sexta-feira, 29 de maio de 2015

A flexibilização do emprego


                                  
Dizem os entendidos nas políticas de direita que quem cria trabalho são as empresas e não o Estado, ou seja, para eles a sociedade deve ser estruturada somente na base da livre iniciativa, pois o Estado não pode ter a incumbência de adequar os investimentos à coesão social, nem tão pouco considerar o emprego como um dos principais objetivos da ação governativa, ignorando, portanto, a Declaração Universal dos Direitos do Homem e a Constituição da República Portuguesa, documentos estes que colocaram, em termos civilizacionais, o direito ao trabalho com direitos na ordem do dia dos países a nível global e do nosso País à escala particular.
Dizem os entendidos nas políticas de direita que os conceitos vertidos nos documentos acima já não se adequam aos dias de hoje, não são modernos e o que é preciso é flexibilizar o emprego para desenvolver a economia, financeirizando-a e assim enriquecendo os acionistas, pois esta é a via necessária.
E os resultados conhecidos até abonam esta opção de carater ideológico, na medida em que, se lançarmos os olhos para alguns dos resultados das empresas cotadas na Bolsa de Valores, verificamos que os dividendos distribuídos (pagos) e referentes ao ano de 2014 aumentaram em 170 milhões de euros face ao ano anterior, sendo certo que boa parte das empresa mencionadas, estratégicas para o País, foram privatizadas há pouco tempo, endividaram-se para cumprirem os pagamentos e reduziram drasticamente o investimento, casos da EDP e da PT, mas ainda mais sintomática é a situação da SONAE SGPS, a qual, apesar de ter apresentado em 2011 resultados líquidos negativos de 63 milhões de euros, pagou dividendos de 66,2 milhões e da ZON, agora NOS, que em 2012 obtendo lucros de 22 milhões de euros, distribuiu 61,8 milhões aos acionistas.
Dizem os entendidos nas políticas de direita que assim é que estamos no caminho certo para um desenvolvimento correto da economia, apesar de nos exemplos apresentados nem sequer estar contemplada ainda a Banca, onde reina como se sabe uma corrupção escandalosa, salvo algumas honrosas exceções, um sector que continua a ser alvo de benefícios fiscais e redução de impostos em sede de IRC e agora o Novo Banco com um perdão fiscal que pode atingir 445 milhões de euros.
Paralelamente e até aos dias de hoje, continua a destruição de emprego, tendo como resultado em inventariação de 2014 efetuada pelos entendidos nas políticas de direita de 698.300 desempregados, mas atingindo, de facto, mais de um milhão, 100 mil dos quais jovens com formação superior, se tivermos em conta os emigrados, os frequentadores de cursos de formação, aqueles já no desemprego atualmente e também os inativos sem esperança de encontrar um lugar no mundo laboral, sem subsídio de desemprego e com RSI (Rendimento Social de Inserção).
O sector produtivo (agricultura, pesca, indústria, construção civil, energia) teve uma diminuição de 786.000 postos de trabalho, entre 2004 e 2014 e somente no sector terciário se contabilizou uma subida de 144.00, levando à conclusão lógica de que a economia portuguesa se encaminha fortemente para a terciarização, a qual já representa 68% do emprego total no nosso País e onde se incluem o comércio a retalho, a hotelaria, a segurança, o turismo e os chamados call-centers, serviços estes em boa parte caracterizados pelos baixos salários e a precariedade, prestados em elevado grau por trabalho feminino, quantas vezes isento de direitos.

Se este panorama representa, como dizem os entendidos nas políticas de direita, o modelo a seguir para desenvolver o País e criar riqueza, submetendo ainda aos interesses dos credores o interesse nacional, então nunca entregaremos a carta a Garcia, sendo por essa razão urgente a mudança de rumo e de políticas.

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