terça-feira, 12 de agosto de 2014

A verdadeira face do capitalismo

                           Uma espécie de república das bananas  
Não tinha intenção de regressar a este tema, mas as circunstâncias em que ocorreu o caso BES, com a facilidade de atuação dos protagonistas, a impunidade dos mesmos e a repetição da ocorrência no sistema bancário nacional, levam-me a abrir a exceção.
Os ativos da família Espírito Santo neste momento são constituídos pela Herdade da Comporta com uma área de 12.500 hectares e projeto para imobiliário turístico, por 14 unidades hoteleiras, todas de quatro e cinco estrelas, sediadas no Algarve, Lisboa, Sintra, Coimbra, S. Salvador da Baía e S. Paulo, disponibilizando 3.000 quartos na totalidade, por 50 balcões de oferta turística espalhados pelo País, com ramificações em Itália, Espanha e Angola e uma operadora online, por uma empresa Portucale, proprietária da Herdade Vargem Fresca no Ribatejo de 510 hectares, ilegalmente separada da Companhia das Lezírias pertença do Estado para construção de dois campos de golfe, tendo esta empresa estado envolvida no escândalo do abate ilegal de sobreiros, no tempo do governo de Santana Lopes, Durão Barroso e Paulo Portas, por 18 unidades clínicas destacando-se o Hospital da Luz, em Lisboa, o Hospital da Arrábida, em Vila Nova de Gaia, e o Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, por duas fazendas no interior brasileiro, uma no Estado de S. Paulo e outra no Estado de Tocatins, ambas totalizando 32 mil hectares de área, por uma Herdade no Paraguai, com 135 mil hectares de área, possuindo 53 mil cabeças de gado, pela empresa Atlantic Meals-Agroalimentar possuindo três unidades industriais em Alcácer do Sal, Biscainho e Coruche e outra em Sevilha, pela empresa imobiliária Espírito Santo Property Brasil com atividade nos estados de S. Paulo, Santa Catarina, Paraná, Baía e Rio de Janeiro, pela também empresa imobiliária Espírito Santo Property Portugal com atividade no Estoril, Lisboa, Azeitão, Santiago do Cacém, Oeiras, Vila Nova de Gaia e Portimão, pela Companhia de Seguros Tranquilidade e poupanças estratégicas sediadas em offshores no valor de 5 mil e 700 milhões de dólares, como consta.  
Na atividade recente mais relevante do BES-Portugal inclui-se um empréstimo ao BES-Angola de 3 mil milhões de euros e outro ao GES-Grupo Espírito Santo de 1.200 milhões de euros, dinheiro este irrecuperável dada a insolvência do Grupo, existindo ainda um empréstimo da Caixa Geral de Depósitos ao Grupo de 300 milhões de euros e outro da PT, via Rio Forte, de 900 milhões de euros, tendo como garantia ações hoje sem validade, ou seja, a exposição de empresas portuguesas no Espírito Santo Finantial Group, principal acionista do BES, atinge a módica quantia de mais menos 5 mil milhões de euros, o que representa um enorme encargo financeiro para o País e um escândalo.
Perante esta nova calamidade económica, aliás, em repetição agravada das ocorrências no BPN, BANIF e BPP, dizem-nos o primeiro-ministro, o vice-primeiro-ministro, a ministra das Finanças, o governador do Banco de Portugal e responsáveis da CMVM que o contribuinte não será afetado e os papagaios à solta e a soldo procuram via televisão encontrar razões que a razão desconhece para desculpar esta quadrilha de colarinho branco que, através de corrupção, agiotagem, conivências e burlas deitam por terra a credibilidade e a confiança na banca privada, ela própria a nomear os auditores, pasme-se, que informam os reguladores da sua atividade, todos bem pagos e tudo isto no melhor dos mundos com governantes apoiando contratos ruinosos, através de PPPs, swapps, submarinos, subconcessão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo ou casos como Furacão e Monte Branco, coniventes com a financeirização da economia e a especulação, mostrando a verdadeira face do capitalismo predador.
Com Vítor Constâncio, Carlos Costa ou qualquer outro com o mesmo pensamento, a missão do Banco de Portugal torna-se difícil de cabal cumprimento, dadas as promiscuidades e inoperacionalidade existentes em todo o sistema, inibindo esta instituição de supervisionar o funcionamento da banca, como lhe compete.  
Por seu lado, o primeiro-ministro aceita como boa a ideia da criação do Novo Banco, em substituição do BES e para onde irão ser canalizados os ativos bons e o empréstimo da troika pois o chamado Fundo de Resolução não possui verba suficiente, ou seja, os dinheiros públicos servirão para cobrir a operação cuja fatura será paga pelos contribuintes e não sabemos se nos caberá também o lixo.
Começa um novo ciclo vicioso com o Novo Banco, cuja administração começará por fechar balcões e despedir trabalhadores e a história repete-se, sendo curioso transcrever a opinião de responsáveis do banco Goldman and Sachs emitida há uns dias atrás e depois de se desfazer de ações do BES: Em Portugal o BES é o banco melhor posicionado para captar quota de mercado, dada a forte posição de capital e movimento em direção a um sector exportador mais dinâmico.  Assim mesmo com o desplante e a desfaçatez de quem atua sem qualquer controlo.
O poder político, por sua vontade, deixa-se dominar pelo poder económico e, tal como aconteceu em 2008 com a falência do Leman Brothers que desencadeou a crise das dívidas soberanas, a falência do BES recairá sobre a bolsa dos portugueses que continuarão a pagar estes desmandos, aliás, desde a entrada da troika a nossa dívida aumentou 40% e, por este caminho, agravar-se-á consideravelmente, não tenhamos dúvidas.
Como por parte do presidente de alguns portugueses não é expectável qualquer atitude para com os amigos, face a esta situação preocupante, a criação duma Comissão Parlamentar de Inquérito proposta pelo PCP possui toda a pertinência e validade, no sentido de esclarecer, investigar os responsáveis e fazer funcionar a Justiça, assim todas as outras forças políticas estejam de acordo.
Manuel Vilas Boas 






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