A expulsão dos magistrados portugueses de Timor-leste sugeriu o tema
para uma reflexão sobre as convicções e a sua mudança ao sabor de interesses
venais.
Costuma designar-se como coerência a capacidade do ser humano de
harmonizar o pensamento, ou seja, ligar em conformidade factos e ideias.
Sempre pensamos que o ser humano é livre no momento de tomar uma
decisão, no entanto e para aqueles que têm a incumbência de nos governar, ou seja,
influenciar a nossa qualidade de vida, é exigido ética que, segundo
Aristóteles, será a prática de virtudes, tais como, a sobriedade, a sinceridade
e a generosidade, mas também lhes exigimos a verdade, sob pena desta nossa
passagem por este mundo se transformar numa completa impostura e hipocrisia.
-Por exemplo, a Organização das Nações Unidas (ONU) é uma instituição
internacional cujo objetivo declarado é facilitar a cooperação em matéria de
direito e segurança internacionais, do desenvolvimento económico, do progresso
social, dos direitos humanos e da realização da paz mundial, porém e como bem
afirmou Albert Einstein, «Hoje temos de reconhecer com horror que esses pilares
da existência humana civilizada perderam sua firmeza. Nações outrora de
primeira linha curvam-se perante tiranos ousando afirmar abertamente que Direito
é aquilo que lhes serve».
-Xanana Gusmão, guerrilheiro da FRETILIN e militante da mesma, lutador
pela independência do seu País e seu primeiro presidente em liberdade corria o
ano de 2002, hoje primeiro-ministro, anunciou em 2007 que não se recandidataria
à presidência e funda um novo partido político, o CNRT, com a finalidade de
concorrer às legislativas, facto a causar grande perplexidade no País, mas que
o levou à vitória ao coligar-se com outras forças políticas adversárias da
FRETILIN.
A braços com indícios de corrupção, envolvendo figuras gradas do regime
e até ele mesmo, a dar crédito a notícias entretanto vindas a lume, resolve
expulsar magistrados portugueses em regime de cooperação e encarregados das
investigações, alegando serem causadores de enormes prejuízos para o País.
-Dilma Rousseff que iniciou a sua militância política com 16 anos e
pegou em armas contra a ditadura militar brasileira, tendo sido presa por três
anos em 1970, sai da prisão e muda-se de Belo Horizonte para Porto Alegre,
formando-se em economia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ajuda a
formação do PDT em 1980 que abandona em 2001 para integrar o PT de Lula da
Silva que a levou à presidência do Brasil e a enfrentar sem sucesso as
desigualdades, a falta de serviços públicos e os casos graves de corrupção.
Recandidata-se e vence com enormes perdas do seu eleitorado e no fim afirma ter
entendido a mensagem do povo brasileiro. Teria entendido?
-Mikhail Gorbachev, considerado por Putin um erro da história e o
responsável por ter pregado o último prego do caixão da União Soviética,
opinião corroborada, aliás, pela maioria do povo russo, que lamenta as
dificuldades posteriormente causadas e ainda hoje repercutidas na sua sociedade,
foi um dirigente demasiado permeável às pressões ocidentais e ao revisionismo,
esquecendo que a essência do homem não é qualquer coisa de abstrato, própria a
um indivíduo isolado mas representa o conjunto de todas as relações sociais, no
entanto, afirmando sempre a sua condição de comunista convicto, saiu do seu
País e refugiou-se nos braços do inimigo político, aí obtendo os meios para
abrir a sua Fundação, onde param os expoentes máximos do anti comunismo. Hoje
lamenta os recentes conflitos no Médio Oriente e na Europa, alerta para o
aparecimento duma nova Guerra-fria e diz apoiar Putin em relação ao problema da
Ucrânia.
-Durão Barroso, outro caso paradigmático da incoerência política,
começou a atividade, enquanto jovem e estudante, nas fileiras do maoismo,
doutrina do PC chinês e chegou a ter intervenções exaltantes no seio dos seus
congéneres.
O decorrer imparável dos tempos e das ideias leva-o à social-democracia,
onde estacionara a esquerda radical portuguesa, que o designa para
primeiro-ministro em eleições polémicas, mas por pouco tempo de exercício, do
qual sobressai a Cimeira das Lages propulsora da invasão do Iraque. Depois, como
o País ficou de tanga e incapaz de lhe proporcionar o cherne, «obrigou-se» a
encontrar refúgio no parlamento europeu, donde aconselhou Portugal a gastar
menos e a viver em austeridade que, no entanto, nunca chegou às carteiras de
alguns, mas sim aos bolsos dos mais carenciados. No seu percurso pela comissão
europeia e, para lá dos seus conselhos moralistas, ficam o apoio ao novo
governo golpista ucraniano de cariz nazi e os gastos sumptuosos da comissão em viagens
em jatos privados e festas no valor de alguns milhões de euros, para além do
«porreiro pá». Agora na reforma, ficará com muitos milhares de euros, ainda
subsídio de reintegração de outros tantos milhares e a condecoração nacional
entregue pelo presidente de alguns portugueses, por serviços relevantes
prestados ao País.
Decididamente e com o poder nas mãos, algumas pessoas estragam-se,
esquecem as promessas e as obrigações, enveredam pelos caminhos da corrupção e
do enriquecimento fácil, mas, em contra ponto e tornando estes exemplos como
exceções à regra e também porque não somos todos iguais, existe ainda muito boa
gente honesta, dotada de bom senso, identidade política, consciência e solidez
de ideais que luta pela transformação do mundo para torná-lo mais justo, livre
da exploração e da opressão. Nem tudo está perdido, portanto, mas compete-nos também
exercer a cidadania conscienciosamente para ajudar a concretização desse nobre
objetivo.
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