A presente legislatura ficará indelevelmente caracterizada pela série
de acontecimentos que marcaram cultural e profissionalmente a carreira do atual
primeiro-ministro, ou seja o respetivo currículo.
Desde logo o seu «lançamento» em termos profissionais pela mão do amigo
Ângelo Correia, alcandorando-o à administração de várias empresas pelas quais
passou a correr, exceto na Tecnoforma, onde se manteve um par de anos e
auferindo alguns milhares de euros que vieram a colidir com a sua presença na
Assembleia da República, situação de que não se lembrava, assim como também se
esqueceu de cumprir as obrigações fiscais, alegando ignorância.
Durante a campanha eleitoral, que o tornou chefe do executivo,
notabilizou-se pela facilidade com que prometeu mundos e fundos, os quais a
vida real acabou por desmistificar, mas nem por essa razão mudou de ritmo, ao
ponto de pretender ir mais além das medidas da troika internacional e levando o País à situação de miséria e
pobreza de todos conhecida.
As suas diretrizes, propaladas aos quatro ventos como as melhores e as
necessárias mas que nos continuam a afundar social e economicamente, só obtêm
eco nos correligionários que, pela voz do líder parlamentar, chegaram ao
desplante de considerar que «os portugueses não estão melhor, mas o País está
muito melhor», ignorando o desemprego que não cessa de aumentar, a precariedade
laboral, os vinte por cento de portugueses e respetivas famílias, incluindo muitos
milhares de crianças na pobreza, os roubos obscenos das reformas e pensões, a
emigração acentuada de jovens com boa preparação profissional, anteriormente mandados
emigrar e agora convidados a regressar, as privatizações de empresas
estratégicas, levando a população a pagar mais caro os combustíveis, os
Transportes, a eletricidade e o gás, os Correios e Telecomunicações, a própria
Justiça, à qual recorre agora só quem pode, a destruição das Funções Sociais do
Estado, características essenciais dum Estado de Direito, pela coesão social
que imprimem, a destruição do Serviço Nacional de Saúde, da Educação e da
Segurança Social, serviços de proximidade, mas cada vez mais longe das
populações e assim contribuindo para aumentar as assimetrias regionais, enfim,
a tal mudança de paradigma da sociedade portuguesa que nos trouxe ao estado
calamitoso em que nos encontramos, sempre com a preciosa «bênção» do presidente
de alguns portugueses e fiel do BES que retoma o apelo para nos virarmos para o
mar, tal como os noruegueses, sector por ele destruído, assim como a agricultura
e a indústria, quando era chefe do governo.
Não pode ainda deixar de constituir tema para os historiadores desta
legislatura o problema da corrupção, os meios humanos e materiais para a
combater, os resultados obtidos, os prevaricadores julgados e os condenados,
sendo de salientar, por essa razão e sintomaticamente, um episódio revelador ocorrido
há dias na inauguração duma queijaria em Aguiar da Beira, onde o
primeiro-ministro afirmou para quem o quis ouvir que «está ali o meu amigo Dias
Loureiro, conheceu mundo, é um empresário bem-sucedido, se nós queremos vencer
na vida, se queremos ter uma economia desenvolvida, pujante, temos de ser
exigentes, metódicos» tal e qual sem papas na língua. No entanto, não
constituirá mais um motivo de esquecimento para Passos Coelho, que o doutor
Dias Loureiro fez parte do Conselho de Estado do qual foi obrigado a sair por
motivo da descoberta de burla no BPN, levando ao sumiço de 40 milhões de euros,
ignorando-se, portanto, se estamos perante mais um paradigma de promoção empresarial
ou dum símbolo de corrupção a encobrir. Sinais dos tempos que urge mudar.
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