Incapaz de se sintonizar com a Constituição
da República que jurou cumprir e fazer cumprir, mas não conseguindo «disfarçar»
as simpatias inerentes à sua condição de militância no PSD, o mais alto
magistrado da Nação actual, em fim de mandato, procurou influenciar a opinião
pública, ignorando a nova composição da Assembleia da República e depois de ter
dito que já tinha ponderado sobre todas as variantes políticas que pudessem
surgir após as legislativas.
Caracterizado por uma personalidade
narcísica, não se conteve ao afirmar anteriormente que nunca tinha dúvidas e
raramente se enganava, resultando daí, talvez, a falta de credibilidade das
suas opiniões e, ao mesmo tempo, pouca transparência no caso das acções do BPN,
da reforma que não chega para as despesas, das amizades com personagens
envolvidas na corrupção, da falta de comparência nas cerimónias do 5 de Outubro
como representante máximo da República Portuguesa, alegando que tinha de reflectir
sobre a nova situação política, mesmo depois de afirmar que possuía todos os
dados ponderados, e da actuação como primeiro-ministro, destruindo a frota
pesqueira, a agricultura e a indústria, apelando depois para o regresso ao mar,
ao campo e à industrialização.
Todo este comportamento em nome duma
política favorecedora do grande capital monopolista e explorador, dos mercados,
da destruição do Estado Social, medidas que levaram o País para o declínio
social e económico, tornando urgente revertê-las, sob pena de continuarmos cada
vez mais dependentes e empobrecidos.
Após conhecimento dos resultados das
legislativas e de ter reunido com o actual primeiro-ministro, dirigiu-se ao
País passadas duas horas, declarando que «o novo governo a empossar deverá dar
aos portugueses garantias firmes de respeitar os compromissos internacionais
historicamente assumidas e as grandes opções estratégicas adoptadas pelo País
desde a instauração de regimes democráticos e sufragadas nestas eleições pela
esmagadora maioria dos cidadãos, é fundamental que seja agora formado um
governo estável e duradouro como acontece em todas as democracias europeias»,
encarregando para tal desiderato o anterior primeiro-ministro, cujas políticas
foram rejeitadas pela maioria da população, representada na nova composição do
Parlamento. Finda a reunião, logo PSD e CDS acertaram governo, mesmo sem
audição dos restantes partidos pelo mais alto magistrado.
Trata-se, sem dúvida, duma também nova
concepção de democracia e duma falta de esclarecimento do que se passa por essa
Europa fora, onde existem governos para todos os gostos e composições se assim
quiserem classificá-los, mas respeitando a vontade da maioria das populações.
Afirmou ainda que encarregou Passos Coelho
de desenvolver «as diligências com vista a avaliar possibilidades de constituir
uma solução governativa que assegure a estabilidade política e a
governabilidade», enfatizando deixar de fora os partidos críticos em relação às
actuações da NATO que causaram e causam morte, destruição e agora o drama dos
refugiados e para com as políticas monetárias do directório europeu em que o
euro penaliza fortemente os países a braços com dívidas soberanas impagáveis,
ou seja, ignora a vontade democraticamente expressa pelos portugueses e pressiona
o PS para alianças à direita, no sentido de continuarmos a sofrer as
consequências desastrosas duma governação exploradora, de flagrantes injustiças
e de contínuo empobrecimento.
É notória e sintomática a desenfreada
propaganda da direita portuguesa, a qual, com a prestimosa ajuda dos habituais
órgãos da comunicação social dita de referência, procura levantar os maiores
medos ou receios quanto a mudanças, mas o que é certo é que elas foram
sufragadas nas urnas e com toda a razão.
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