Justiça igual para todos, um dos pilares da
democracia
Espera-se
há longos e penosos anos que a criminalidade de «colarinho branco» em Portugal
seja alvo de eficaz combate para erradicar esta grave moléstia da nossa
sociedade que tem arrastado um enorme cortejo de prejuízos e misérias.
Desde
a corrupção, ao tráfico de drogas, à evasão fiscal e a fuga ao IVA, até às
grandes fraudes no sector bancário, estamos perante uma vasta área de actuação
criminosa para a qual não temos visto por parte do poder constituído uma
vincada e imprescindível vontade política para debelar com sucesso esta
maleita.
Curiosamente,
os relatórios de universidades e de observadores independentes dedicados a este
fenómeno indicam até um recrudescimento do mesmo e incluem-no no próprio
terrorismo, através do branqueamento de capitais, pois a esmagadora maioria do
dinheiro proveniente do crime passa pelo sector financeiro e as suas várias
ramificações.
Os
investigadores do Observatório de Economia e Gestão de Fraude (OBEGEF), da
Faculdade de Economia da Universidade do Porto, calculam que o crime económico
tenha um volume de negócio anual de cerca de 50 mil milhões de euros e a
tendência é de crescimento a uma média de três a quatro mil milhões de euros
por ano, à frente dos olhos de quem nos governa.
A
permissividade governamental na circulação de elevadas somas de dinheiro para
os chamados «paraísos fiscais» e a comprovada ineficácia do regulador do sector
bancário, constituem também um factor para facultar o desenvolvimento desta
indesejável criminalidade e a sua expansão.
Alguns
casos, mais ou menos conhecidos, são exemplos desta actividade se nos lembrarmos
da situação muito pouco referida passada em 1990, ano do ainda pontificado de
Aníbal Cavaco Silva, em que o Banco de Portugal depositou 17 toneladas de ouro
das suas reservas, equivalentes a 554 milhões de euros, no Banco
norte-americano Drexel Burnham Lambert, instituição prestigiada da praça de Wall
Street, considerado como um dos principais bancos comerciais naquela altura e
que acabava de declarar falência, envolvido no escândalo dos «junk bonds»,
títulos de alto rendimento e ainda mais alto risco, do cavalheiro Michael
Milken da alta finança, acusado de extorsão e fraude e que também usava
colarinho branco.
Não
deve ser por mero acaso que a Alemanha mostrou interesse em repatriar parte das
suas reservas de ouro, tanto dos Estados Unidos como da França, facto que por
si só revela deterioração da confiança entre os bancos centrais do mundo. E nós
por cá, já repatriamos as tais 17 toneladas de ouro que tanta falta fazem nos
sectores públicos da Saúde, Educação, Transportes, por exemplo? Já lá vão uns bons
dezassete anos e os autores dos discursos de apelo ao bom nome de Portugal,
continuam «mudos e quedos» sobre o assunto, assim como os comentadores a soldo.
Se ainda acrescentarmos à lista os últimos e escandalosos casos do BPN, BPP,
BES e BANIF, ficamos sem dúvidas quanto ao sistema capitalista e os seus
processos de duvidosa legalidade, mas que não podem constituir surpresa, pois
são o resultado das permitidas constantes acumulações e centralizações de
capital, surpresa será, por este caminho, a dimensão deste fenómeno, se não
houver quem coloque um ponto final a curto prazo nesta flagrante e criminosa injustiça,
Para
tal e numa primeira e necessária fase, torna-se obrigatório o controlo público
da toda a banca nacional, colocando-a ao serviço da economia nacional e das
famílias, acabando de vez com os desmandos dos especuladores, as grandes
empresas financeiras, que durante anos a fio têm comprado dívidas com taxas de
juro elevadíssimas e obrigado os contribuintes, particulares ou pequenas e
médias empresas, a pagar a factura final.
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