terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Mudar de rumo

                         A rutura como via para sair da crise
Com pompa e circunstância o presidente da Comissão Europeia foi agraciado pelas mãos do Príncipe das Astúrias com o prémio Carlos V, pelo seu desempenho à frente da referida instituição europeia, cerimónia ocorrida no Real Mosteiro de Yuste em Cáceres e com a presença de altas individualidades, tais como, os presidentes do governo espanhol e da província da Estremadura, do chefe da diplomacia espanhola e ainda do nosso primeiro-ministro.
Em parte do discurso de agradecimento, Barroso afirmou estar «muito consciente do desassossego» dos cidadãos europeus, nomeadamente os de Espanha e Portugal «que não são responsáveis da crise e que apesar disso são com demasiada frequência as suas primeiras vítimas», constatação bem patente no dia-a-dia, dizemos nós, pois pagam a crise os que não a provocaram e recebem as «benesses» os que a causaram, só que esta realidade não foi referida.
Disse ainda Barroso que os esforços para melhorar começam a dar frutos com «os mercados mais calmos e os primeiros sinais de recuperação», mas, apesar dos progressos, ainda permanecem dificuldades, especialmente perante o desemprego «o maior drama que a Europa enfrenta e que a mobilidade deve ser uma opção e não como muitas vezes acontece a única alternativa para os mais jovens», palavras contrariadas pela disposição, por exemplo, da Suíça de não obedecer à regra da livre circulação de pessoas e bens, certamente preferindo os bens.
Aliás, se atentarmos nas alterações ocorridas na União Europeia desde o Tratado de Lisboa e anteriormente de Maastricht, consubstanciadas agora com o novo Tratado Orçamental e a chamada Governação Económica, alargando as competências exclusivas da EU em que os estados membros não ponderam e juntando à união aduaneira, às regras de concorrência no mercado interno e à política monetária na Zona Euro, a política comercial e a gestão dos recursos vivos marinhos, o que se verifica é a submissão de mais áreas da vida social (os serviços públicos) aos mercados, ou seja, a continuação da financeirização da economia.
A partir deste ano, os maiores países, com a Alemanha à cabeça, ficarão com 70% dos votos no Conselho Europeu e a França, a Grã-Bretanha e a Itália com poder para vetar qualquer decisão. Não devemos esquecer que alguns dos que hoje se manifestam em Portugal contra o poder excessivo da Alemanha são os mesmos que apoiaram entusiasticamente o Tratado de Lisboa (PS,PSD,CDS) e não permitiram referendar o Tratado Constitucional assinado em 2004 e chumbado pelos referendos da Holanda e da França, recauchutado posteriormente, mas mantendo a substância da Constituição e não abandonando um só ponto essencial, conforme afirmaram na altura a Srª. Merkel e o Sr. Zapatero.
È curioso que no passado dia 19 de Dezembro Frau Merkel, agora à frente dum governo reforçado, num País que mexe os cordelinhos da Europa, afirmou que «sem a coesão necessária, mais tarde ou mais cedo a moeda explodirá» afirmação que surpreendentemente não suscitou grande surpresa nos «media».
A crise vai continuar e agravar-se em Portugal com o conteúdo do OE para este ano, sendo urgente renegociar a dívida e os euro deputados portugueses há dias desclassificaram a ação do FMI em Portugal, opinião no mínimo curiosa na boca de alguns sempre apoiantes das medidas do atual governo querendo ir mais além do memorando da troika e somente a euro deputada do PCP Inês Zuber teve a coragem de colocar os pontos nos is, afirmando que o problema de raiz reside na essência da própria troika.
O euro, sendo uma divisa internacional criada por um grupo de estados europeus para proporcionar vantagens aos seus bancos e às suas grandes empresas no âmbito da financeirização, tem procurado competir com o dólar, mas, como é suportado por uma aliança de estados diferentes e com economias de competitividade desigual, não poderá manter-se sem um estado poderoso a apoiá-lo e Frau Merkel, estando nessa condição, não parece vocacionada para tal desiderato, embora saibamos que, com a União Monetária Europeia criadora de grande clivagem entre os maiores países e os países periféricos, foi a Alemanha que emergiu como detentora da batuta económica na Euro Zona, em tempo de crise.  
O futuro apresenta-se incerto e os europeus, com toda a razão, não querem suportar mais os custos duma crise que não provocaram, nem tão pouco verem o Estado Social a desmoronar-se e os direitos, adquiridos com tanto sacrifício, a desaparecer, com políticas neo liberais restritivas, embora no discurso os responsáveis europeus se mostrem muito preocupados com a coesão social.
Estas políticas ameaçam o equilíbrio económico na Europa e provocam o aumento do desemprego, conduzem à concentração do capital e às desigualdades sociais. O resultado é difícil de prever, mas não augura nada de bom se não houver mudança de linha ideológica, o que, como sempre, caberá aos povos decidir.




























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