A rutura como via para
sair da crise
Com pompa e
circunstância o presidente da Comissão Europeia foi agraciado pelas mãos do
Príncipe das Astúrias com o prémio Carlos V, pelo seu desempenho à frente da
referida instituição europeia, cerimónia ocorrida no Real Mosteiro de Yuste em
Cáceres e com a presença de altas individualidades, tais como, os presidentes
do governo espanhol e da província da Estremadura, do chefe da diplomacia
espanhola e ainda do nosso primeiro-ministro.
Em parte do
discurso de agradecimento, Barroso afirmou estar «muito consciente do
desassossego» dos cidadãos europeus, nomeadamente os de Espanha e Portugal «que
não são responsáveis da crise e que apesar disso são com demasiada frequência
as suas primeiras vítimas», constatação bem patente no dia-a-dia, dizemos nós, pois
pagam a crise os que não a provocaram e recebem as «benesses» os que a
causaram, só que esta realidade não foi referida.
Disse ainda
Barroso que os esforços para melhorar começam a dar frutos com «os mercados
mais calmos e os primeiros sinais de recuperação», mas, apesar dos progressos,
ainda permanecem dificuldades, especialmente perante o desemprego «o maior
drama que a Europa enfrenta e que a mobilidade deve ser uma opção e não como
muitas vezes acontece a única alternativa para os mais jovens», palavras contrariadas
pela disposição, por exemplo, da Suíça de não obedecer à regra da livre
circulação de pessoas e bens, certamente preferindo os bens.
Aliás, se
atentarmos nas alterações ocorridas na União Europeia desde o Tratado de Lisboa
e anteriormente de Maastricht, consubstanciadas agora com o novo Tratado
Orçamental e a chamada Governação Económica, alargando as competências
exclusivas da EU em que os estados membros não ponderam e juntando à união
aduaneira, às regras de concorrência no mercado interno e à política monetária
na Zona Euro, a política comercial e a gestão dos recursos vivos marinhos, o
que se verifica é a submissão de mais áreas da vida social (os serviços
públicos) aos mercados, ou seja, a continuação da financeirização da economia.
A partir deste
ano, os maiores países, com a Alemanha à cabeça, ficarão com 70% dos votos no
Conselho Europeu e a França, a Grã-Bretanha e a Itália com poder para vetar qualquer
decisão. Não devemos esquecer que alguns dos que hoje se manifestam em Portugal
contra o poder excessivo da Alemanha são os mesmos que apoiaram
entusiasticamente o Tratado de Lisboa (PS,PSD,CDS) e não permitiram referendar
o Tratado Constitucional assinado em 2004 e chumbado pelos referendos da
Holanda e da França, recauchutado posteriormente, mas mantendo a substância da
Constituição e não abandonando um só ponto essencial, conforme afirmaram na
altura a Srª. Merkel e o Sr. Zapatero.
È curioso que no
passado dia 19 de Dezembro Frau Merkel, agora à frente dum governo reforçado, num
País que mexe os cordelinhos da Europa, afirmou que «sem a coesão necessária,
mais tarde ou mais cedo a moeda explodirá» afirmação que surpreendentemente não
suscitou grande surpresa nos «media».
A crise vai
continuar e agravar-se em Portugal com o conteúdo do OE para este ano, sendo
urgente renegociar a dívida e os euro deputados portugueses há dias
desclassificaram a ação do FMI em Portugal, opinião no mínimo curiosa na boca
de alguns sempre apoiantes das medidas do atual governo querendo ir mais além
do memorando da troika e somente a
euro deputada do PCP Inês Zuber teve a coragem de colocar os pontos nos is,
afirmando que o problema de raiz reside na essência da própria troika.
O euro, sendo
uma divisa internacional criada por um grupo de estados europeus para
proporcionar vantagens aos seus bancos e às suas grandes empresas no âmbito da
financeirização, tem procurado competir com o dólar, mas, como é suportado por
uma aliança de estados diferentes e com economias de competitividade desigual,
não poderá manter-se sem um estado poderoso a apoiá-lo e Frau Merkel, estando
nessa condição, não parece vocacionada para tal desiderato, embora saibamos
que, com a União Monetária Europeia criadora de grande clivagem entre os
maiores países e os países periféricos, foi a Alemanha que emergiu como
detentora da batuta económica na Euro Zona, em tempo de crise.
O futuro
apresenta-se incerto e os europeus, com toda a razão, não querem suportar mais
os custos duma crise que não provocaram, nem tão pouco verem o Estado Social a
desmoronar-se e os direitos, adquiridos com tanto sacrifício, a desaparecer,
com políticas neo liberais restritivas, embora no discurso os responsáveis
europeus se mostrem muito preocupados com a coesão social.
Estas políticas
ameaçam o equilíbrio económico na Europa e provocam o aumento do desemprego, conduzem
à concentração do capital e às desigualdades sociais. O resultado é difícil de
prever, mas não augura nada de bom se não houver mudança de linha ideológica, o
que, como sempre, caberá aos povos decidir.
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