quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Mais um orçamento de ficção para convencer incautos

               
Está em curso e confirmado pela discussão do OE 2015 na Assembleia da República, uma bem urdida operação manipuladora com o objetivo de tentar convencer a opinião pública duma redução da carga fiscal para o próximo ano.
Lamentavelmente, alguns órgãos da comunicação social, ditos de referência, têm-se feito eco desta campanha desinformadora e mesmo jornalistas também seguiram pelo mesmo diapasão, exceto aqueles a quem o primeiro-ministro catalogou como preguiçosos, patéticos e proferindo inverdades, pois não se dispuseram a pactuar com mistificações. 
Os factos, porém e tal como o algodão, não enganam e em 2015 os portugueses pagarão mais (2.006) dois mil e seis milhões de euros de impostos e as empresas menos (892) oitocentos noventa e dois milhões, ou seja, trabalhadores, pensionistas, reformados e outras classes que não auferem rendimentos de capital continuarão a ser fortemente penalizados ao passo que as empresas, especialmente as grandes com lucros elevados, beneficiarão como vem sendo habitual de redução substancial nesses impostos, aumentando assim os respetivos lucros.
Se esta realidade não constitui uma clara opção de classe do governo, então a comunicação social que lhe é afeta terá pela frente um duro trabalho para o tentar investigar e explicar, porém, sem fim à vista. 
Há exemplos no OE para 2015 que podem facilmente ser alvo de pesquisa para desmascarar toda esta manipulação, tais como, o da redução da taxa extraordinária de IRS de 3,5% para 2,5%, o da previsão de crescimento em 1,5% e o da introdução dum novo imposto indireto (fiscalidade verde).
Mas vamos a factos: com a chamada bolsa de despesas familiares, o governo pretende substituir as deduções à coleta que vigoram até ao presente momento, mas se tivermos em conta o exemplo dum casal com rendimentos médios, só com as deduções dos sujeitos passivos de 427,50 euros, as deduções de juros ou rendas de habitação de 229,00 euros e de despesas de educação de 670,70 euros, o casal deduzirá 1.327, 20 euros, mas com a bolsa no limite máximo de 600 euros, a perda atingiria 727, 20 euros, isto é, a dedução à coleta passaria para menos de metade; em relação à fiscalidade verde, o objetivo é essencialmente obter receita fiscal, muito embora o discurso do governo seja a defesa do ambiente, mas o que é certo é que, com a tributação sobre o carbono, o preço dos combustíveis subirá cerca de 3% (agravado com 160 milhões de euros na contribuição sobre o sector rodoviário) e o gás natural doméstico aumentará mais de 4%, sendo também afetado o preço da eletricidade, o que arrastará um aumento generalizado do custo dos bens e serviços para as famílias a suportarem ainda o aumento dos custos da água e dos resíduos, devido à revisão da taxa de gestão de resíduos e da taxa de recursos hídricos, isto para não falar sobre o imposto para os sacos de plástico.
A desfaçatez desta gente não tem medida nem baliza moral, o seu discurso é um conjunto de incongruências e mentiras, mentiras mil vezes repetidas que querem transformar em verdades, parafraseando Goebbels.

A única reforma efetuada foi a desarticulação do Código do Trabalho deixando os trabalhadores nas mãos do patronato, as medidas brutais que têm aplicado em matéria de cortes de salários, de pensões e de apoios sociais não são avaliadas nas suas consequências, em três anos aumentaram o desemprego para um milhão e meio de trabalhadores e contribuíram para dezenas de milhares de falências, desarticularam o ensino público e lançaram o caos com uma dita reforma da Justiça e ainda proclamam retomas e relançamentos que ninguém vê, pela linear razão de que não existem. Aumentam, sim, a pobreza e as desigualdades.

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