Pôr fim ao Pacto de Agressão
A Federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome admite que os casos de
carência alimentar em Portugal possam aumentar.
Chegam à Provedoria da Justiça denúncias de crianças de dez anos a
viver na rua e cerca de 40% dos participantes dum inquérito da Federação dos
Bancos Alimentares confessaram ter passado um dia sem comer por falta de
dinheiro, admitindo mais de metade deles que o rendimento familiar não é
suficiente para viver em condições dignas.
O inquérito revelou também uma tendência de aumento das carências
alimentares e o Sr. Amândio Alves da Confederação Nacional das Associações de
Família, tem receio de que esta situação possa conhecer agravamento, aliás, o
próprio Provedor de Justiça afirmou ter recebido denúncias preocupantes nesse
sentido, pois a crise económica tem contribuído para a pobreza das crianças.
Nos dias de hoje, em pleno século XXI, perto de dois milhões de pessoas
vivem em situação de pobreza em Portugal, atingindo não só os naturais, mas
também estrangeiros, caso, por exemplo, de dois homens ucranianos com cerca de
60 anos, resgatados pela GNR num monte alentejano em ruínas, no concelho de
Portel, onde viviam em condições desumanas, tendo o caso sido participado ao
Ministério Público e estando a ser investigado, pois parece, ainda e para
cúmulo, serem vítimas de trabalho escravo.
Dois anos decorridos sobre a decisão de amarrar o país ao programa dito
de ajustamento, assinado com a União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo
Monetário Internacional, Portugal e os portugueses foram arrastados para o
desastre económico e social.
Esta realidade é documentada por números incontestáveis, mas ainda mais
assustadores, informando-nos da existência de quase um milhão e meio de desempregados,
uma recessão acumulada de 5,5% do PIB, mais de 250 mil portugueses, na sua
maioria jovens, forçados a emigrar, uma dívida pública impagável e imparável
que, tendo aumentado 48 mil milhões de euros, atinge já os 127% do PIB,
representando tudo isto declínio económico, retrocesso social, empobrecimento e
dependência, acrescido o facto do País ver agravados todos os seus problemas
estruturais, pois cria menos riqueza e distribui-a com menos justiça como temos
visto claramente com a redução dos salários reais que representam hoje apenas
38% no rendimento nacional, este preferencialmente canalizado para o grande
capital.
Para agravar esta situação, a ideia da reconfiguração total do Estado e
do seu papel social imprescindível, a par da mudança de paradigma da sociedade,
indo contra o conteúdo da nossa Constituição, constituem um confronto com o
Portugal de Abril e um projeto inadmissível, anticonstitucional e
antidemocrático a que urge colocar um ponto final.
Deveria ser o Presidente da República a resolver a questão, ele que
jurou defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição, pois, mais do que
salvar a coligação governamental, ele deveria procurar salvar o País duma
política que desgraça as nossas vidas e hipoteca o nosso futuro coletivo.
Tal não está a acontecer, portanto, a política alternativa de que
precisamos só chegará com a continuação da luta dos trabalhadores e do povo,
para um novo rumo, baseado nos valores de Abril e projetá-los no presente e no
futuro do nosso País, uma política patriótica e de esquerda.
10/06/2013
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