terça-feira, 19 de novembro de 2013

O erário público ao serviço dos interesses privados

            Governo estimula concorrência desleal na Educação
Até ao presente momento, estão construídos 81 colégios privados com dinheiros públicos de norte a sul do País, muitos dos quais ao lado de escolas públicas e está já anunciado que o número de turmas financiadas será mantido, com 81.000 euros por cada uma. O Estado paga a privados 154 milhões de euros.
Trata-se, pois, dum incompreensível favorecimento duma parte dum sector (privado) em detrimento de outra (público), contrariando o conteúdo da Constituição nos seus princípios fundamentais e constituindo uma flagrante injustiça, criando fortes clivagens sociais e elitismo.
Não se trata de pretender aqui incentivar qualquer cruzada contra a escola privada ou criticar as opções de escolha dos pais, mas sim denunciar a atuação do executivo governamental que não consegue distinguir o trigo do joio, movido como está por uma ideologia retrógrada ao serviço do grande capital.
Alguns exemplos flagrantes: em Alfândega da Fé, 138 escolas públicas possuem capacidade suficiente para atenderem todos os alunos da região, em desertificação acentuada, no entanto, foram construídos 2 colégios privados; em Aveiro duas escolas privadas concorrem vantajosamente contra escolas públicas com capacidade para proporcionarem uma boa resposta aos alunos dessa zona; em Lamas o Colégio Santa Maria de Lamas, propriedade da Casa do Povo e doado por Américo Amorim, possui 7 edifícios com 120 salas de aula, campo de ténis e piscina, 76 turmas e 2.000 alunos, construção totalmente financiada com dinheiro público, 6 milhões e quinhentos mil euros, tendo ao lado os Agrupamentos de Paços de Brandão e Lourosa que perdem por ano 3 turmas para o privado; em Coimbra, através dos contratos de associação, foram criadas 141 turmas e o Colégio de S. Martinho, edificado sem licença de construção, irá receber 1 milhão 785 mil euros do erário público, quando existem 4 Escolas Públicas a trabalhar a 50% da sua capacidade; aqui a Escola Secundária José Falcão, a mais antiga da cidade, já teve mais de 3.000 alunos, tendo hoje 900 e é um edifício sem aquecimento, sem corte térmico e acústico nas janelas, com as paredes e canalizações degradadas, mas ao lado os colégios privados S. Teotónio e Rainha Santa Isabel de boa construção com fundos públicos até possuem aulas de ballet, piscinas e viaturas para transporte de alunos, contrastando com o Instituto Lordemão e as Escolas de S. Martinho, Souselas e Ançã para onde os alunos se deslocam a pé; nas Caldas da Rainha, o grupo GPS, potentado económico na área da Educação, é proprietário de 2 dos 14 colégios financiados e construídos numa zona previamente destinada a Escola Pública, sendo a construção autorizada pelo então secretário de estado José Canavarro e pelo diretor regional de educação José Almeida, no governo de gestão e a cinco dias das eleições, tendo estes senhores posteriormente ficado ao serviço do grupo GPS, como consultores e a não construção da Escola Pública determinado a respetiva indemnização ao empreiteiro; o Ensino Especial perde professores nos Agrupamentos Escolares das aldeias do interior, enquanto o Ensino Privado recebe fundos do Estado.
É de salientar que na criação destas parcerias ou promiscuidades entre público e privado aparecem com frequência antigos diretores da DREC (Direção Regional de Educação) para abençoarem estes procedimentos imorais apadrinhados pelo governo em que, com recursos dos nossos impostos, se privilegia o ensino privado.
Se a esta situação chocante adicionarmos os constrangimentos sentidos pelos professores com despedimentos, cortes nos seus vencimentos e desvalorização da sua carreira, com reflexos negativos nos alunos, podemos bem dizer que estamos em presença dum ataque insensato e imoral contra a Escola Pública.
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