Dizem os entendidos nas políticas de direita que quem cria trabalho são
as empresas e não o Estado, ou seja, para eles a sociedade deve ser estruturada
somente na base da livre iniciativa, pois o Estado não pode ter a incumbência
de adequar os investimentos à coesão social, nem tão pouco considerar o emprego
como um dos principais objetivos da ação governativa, ignorando, portanto, a Declaração
Universal dos Direitos do Homem e a Constituição da República Portuguesa,
documentos estes que colocaram, em termos civilizacionais, o direito ao
trabalho com direitos na ordem do dia dos países a nível global e do nosso País
à escala particular.
Dizem os entendidos nas políticas de direita que os conceitos vertidos
nos documentos acima já não se adequam aos dias de hoje, não são modernos e o
que é preciso é flexibilizar o emprego para desenvolver a economia,
financeirizando-a e assim enriquecendo os acionistas, pois esta é a via necessária.
E os resultados conhecidos até abonam esta opção de carater ideológico,
na medida em que, se lançarmos os olhos para alguns dos resultados das empresas
cotadas na Bolsa de Valores, verificamos que os dividendos distribuídos (pagos)
e referentes ao ano de 2014 aumentaram em 170 milhões de euros face ao ano
anterior, sendo certo que boa parte das empresa mencionadas, estratégicas para
o País, foram privatizadas há pouco tempo, endividaram-se para cumprirem os
pagamentos e reduziram drasticamente o investimento, casos da EDP e da PT, mas ainda
mais sintomática é a situação da SONAE SGPS, a qual, apesar de ter apresentado
em 2011 resultados líquidos negativos de 63 milhões de euros, pagou dividendos de
66,2 milhões e da ZON, agora NOS, que em 2012 obtendo lucros de 22 milhões de
euros, distribuiu 61,8 milhões aos acionistas.
Dizem os entendidos nas políticas de direita que assim é que estamos no
caminho certo para um desenvolvimento correto da economia, apesar de nos
exemplos apresentados nem sequer estar contemplada ainda a Banca, onde reina como
se sabe uma corrupção escandalosa, salvo algumas honrosas exceções, um sector
que continua a ser alvo de benefícios fiscais e redução de impostos em sede de
IRC e agora o Novo Banco com um perdão fiscal que pode atingir 445 milhões de
euros.
Paralelamente e até aos dias de hoje, continua a destruição de emprego,
tendo como resultado em inventariação de 2014 efetuada pelos entendidos nas
políticas de direita de 698.300 desempregados, mas atingindo, de facto, mais de
um milhão, 100 mil dos quais jovens com formação superior, se tivermos em conta
os emigrados, os frequentadores de cursos de formação, aqueles já no desemprego
atualmente e também os inativos sem esperança de encontrar um lugar no mundo
laboral, sem subsídio de desemprego e com RSI (Rendimento Social de Inserção).
O sector produtivo (agricultura, pesca, indústria, construção civil,
energia) teve uma diminuição de 786.000 postos de trabalho, entre 2004 e 2014 e
somente no sector terciário se contabilizou uma subida de 144.00, levando à conclusão
lógica de que a economia portuguesa se encaminha fortemente para a
terciarização, a qual já representa 68% do emprego total no nosso País e onde
se incluem o comércio a retalho, a hotelaria, a segurança, o turismo e os
chamados call-centers, serviços estes
em boa parte caracterizados pelos baixos salários e a precariedade, prestados em
elevado grau por trabalho feminino, quantas vezes isento de direitos.
Se este panorama representa, como dizem os entendidos nas políticas de
direita, o modelo a seguir para desenvolver o País e criar riqueza, submetendo
ainda aos interesses dos credores o interesse nacional, então nunca
entregaremos a carta a Garcia, sendo por essa razão urgente a mudança de rumo e
de políticas.
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