sexta-feira, 15 de maio de 2015

A voz do dono

                                                
O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa comemorou-se no passado dia 3 e a propósito desta efeméride foi tornado público um relatório da Freedom House, organização de defesa dos direitos humanos, que nos reporta crescentes ameaças sobre o direito de informar e onde é salientado o seguinte facto: «os governos usaram as leis de segurança e antiterrorismo como pretexto para silenciar vozes críticas e os donos dos meios de comunicação social tentaram manipular o conteúdo noticioso para servir os seus interesses políticos e empresariais».
Talvez surfando nesta onda securitária, eis que surge na Assembleia da República uma proposta de PS, PSD e CDS com a pretensão de alterar a forma como é feita a cobertura jornalística das campanhas eleitorais, forma essa seguida sem obstáculos e num quadro legal desde 1975 e colocando, portanto, esta iniciativa no já extenso rol das tentativas de silenciamento de outras forças políticas, nomeadamente as que, tendo no seu já longínquo e honroso historial a luta tenaz contra a exploração, as desigualdades, as injustiças sociais e contra o caminho de desastre hoje em curso no nosso País, não se submetem ao pensamento único e à discriminação.  
O coro de protestos públicos e institucionais surgidos perante este verdadeiro atentado à liberdade de imprensa, obrigou ao recuo atabalhoado e à retirada da proposta que também foi alvo duma carta, aliás, também de conhecimento geral e subscrita pela maioria dos diretores editoriais dos chamados órgãos de comunicação social de referência, intitulada «Pela Liberdade de Informação».
E é aqui que a porca torce o rabo como bem diz o povo, pois todos sabemos por onde tem andado a Informação no nosso País, cada vez mais parcial, manipuladora e censória, ao serviço do grande capital dominante que lhe dá o ser e lhe exige a consequente obediência aos respetivos interesses, razão pela qual a referida carta assume o carater dum despudorado exercício de hipocrisia.
É que não basta proclamar «o direito à informação deve ser salvaguardado, com respeitados princípios da liberdade, independência e imparcialidade dos órgãos de comunicação social e dos jornalistas face a todas as forças políticas e a todas as candidaturas» ou «a cobertura jornalística da campanha eleitoral deve ter a ponderação entre o princípio da não discriminação das candidaturas e a autonomia e liberdade editorial dos órgãos de comunicação social» e na prática, salvo honrosas exceções, utilizar a propaganda, a perseguição e a sofisticada filtragem informativa, assim condicionando o trabalho dos profissionais e os conteúdos noticiosos, muito ao gosto dos velhos tempos fascizantes vividos no nosso País, mas também do regime nazi em que Goebbels era seu expoente máximo.
Entre nós, sobressaem alguns notórios exemplos recentes, casos dos escândalos bancários no BPN, BPP, BES e a forma discricionária de tratamento dos responsáveis, antes e depois do conhecimento destes casos de corrupção, mas até nos noticiários internacionais em que é notória a manipulação informativa e onde se avolumam omissões, meias verdades, distorções, defendendo claramente os interesses imperialistas, casos das situações da Jugoslávia, Iraque, Líbia, Afeganistão, Síria, Ucrânia, Venezuela.
Entre portas de novo e no plano da cobertura pela comunicação social dos próximos atos eleitorais e da variada atividade política nacional, é forçoso impedir os objetivos antidemocráticos que andam no ar de restringir a liberdade de imprensa, assegurando a atuação dos serviços públicos de televisão e rádio sem governamentalização, respeitando os direitos dos profissionais das respetivas áreas e reforçando a intervenção da Comissão Nacional de Eleições e da Entidade Reguladora para a Comunicação Social

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