quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A solidez dos ideais

                                           
A expulsão dos magistrados portugueses de Timor-leste sugeriu o tema para uma reflexão sobre as convicções e a sua mudança ao sabor de interesses venais.
Costuma designar-se como coerência a capacidade do ser humano de harmonizar o pensamento, ou seja, ligar em conformidade factos e ideias.
Sempre pensamos que o ser humano é livre no momento de tomar uma decisão, no entanto e para aqueles que têm a incumbência de nos governar, ou seja, influenciar a nossa qualidade de vida, é exigido ética que, segundo Aristóteles, será a prática de virtudes, tais como, a sobriedade, a sinceridade e a generosidade, mas também lhes exigimos a verdade, sob pena desta nossa passagem por este mundo se transformar numa completa impostura e hipocrisia.
-Por exemplo, a Organização das Nações Unidas (ONU) é uma instituição internacional cujo objetivo declarado é facilitar a cooperação em matéria de direito e segurança internacionais, do desenvolvimento económico, do progresso social, dos direitos humanos e da realização da paz mundial, porém e como bem afirmou Albert Einstein, «Hoje temos de reconhecer com horror que esses pilares da existência humana civilizada perderam sua firmeza. Nações outrora de primeira linha curvam-se perante tiranos ousando afirmar abertamente que Direito é aquilo que lhes serve».  
-Xanana Gusmão, guerrilheiro da FRETILIN e militante da mesma, lutador pela independência do seu País e seu primeiro presidente em liberdade corria o ano de 2002, hoje primeiro-ministro, anunciou em 2007 que não se recandidataria à presidência e funda um novo partido político, o CNRT, com a finalidade de concorrer às legislativas, facto a causar grande perplexidade no País, mas que o levou à vitória ao coligar-se com outras forças políticas adversárias da FRETILIN.
A braços com indícios de corrupção, envolvendo figuras gradas do regime e até ele mesmo, a dar crédito a notícias entretanto vindas a lume, resolve expulsar magistrados portugueses em regime de cooperação e encarregados das investigações, alegando serem causadores de enormes prejuízos para o País.
-Dilma Rousseff que iniciou a sua militância política com 16 anos e pegou em armas contra a ditadura militar brasileira, tendo sido presa por três anos em 1970, sai da prisão e muda-se de Belo Horizonte para Porto Alegre, formando-se em economia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ajuda a formação do PDT em 1980 que abandona em 2001 para integrar o PT de Lula da Silva que a levou à presidência do Brasil e a enfrentar sem sucesso as desigualdades, a falta de serviços públicos e os casos graves de corrupção. Recandidata-se e vence com enormes perdas do seu eleitorado e no fim afirma ter entendido a mensagem do povo brasileiro. Teria entendido?
-Mikhail Gorbachev, considerado por Putin um erro da história e o responsável por ter pregado o último prego do caixão da União Soviética, opinião corroborada, aliás, pela maioria do povo russo, que lamenta as dificuldades posteriormente causadas e ainda hoje repercutidas na sua sociedade, foi um dirigente demasiado permeável às pressões ocidentais e ao revisionismo, esquecendo que a essência do homem não é qualquer coisa de abstrato, própria a um indivíduo isolado mas representa o conjunto de todas as relações sociais, no entanto, afirmando sempre a sua condição de comunista convicto, saiu do seu País e refugiou-se nos braços do inimigo político, aí obtendo os meios para abrir a sua Fundação, onde param os expoentes máximos do anti comunismo. Hoje lamenta os recentes conflitos no Médio Oriente e na Europa, alerta para o aparecimento duma nova Guerra-fria e diz apoiar Putin em relação ao problema da Ucrânia.     
-Durão Barroso, outro caso paradigmático da incoerência política, começou a atividade, enquanto jovem e estudante, nas fileiras do maoismo, doutrina do PC chinês e chegou a ter intervenções exaltantes no seio dos seus congéneres.  
O decorrer imparável dos tempos e das ideias leva-o à social-democracia, onde estacionara a esquerda radical portuguesa, que o designa para primeiro-ministro em eleições polémicas, mas por pouco tempo de exercício, do qual sobressai a Cimeira das Lages propulsora da invasão do Iraque. Depois, como o País ficou de tanga e incapaz de lhe proporcionar o cherne, «obrigou-se» a encontrar refúgio no parlamento europeu, donde aconselhou Portugal a gastar menos e a viver em austeridade que, no entanto, nunca chegou às carteiras de alguns, mas sim aos bolsos dos mais carenciados. No seu percurso pela comissão europeia e, para lá dos seus conselhos moralistas, ficam o apoio ao novo governo golpista ucraniano de cariz nazi e os gastos sumptuosos da comissão em viagens em jatos privados e festas no valor de alguns milhões de euros, para além do «porreiro pá». Agora na reforma, ficará com muitos milhares de euros, ainda subsídio de reintegração de outros tantos milhares e a condecoração nacional entregue pelo presidente de alguns portugueses, por serviços relevantes prestados ao País.
Decididamente e com o poder nas mãos, algumas pessoas estragam-se, esquecem as promessas e as obrigações, enveredam pelos caminhos da corrupção e do enriquecimento fácil, mas, em contra ponto e tornando estes exemplos como exceções à regra e também porque não somos todos iguais, existe ainda muito boa gente honesta, dotada de bom senso, identidade política, consciência e solidez de ideais que luta pela transformação do mundo para torná-lo mais justo, livre da exploração e da opressão. Nem tudo está perdido, portanto, mas compete-nos também exercer a cidadania conscienciosamente para ajudar a concretização desse nobre objetivo.






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