigiu-se ao País passadas duas horas, declarando que «o novo governo a empossar deverá dar aos portugueses garantias firmes de respeitar os compromissos internacionais historicamente assumidas e as grandes opções estratégicas adoptadas pelo País desde a instauração de regimes democráticos e sufragadas nestas eleições pela esmagadora maioria dos cidadãos, é fundamental que seja agora formado um governo estável e duradouro como acontece em todas as democracias europeias», encarregando para tal desiderato o anterior primeiro-ministro, cujas políticas foram rejeitadas pela maioria da população, representada na nova composição do Parlamento. Finda a reunião, logo PSD e CDS acertaram governo, mesmo sem audição dos restantes partidos pelo mais alto magistrado.
Trata-se, sem dúvida, duma também nova concepção de democracia e duma falta de esclarecimento do que se passa por essa Europa fora, onde existem governos para todos os gostos e composições se assim quiserem classificá-los, mas respeitando a vontade da maioria das populações.
Afirmou ainda que encarregou Passos Coelho de desenvolver «as diligências com vista a avaliar possibilidades de constituir uma solução governativa que assegure a estabilidade política e a governabilidade», enfatizando deixar de fora os partidos críticos em relação às actuações da NATO que causaram e causam morte, destruição e agora o drama dos refugiados e para com as políticas monetárias do directório europeu em que o euro penaliza fortemente os países a braços com dívidas soberanas impagáveis, ou seja, ignora a vontade democraticamente expressa pelos portugueses e pressiona o PS para alianças à direita, no sentido de continuarmos a sofrer as consequências desastrosas duma governação exploradora, de flagrantes injustiças e de contínuo empobrecimento.

É notória e sintomática a desenfreada propaganda da direita portuguesa, a qual, com a prestimosa ajuda dos habituais órgãos da comunicação social dita de referência, procura levantar os maiores medos ou receios quanto a mudanças, mas o que é certo é que elas foram sufragadas nas urnas e com toda a razão.  

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