quinta-feira, 28 de agosto de 2014

As mentiras do costume

                                       Para que serviu o Pontal?
Realizou-se mais uma edição da festa de veraneio do Pontal, desta vez parecendo ter conseguido menos presenças do que é habitual, excetuando todos aqueles a quem a crise ainda não bateu à porta ou se bateu foi de leve, levemente.
Em termos de intervenções políticas, referencia-se a do primeiro-ministro, não por conter novidades importantes, mas por nos continuar a encher os ouvidos com narrativas celestiais sobre a situação do País.
Alguns excertos sobressaem, no entanto, pela forma e conteúdo e ficarão uma vez mais na memória dos portugueses pela falta de pudor e descaramento com que foram proferidos: «Portugal só não entrou em bancarrota porque houve uma Europa solidária» ou então «foram três anos que nunca mais esqueceremos» e de que maneira, dizemos nós, mais ainda «o governo está a meio do seu caminho reformador» ou então «Portugal tem um governo de rigor que ataca os privilégios da banca e está em recuperação económica, as exportações em alta de tal forma que os mercados e os decisores nos apontam como exemplo para o mundo».
Agora, com os pés no chão, aquilo que vemos (sentimos), ouvimos e lemos coloca a dívida pública até junho deste ano nos 134% do PIB, dados do Banco de Portugal e resultado da tal Europa connosco, os três anos de governação PSD/CDS representam um tempo de roubo nos salários, reformas e pensões, destruição de serviços públicos e Funções Sociais do Estado, desemprego, emigração forçada e recomendada, empobrecimento e descalabro económico, a corrupção está na ordem do dia, os privilégios atribuídos aos grandes grupos económicos são uma realidade consubstanciada no apoio à banca falida, BPN, BPP, BANIF, BES, à custa do erário público que continua ainda sobrecarregado com as PPP’s e swapps, ou seja, suporte ao poder financeiro em obediência aos diretórios da troika internacional e ao capital nacional monopolista e explorador.
Eis pois aqui resumidamente retratada a diferença entre o discurso da mentira e da demagogia e a realidade que os portugueses e o País enfrentam, devido a uma teimosia cega e uma indiferença total pelas condições de vida da esmagadora maioria da população.
O relatório do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) divulgado pela ONU, publicado este ano e referente a 2013, dá-nos conta de que o nosso País situa-se na cauda da Europa, sendo referido o aumento da pobreza, a insatisfação generalizada dos portugueses com as suas vidas e com o mercado do trabalho.
O IDH é uma medida comparativa usada para classificar os países pelo seu grau de desenvolvimento humano, designando-os por desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos, sendo a estatística composta a partir de dados da expectativa de vida ao nascer, da educação e do PIB per capita, dados esses recolhidos a nível nacional em cada ano nos países membros da ONU.

No panorama atual do nosso País são referenciados ainda por algumas entidades nacionais (INE e BdP) os seguintes dados: 1 milhão e 300 mil desempregados, cerca de 3 milhões de pobres, 12 mil crianças com fome assinaladas nas escolas mais 300 mil portugueses com fome, 1 milhão de portugueses sem médico de família, 7,5% de analfabetos, 3.500 pessoas sem abrigo, 700 mil pessoas sem água canalizada ou esgotos ao domicílio, preços dos combustíveis mais altos da Europa, a eletricidade 61% mais cara que a média da OCDE, as remunerações dos conselhos de administração das 20 empresas cotadas em bolsa quintuplicaram entre 2000 e 2012, as 100 maiores fortunas valem 32 mil milhões de euros, isto é, 20% da riqueza total nacional. O Pontal serviu para revelar que o autismo político do primeiro-ministro representa um perigo nacional.

Sem comentários:

Enviar um comentário