Um presidente, um governo e uma maioria, desígnio sempre na agenda da
direita nacional, tornou-se agora um verdadeiro pesadelo para os portugueses,
excetuando aquela minoria visivelmente a grande beneficiária do resultado do
projeto político em prática e das medidas para debelar a crise.
A principal causa dos nossos problemas, ao nível nacional e regional,
centra-se na dívida soberana, enquanto não for renegociada, mas também no
défice de produção e criação de riqueza, a par da sua injusta repartição.
A verdade, com o decorrer do tempo, denuncia um País mais pobre, mais
frágil e em dependência crescente com as desigualdades a acentuarem-se, criando
faixas populacionais no limiar da pobreza em que nem as crianças escapam, pois
um terço das suas famílias afirmam dificuldade em garantir alimento suficiente
e 12% enfrentam insegurança alimentar.
Por outro lado, a chaga do desemprego mantém-se purulenta e mais de 50%
dos desempregados não recebem subsídio, apesar das tentativas governamentais
para nos fazerem crer no contrário, manipulando dados.
A verdade é que, entre o 2º e o 3º trimestres de 2014, o desemprego
aumentou, se considerarmos todos os dados disponibilizados pelo INE e também
outros elementos oficiais, a que a emigração crescente não é estranha, realidade
continuamente negada pelo primeiro-ministro, cujo governo irá contribuir para
agravar esta situação através da norma nº. 1 do art.º 54 do OE para 2015 que
nos diz «durante o ano de 2015 os serviços e organismos das administrações
direta e indireta do Estado, regionais e autárquicas, não podem proceder à
renovação de vínculos de emprego público a termo resolutivo, a não ser em
situações excecionais, fundamentadas na existência de relevante interesse
público», norma esta a abrir caminho para a destruição de mais 61 mil postos de
trabalho na Função Pública.
O governo Passos/Portas, a pretexto das imposições da troika internacional, mas indo sempre
mais além para impor um novo paradigma ao País, tem cometido os maiores
atropelos sociais e inconstitucionais, degradado as Funções Sociais do Estado,
destruído direitos laborais, maltratado pensionistas e reformados, saldado
empresas públicas estratégicas, enquanto, por outro lado, continua e promove as
Parcerias Público Privadas, diminui impostos para as grandes empresas e deixa
correr rios de dinheiro para as offshores,
desprezando arrogantemente o País e a população, degradando as instituições e
diminuindo-lhes o prestígio. Por outro lado, a corrupção assenta arraiais,
dando origem a processos que escandalizam a opinião pública nacional e
internacional e em que figuras do Estado como o atual primeiro-ministro, caso
Tecnoforma, o seu antecessor, agora em prisão preventiva, o vice
primeiro-ministro, caso dos submarinos e «vistos gold», implicando chefias do
SEF e do Instituto de Registos e Notariado e obrigando o ministro da
Administração Interna à demissão, a antiga ministra da educação, por
prevaricação de titular de cargo político, outro ex-ministro socialista, caso
Face Oculta, outros casos envolvendo o BES, o BPN. o BPP, uns em fase de
procura de solução e outros na procura do esquecimento, enfim, uma elucidativa
demonstração da incapacidade governativa global do centrão político, em que o
sistema de supervisão financeira é um embuste, onde encontramos gente sem pejo
a propor a retoma das subvenções vitalícias e o primeiro-ministro a afirmar que
«não somos todos iguais», mentindo novamente, pois eles têm sido mesmo iguais até
ao permitirem o ascendente do poder económico sobre o poder político.
A ministra da Justiça, atempadamente avisada, teima em seguir em frente
apressadamente com a reforma informática e, depois do malogro, tenta arranjar
dois bodes expiatórios, com uma ação a que o Juiz e bem não deu provimento.
O ministro da Educação, cada tiro cada melro, ainda se encontra a
braços com a abertura do ano letivo, pois há alunos sem horário compensatório
das falhas existentes, sendo prejudicados na aprendizagem dos programas.
Na Saúde e a par da política anti-constitucional para desmembrar o SNS,
nova fraude atingindo valores na ordem dos 200 milhões de euros, faz abalar de
novo o sistema, prejudicando a sua prestação.
A Segurança Social, com o desemprego, a natalidade em queda e a baixa
de IRC concedida às grandes empresas, vai-se descapitalizando, deixando dúvidas
pertinentes em relação aos futuros reformados.
A ministra das Finanças afirma e reafirma que o caso BES não terá
repercussões na bolsa dos contribuintes, mais uma mentira para sossego dos
incautos, ao mesmo tempo que cobra a mais 244 milhões de euros no IMI.
Estamos, pois, num País carente de gente séria, sendo confrangedor
verificar o esforço e trabalho honesto de alguns, confrontando-se com a
impunidade de outros de vida e dinheiro fácil, tornando bem atual o ditado
popular que nos diz «quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado vem».
Dizia-se, no tempo do fascismo e no estertor do regime, que o País
estava a saque, pois a situação hoje e em democracia de opereta aproxima-se a
passos largos desse tempo de obscurantismo.
Perante esta calamidade, o presidente de alguns portugueses vai
perorando sobre o acesso à Internet que em Portugal ainda tem limitações ou que
os casos de corrupção não têm influência na credibilidade do País, cuja fotografia
em tons de negro acentuado, precisa com urgência de outra máquina para lhe
proporcionar cor, alegria, vontade de viver em justiça social, fraternidade,
igualdade e desenvolvimento económico, ou seja, as cores de Abril.
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