quinta-feira, 31 de março de 2016

O ódio paira no ar europeu

                                              
Não pode haver relativismo quanto à condenação dos atentados terroristas que continuam a assolar as vidas de cidadãos europeus, africanos e asiáticos, assim como não pode existir qualquer espécie de preconceito relativamente à denúncia da origem de toda esta situação 
que radica essencialmente na falta de respeito por estados soberanos, religiões e culturas diferentes das nossas, na insana procura de hegemonismo, na rapina de recursos naturais, e na conquista de posições geoestratégicas, ou seja, no terrorismo de estado.
Pertencemos a um continente que marcou globalmente, pela positiva e também negativamente, a vida de gerações de povos, mas com a sua mística europeia os portugueses constituíram um exemplo ao saberem cultivar a miscigenação, bem patente no carácter luso espelhado nos cinco continentes.
O presidente dos Estados Unidos, de visita a Cuba, onde testou a dignidade do povo cubano, fez promessas que sabe não poder cumprir, mas preferiu enlear-se na narrativa dos direitos humanos, simulando esquecer que tem sido a política externa estado unidense a maior causadora dos conflitos que actualmente preocupam a humanidade, não se vislumbrando no horizonte uma forte vontade política para arrepiar caminho, com a agravante da União Europeia seguir incondicionalmente o exemplo desastroso trilhado pelas políticas belicistas e expansionistas do império que nos estão a conduzir para patamares de assustadora insegurança ao nível global e a contribuir para uma imparável onda de refugiados que nos batem à porta e não podemos ignorar, apesar dos muros da vergonha erguidos por alguns países e de outros constrangimentos em preparação.
Os líderes europeus apressam-se nas condenações indignadas, os comentadores seguem-
lhes o rasto e nos debates aumenta o coro sancionatório hipócrita e preconceituoso em que todos se enredam num círculo vicioso, incapazes de reconhecerem a origem desta situação que nos está a lançar para o caos, mas não tiveram a mesma atitude quando assistiram e apoiaram a invasão do Iraque e as intervenções na Líbia, Afeganistão, Somália, Sudão, Iémen, Mali e agora da Síria, nem tão pouco abrem a boca para o posicionamento da Arábia Saudita, regime arcaico e feudal, aliado dos Estados Unidos que, juntamente com a França, proporcionam o material bélico necessário às aventuras de hoje e de ontem, que têm dizimado atrozmente o heróico povo palestiniano, por exemplo, com a prestimosa ajuda do regime sionista de Israel e estão a contribuir para o alastramento da guerra na Síria, onde já opera no contrabando petrolífero o regime turco, membro da NATO.
Se a esta maléfica panóplia acrescentarmos o apoio da União Europeia ao regime pró nazi da Ucrânia, então somos levados a acreditar que estão a ser criadas as condições para um conflito mais alargado cujo desfecho se torna cada vez mais imprevisível.     
No entanto e por cá, alguma luz pareceu surgir nesta falta de denúncia das origens destes acontecimentos, não sabemos se com carácter de continuidade, quando, via comunicação social na RTP e no jornal das vinte horas do dia 22 do corrente, tivemos oportunidade de ouvir pela primeira vez um alto responsável militar e um jornalista especializado em questões internacionais, convidados a discorrer sobre esta preocupante situação, os quais lançaram algumas pistas verosímeis sobre os fundamentos da onda de insegurança dos dias de hoje e desassombradamente entreabriram o livro da denúncia das políticas hegemónicas e militaristas. 
Não podemos esquecer que o terrorismo serve sempre as estratégias e os interesses mais reaccionários e sinistros e é inseparável das políticas de exploração e opressão, assim como não devemos ignorar os perigos da instrumentalização de genuínos sentimentos de indignação que podem resultar na imposição de medidas de conteúdo antidemocrático e o desenvolvimento de políticas desumanas perante o drama dos refugiados, assim como para a promoção de sentimentos racistas e xenófobos que estão a alimentar o crescimento na Europa de forças de extrema-direita de cariz nazi-fascista.

A resposta ao terrorismo e à lógica de conflito que o alimenta passa necessariamente pelo combate às suas mais profundas causas, políticas, económicas e sociais, pela defesa e afirmação dos valores da liberdade, da democracia, da soberania e da independência dos Estados e por uma política de relações internacionais de desanuviamento, de diálogo e de paz que eliminem as possibilidades do aparecimento de conflitos locais e globais.

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