Não pode haver
relativismo quanto à condenação dos atentados terroristas que continuam a
assolar as vidas de cidadãos europeus, africanos e asiáticos, assim como não
pode existir qualquer espécie de preconceito relativamente à denúncia da origem
de toda esta situação
que radica
essencialmente na falta de respeito por estados soberanos, religiões e culturas
diferentes das nossas, na insana procura de hegemonismo, na rapina de recursos
naturais, e na conquista de posições geoestratégicas, ou seja, no terrorismo de
estado.
Pertencemos a um
continente que marcou globalmente, pela positiva e também negativamente, a vida
de gerações de povos, mas com a sua mística europeia os portugueses
constituíram um exemplo ao saberem cultivar a miscigenação, bem patente no carácter luso espelhado nos cinco continentes.
O presidente dos
Estados Unidos, de visita a Cuba, onde testou a dignidade do povo cubano, fez
promessas que sabe não poder cumprir, mas preferiu enlear-se na narrativa dos
direitos humanos, simulando esquecer que tem sido a política externa estado
unidense a maior causadora dos conflitos que actualmente preocupam a humanidade,
não se vislumbrando no horizonte uma forte vontade política para arrepiar
caminho, com a agravante da União Europeia seguir incondicionalmente o exemplo desastroso
trilhado pelas políticas belicistas e expansionistas do império que nos estão a
conduzir para patamares de assustadora insegurança ao nível global e a
contribuir para uma imparável onda de refugiados que nos batem à porta e não
podemos ignorar, apesar dos muros da vergonha erguidos por alguns países e de outros
constrangimentos em preparação.
Os líderes europeus
apressam-se nas condenações indignadas, os comentadores seguem-
lhes o rasto e nos
debates aumenta o coro sancionatório hipócrita e preconceituoso em que todos se
enredam num círculo vicioso, incapazes de reconhecerem a origem desta situação
que nos está a lançar para o caos, mas não tiveram a mesma atitude quando
assistiram e apoiaram a invasão do Iraque e as intervenções na Líbia,
Afeganistão, Somália, Sudão, Iémen, Mali e agora da Síria, nem tão pouco abrem
a boca para o posicionamento da Arábia Saudita, regime arcaico e feudal, aliado
dos Estados Unidos que, juntamente com a França, proporcionam o material bélico
necessário às aventuras de hoje e de ontem, que têm dizimado atrozmente o
heróico povo palestiniano, por exemplo, com a prestimosa ajuda do regime
sionista de Israel e estão a contribuir para o alastramento da guerra na Síria,
onde já opera no contrabando petrolífero o regime turco, membro da NATO.
Se a esta maléfica
panóplia acrescentarmos o apoio da União Europeia ao regime pró nazi da
Ucrânia, então somos levados a acreditar que estão a ser criadas as condições
para um conflito mais alargado cujo desfecho se torna cada vez mais
imprevisível.
No entanto e por cá,
alguma luz pareceu surgir nesta falta de denúncia das origens destes
acontecimentos, não sabemos se com carácter de continuidade, quando, via
comunicação social na RTP e no jornal das vinte horas do dia 22 do corrente,
tivemos oportunidade de ouvir pela primeira vez um alto responsável militar e
um jornalista especializado em questões internacionais, convidados a discorrer
sobre esta preocupante situação, os quais lançaram algumas pistas verosímeis
sobre os fundamentos da onda de insegurança dos dias de hoje e desassombradamente
entreabriram o livro da denúncia das políticas hegemónicas e militaristas.
Não podemos
esquecer que o terrorismo serve sempre as estratégias e os interesses mais
reaccionários e sinistros e é inseparável das políticas de exploração e
opressão, assim como não devemos ignorar os perigos da instrumentalização de
genuínos sentimentos de indignação que podem resultar na imposição de medidas
de conteúdo antidemocrático e o desenvolvimento de políticas desumanas perante
o drama dos refugiados, assim como para a promoção de sentimentos racistas e
xenófobos que estão a alimentar o crescimento na Europa de forças de
extrema-direita de cariz nazi-fascista.
A resposta ao
terrorismo e à lógica de conflito que o alimenta passa necessariamente pelo
combate às suas mais profundas causas, políticas, económicas e sociais, pela
defesa e afirmação dos valores da liberdade, da democracia, da soberania e da independência
dos Estados e por uma política de relações internacionais de desanuviamento, de
diálogo e de paz que eliminem as possibilidades do aparecimento de conflitos
locais e globais.
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