sábado, 19 de março de 2016

As opções da Comissão Europeia

                                        
Muitos de nós estarão certamente lembrados do esforço de convencimento efectuado pelos incondicionais adeptos da nossa entrada para a União Europeia a qualquer custo, onde encontraríamos e recolheríamos em pé de igualdade os benefícios da coesão social e desenvolvimento económico, situados no tal pelotão da frente, mas seguramente também não esquecerão os avisos de bom senso e cautela daqueles, sem dúvida poucos ou até únicos, que nos convocavam para uma atitude criteriosa na nossa escolha como povo independente e soberano.
Este regresso a esse tempo foi-me sugerido pelo debate entre António Guterres e Durão Barroso, promovido há dias pela RTP e tendo certamente em consideração o percurso das duas personalidades no âmbito internacional e, atrevo-me a considerar, dada a circunstância de ambos terem abandonado o País que se encontrava de «tanga e no pantanal», indo procurar conhecimentos e sabedoria em terras «estranhas» que aproveitariam para valorização da sua terra.
Devo confessar a minha desilusão porque nem um teve a coragem de reconhecer a sua infeliz passagem pela Comissão Europeia, onde esteve sempre alinhado com as opções belicistas e militaristas do imperialismo e da NATO, o episódio da cimeira das Lages é sintomático, descurando as prometidas políticas de coesão social e desenvolvimento económico adequado aos países mais necessitados, nem outro teve o desassombro de mencionar essas falhas, talvez por delicadeza, bem patentes, aliás, na área dos refugiados, onde mais desenvolveu e bem a sua actividade, situação que vem originando um cortejo de centenas de milhares de vítimas mortais, destruição de culturas e patrimónios milenares.
E este desabafo é bem a contra gosto, pois seria certamente mais reconfortante o reconhecimento pela positiva de qualquer percurso pelas «estranjas» dum conterrâneo ou compatriota nosso, sendo verdade que os há a dar boa conta do recado, como é costume dizer-se, tanto na diplomacia, na investigação científica, nas artes, como na gestão bancária ou no desporto, não esquecendo os milhares de emigrantes disseminados na diáspora e considerados competentes trabalhadores.
Os encómios tecidos à gestão da Comissão Europeia pecam, desde sempre, por sustentabilidade dadas as desigualdades de tratamento entre países, aliás, hoje bem visíveis, com a ameaça da Grã-Bretanha de se afastar da União Europeia e das concessões inadmissíveis para evitar tal acontecimento, incluindo planos para reinstalação dos refugiados e novas leis de espionagem, ofendendo direitos humanos, em flagrante contraste com as ingerências e pressões utilizadas contra outros, relativamente aos respectivos orçamentos de estado de que fomos alvo e não os únicos, mas também relativamente à renegociação das respectivas dívidas.
Não se instalou por mero acaso um mal-estar visível, quer nos países nórdicos, quer nos da orla mediterrânica, mas também nos mais próximos do nosso País, nem tão pouco podemos considerar estranho que o actual vice-presidente da Comissão Europeia, Sr. Valdis Dombrovskis, afirme agora que há discussões em curso relativas à reestruturação das dívidas soberanas, mas também quanto ao espaço Schengen de livre circulação que abrange 26 países e ainda sobre as razões pelas quais a injecção de dinheiro nos sistemas financeiros não se repercute no desenvolvimento das economias, mas sobra para a corrupção.

O processo de integração capitalista na Europa Comunitária encontra-se, pois, em profunda crise, desagregação, regressão social e ausência de valores, sendo urgente a sua ruptura, razões pelas quais se torna no mínimo surpreendente vir para a RTP dar a entender despudoradamente, como fez Durão Barroso ex-responsável por estas políticas desastrosas, que tudo está no caminho certo.

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