O Conselho de Ministros espanhol reuniu-se há dias e no final do
conclave o primeiro-ministro do País vizinho, Mariano Rajoy, resolveu debitar
para os jornalistas presentes algumas palavras sobre a situação política em
Portugal.
Por arrogância inqualificável ou, quem sabe, saboreando recordações dos
velhos tempos da dinastia filipina, ignorou que se referia a um País soberano e
independente ao afirmar: «Sou partidário de que governe sempre o mais votado.
Há precedentes que não me agradam. Vimo-lo em municípios em que todos se
puseram contra o PP e não gostei. O que estou a ver agora em Portugal também
não me agrada. Uma governação do PS apoiada pelo BE e pelo PCP representará um
retrocesso face aos avanços conseguidos nos últimos anos».
Em relação aos avanços fica-nos, entretanto, a duvida se pretende
referir-se ao favorecimento do grande capital explorador e se regozija com os
imorais cortes de salários aos trabalhadores, de reformas e pensões aos idosos,
de falências de micro, pequenas e médias empresa, ou se terá no pensamento que
os congéneres políticos portugueses deviam ir ainda mais além destas medidas
que criaram dois milhões de portugueses pobres, emigração acentuada e
desemprego que não cessa, empobrecendo o povo e vendendo o País a patacos.
Mas não ficou por aqui o nosso vizinho do lado, pois já anteriormente
tinha afirmado que «uma coligação entre o Partido Socialista, o Podemos de lá e
o Partido Comunista seria muito negativa para os interesses de todos», assim
mesmo sem meias tintas e mais acrescentou que «espero que isso não se passe em
Espanha» ou seja, estamos perante mais um seguidor do pensamento único, porém,
olvidando que não está a pronunciar-se sobre nenhuma colónia espanhola, a não
ser que esta narrativa insólita constitua uma encomenda dos correlegionário portugueses para dar uma mãozinha à sua recondução nos destinos do nosso País,
ideia, para já, de concretização bastante difícil ou impossível.
O Sr. Rajoy deve compreender que o presente e o futuro de Portugal, tal
como o passado, pertencem e pertenceram aos portugueses e é com eles que as
decisões do País são tomadas, mesmo que esta realidade não agrade ao
primeiro-ministro espanhol nem aos seus apoiantes políticos de direita de lá e
de cá.
É curioso constatar que, quando a direita vê surgir no horizonte a
possibilidade da subida ao poder da esquerda, no nosso caso através de maioria
parlamentar, mas sempre no cumprimento escrupuloso do conteúdo da Constituição,
logo levanta enorme vozearia e argumenta boçalmente os mais inacreditáveis
motivos contra, sem qualquer respeito pela democracia, palavra que lhe enche a
boca, mas somente quando lhe convém e é vê-los e ouvi-los em debates
televisivos e estações de rádio ou mesmo em artigos jornalísticos de duvidoso
conteúdo a mando dos proprietários da comunicação social dita de referência.
Como é costume dizer-se o exemplo vem de cima, mas nem sempre assim é,
pois no momento presente nem o mais alto magistrado da Nação lusa consegue
seguir este preceito e distanciar-se, seguindo a Constituição, ao pretender
limitar os que podem ou não exercer funções governativas, tentando excluir
partidos fundadores da democracia portuguesa do acesso ao poder, sem respeito
pelo eleitorado, lembrando-se, talvez saudosamente, dos velhos e nebulosos tempos
da repressão.
Ambrose Evans Pritchard, jornalista e editor no jornal The Daily
Telegraph especializado em questões políticas e económicas ao nível mundial e
insuspeito de professar ideias subversivas ou conotadas com o comunismo,
lembrou há dias que «Cavaco Silva está efectivamente a usar o seu cargo para
impor uma agenda ideológica reaccionária, em nome do interesse dos credores».
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