quarta-feira, 30 de março de 2016

Um Partido diferente


Normalmente, quando pretendemos caracterizar uma pessoa, uma instituição, um governo ou um País surge-nos a natural reacção de procurarmos termos comparativos, o que não sucede, porém, com o PCP pela heterogeneidade da sua formação.

Inspirado num clima de ascenso revolucionário provocado pelas grandes lutas travadas pelos trabalhadores portugueses, culminando na vitória da Revolução Republicana de 1910 que colocou um ponto final num regime monárquico anacrónico e parasitário e realizou importantes progressos no plano das liberdades e direitos fundamentais, na educação e na cultura, na laicização do Estado e dotou o País duma Constituição avançada para a época, a Constituição de 1911, mas resultante também do impacte da Revolução Socialista de Outubro na União Soviética, assim foi fundado o PCP.
A criação do PCP, em 1921, foi pois expressão de uma necessidade histórica da classe operária portuguesa e o resultado da evolução do movimento operário, porque constituiu a concretização do instrumento indispensável às aspirações de uma classe decidida a transformar a sociedade, marcando o início de uma nova etapa do movimento operário em Portugal e de uma nova fase da vida nacional.
Não foram fáceis os primeiros anos de vida do PCP, pois a criação de um partido comunista em Portugal implicou uma exigente batalha política e ideológica contra a influência e concepções tácticas ou práticas oportunistas de outras forças políticas, que exerciam forte influência no seio do movimento operário, mas também porque desde o primeiro dia enfrentou a repressão da Primeira República e logo a partir de 1926, com o golpe militar de 28 de Maio que conduziu à instauração da ditadura fascista e com apenas cinco anos de existência, foi proibido, perseguido e forçado a desenvolver a sua actividade nas condições da mais severa clandestinidade e brutal repressão, condições para as quais não estava naturalmente preparado, mas soube resistir-lhes.
É a partir de 1929, com a Conferência de Abril e sob a direcção de Bento Gonçalves, aí designado Secretário-geral, que o Partido, virando-se audaciosamente para a classe operária, forjando uma organização capaz de actuar na clandestinidade, cria uma imprensa clandestina, o Avante e O Militante, organiza-se segundo a concepção leninista de um partido de novo tipo e inicia verdadeiramente uma actividade de massas, traduzida num vasto conjunto de importantes lutas, onde pereceram muitos dos seus elementos.
O prestígio e a importância política do PCP só foram possíveis com a rigorosa definição científica dos seus objectivos, da sua táctica e da sua linha política, forjadas ao longo dos anos e traduzidas nos seus Congressos clandestinos, designadamente em 1965, no VI Congresso e no Programa para a Revolução Democrática e Nacional aí aprovado, cujas orientações, Rumo à Vitória, haveriam de abrir caminho ao derrubamento do fascismo, à conquista das liberdades e à concretização da Revolução de Abril de 1974.
O prestígio e a importância do PCP só foram possíveis com a sua inequívoca e consequente política de conformidade de opiniões ao longo destes anos, lutando pela unidade da classe operária e de todos os trabalhadores, criando Comissões de Unidade nas empresas e praças de jorna, desenvolvendo uma notável actividade nos Sindicatos e na constituição, dinamização e orientação de organizações democráticas unitárias. O desenvolvimento orgânico do movimento democrático, o reforço da sua capacidade de acção só foi possível com a contribuição do PCP, salvaguardando sempre a sua independência de classe e decisão, sem ceder perante pressões de inimigos, nem de aliados.
O prestígio e a importância política do PCP só foram possíveis com a sua ideologia, o marxismo-leninismo, teoria revolucionária, por natureza antidogmática, que constitui a base teórica do Partido permanentemente enriquecida pela sua intervenção e experiência próprias e pela prática do movimento comunista e revolucionário mundial.
No 95º aniversário da sua existência, o PCP não esqueceu o evoluir dos tempos e, adaptando-se aos mesmos, mas mantendo os seus princípios, identifica-se com os interesses nacionais, defendendo intransigentemente a soberania, a independência do País, a Constituição e, acreditando sempre no advento do homem novo, apoia a juventude portuguesa, mas não esquecendo a transformação da sociedade mantém-se activo na Assembleia da República, nas Autarquias, no Parlamento Europeu e nas lutas laborais.

Sem comentários:

Enviar um comentário