Para que
serviu o Pontal?
Realizou-se mais uma edição da festa de veraneio do Pontal, desta vez
parecendo ter conseguido menos presenças do que é habitual, excetuando todos
aqueles a quem a crise ainda não bateu à porta ou se bateu foi de leve,
levemente.
Em termos de intervenções políticas, referencia-se a do
primeiro-ministro, não por conter novidades importantes, mas por nos continuar
a encher os ouvidos com narrativas celestiais sobre a situação do País.
Alguns excertos sobressaem, no entanto, pela forma e conteúdo e ficarão
uma vez mais na memória dos portugueses pela falta de pudor e descaramento com
que foram proferidos: «Portugal só não entrou em bancarrota porque houve uma
Europa solidária» ou então «foram três anos que nunca mais esqueceremos» e de
que maneira, dizemos nós, mais ainda «o governo está a meio do seu caminho
reformador» ou então «Portugal tem um governo de rigor que ataca os privilégios
da banca e está em recuperação económica, as exportações em alta de tal forma
que os mercados e os decisores nos apontam como exemplo para o mundo».
Agora, com os pés no chão, aquilo que vemos (sentimos), ouvimos e lemos
coloca a dívida pública até junho deste ano nos 134% do PIB, dados do Banco de
Portugal e resultado da tal Europa connosco, os três anos de governação PSD/CDS
representam um tempo de roubo nos salários, reformas e pensões, destruição de
serviços públicos e Funções Sociais do Estado, desemprego, emigração forçada e
recomendada, empobrecimento e descalabro económico, a corrupção está na ordem
do dia, os privilégios atribuídos aos grandes grupos económicos são uma
realidade consubstanciada no apoio à banca falida, BPN, BPP, BANIF, BES, à
custa do erário público que continua ainda sobrecarregado com as PPP’s e swapps, ou seja, suporte ao poder
financeiro em obediência aos diretórios da troika
internacional e ao capital nacional monopolista e explorador.
Eis pois aqui resumidamente retratada a diferença entre o discurso da
mentira e da demagogia e a realidade que os portugueses e o País enfrentam,
devido a uma teimosia cega e uma indiferença total pelas condições de vida da
esmagadora maioria da população.
O relatório do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) divulgado pela
ONU, publicado este ano e referente a 2013, dá-nos conta de que o nosso País
situa-se na cauda da Europa, sendo referido o aumento da pobreza, a
insatisfação generalizada dos portugueses com as suas vidas e com o mercado do
trabalho.
O IDH é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo
seu grau de desenvolvimento humano, designando-os por desenvolvidos, em
desenvolvimento e subdesenvolvidos, sendo a estatística composta a partir de
dados da expectativa de vida ao nascer, da educação e do PIB per capita, dados
esses recolhidos a nível nacional em cada ano nos países membros da ONU.
No panorama atual do nosso País são referenciados ainda por algumas
entidades nacionais (INE e BdP) os seguintes dados: 1 milhão e 300 mil
desempregados, cerca de 3 milhões de pobres, 12 mil crianças com fome
assinaladas nas escolas mais 300 mil portugueses com fome, 1 milhão de
portugueses sem médico de família, 7,5% de analfabetos, 3.500 pessoas sem
abrigo, 700 mil pessoas sem água canalizada ou esgotos ao domicílio, preços dos
combustíveis mais altos da Europa, a eletricidade 61% mais cara que a média da
OCDE, as remunerações dos conselhos de administração das 20 empresas cotadas em
bolsa quintuplicaram entre 2000 e 2012, as 100 maiores fortunas valem 32 mil
milhões de euros, isto é, 20% da riqueza total nacional. O Pontal serviu para
revelar que o autismo político do primeiro-ministro representa um perigo
nacional.
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