Muitos
de nós estarão certamente lembrados do esforço de convencimento efectuado pelos
incondicionais adeptos da nossa entrada para a União Europeia a qualquer custo,
onde encontraríamos e recolheríamos em pé de igualdade os benefícios da coesão
social e desenvolvimento económico, situados no tal pelotão da frente, mas seguramente
também não esquecerão os avisos de bom senso e cautela daqueles, sem dúvida
poucos ou até únicos, que nos convocavam para uma atitude criteriosa na nossa
escolha como povo independente e soberano.
Este
regresso a esse tempo foi-me sugerido pelo debate entre António Guterres e
Durão Barroso, promovido há dias pela RTP e tendo certamente em consideração o
percurso das duas personalidades no âmbito internacional e, atrevo-me a
considerar, dada a circunstância de ambos terem abandonado o País que se
encontrava de «tanga e no pantanal», indo procurar conhecimentos e sabedoria em
terras «estranhas» que aproveitariam para valorização da sua terra.
Devo
confessar a minha desilusão porque nem um teve a coragem de reconhecer a sua
infeliz passagem pela Comissão Europeia, onde esteve sempre alinhado com as
opções belicistas e militaristas do imperialismo e da NATO, o episódio da
cimeira das Lages é sintomático, descurando as prometidas políticas de coesão
social e desenvolvimento económico adequado aos países mais necessitados, nem
outro teve o desassombro de mencionar essas falhas, talvez por delicadeza, bem
patentes, aliás, na área dos refugiados, onde mais desenvolveu e bem a sua
actividade, situação que vem originando um cortejo de centenas de milhares de
vítimas mortais, destruição de culturas e patrimónios milenares.
E
este desabafo é bem a contra gosto, pois seria certamente mais reconfortante o
reconhecimento pela positiva de qualquer percurso pelas «estranjas» dum
conterrâneo ou compatriota nosso, sendo verdade que os há a dar boa conta do
recado, como é costume dizer-se, tanto na diplomacia, na investigação
científica, nas artes, como na gestão bancária ou no desporto, não esquecendo
os milhares de emigrantes disseminados na diáspora e considerados competentes
trabalhadores.
Os
encómios tecidos à gestão da Comissão Europeia pecam, desde sempre, por
sustentabilidade dadas as desigualdades de tratamento entre países, aliás, hoje
bem visíveis, com a ameaça da Grã-Bretanha de se afastar da União Europeia e
das concessões inadmissíveis para evitar tal acontecimento, incluindo
planos para reinstalação dos refugiados
e novas leis de espionagem, ofendendo direitos humanos, em flagrante contraste
com as ingerências e pressões utilizadas contra outros, relativamente aos
respectivos orçamentos de estado de que fomos alvo e não os únicos, mas também
relativamente à renegociação das respectivas dívidas.
Não
se instalou por mero acaso um mal-estar visível, quer nos países nórdicos, quer
nos da orla mediterrânica, mas também nos mais próximos do nosso País, nem tão
pouco podemos considerar estranho que o actual vice-presidente da Comissão
Europeia, Sr. Valdis Dombrovskis, afirme agora que há discussões em curso
relativas à reestruturação das dívidas soberanas, mas também quanto ao espaço
Schengen de livre circulação que abrange 26 países e ainda sobre as razões
pelas quais a injecção de dinheiro nos sistemas financeiros não se repercute no
desenvolvimento das economias, mas sobra para a corrupção.
O
processo de integração capitalista na Europa Comunitária encontra-se, pois, em
profunda crise, desagregação, regressão social e ausência de valores, sendo
urgente a sua ruptura, razões pelas quais se torna no mínimo surpreendente vir
para a RTP dar a entender despudoradamente, como fez Durão Barroso
ex-responsável por estas políticas desastrosas, que tudo está no caminho certo.
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