quarta-feira, 30 de julho de 2014

O descalabro bancário

                                      
Como é do conhecimento geral a banca portuguesa é simultaneamente comercial, de investimento, através do dinheiro dos depositantes, e de retalho, recebendo depósitos e concedendo crédito, toda esta atividade com percentagem de risco elevada, pois não existe uma separação entre a atividade bancária comercial e a de investimento, como acontece noutros países.
O dinheiro que os banqueiros e acionistas possuem nos bancos corresponde a uma pequena percentagem do Ativo Total da Banca, segundo dados de 2013, apenas a 6,5% ao passo que os 93,5% restantes constituíam recursos alheios, ou seja, com 29 mil e 898 milhões de euros de capitais próprios controlavam 460 mil e 204 milhões de euros com um grau de alavancagem de 1 para 15,4 bom negócio sem dúvida.
Porém, é na forma como os banqueiros gerem o dinheiro depositado pelos clientes e utilizam a capacidade para conceder crédito acima do valor dos depósitos que se pode questionar esta atuação, a par do desvio de recursos, disponibilizados por empréstimos obtidos junto do Banco Central Europeu, para investimentos preferencialmente financeiros.
Esta gestão de risco elevado com o dinheiro dos depositantes e a desalavancagem para lá das regras da troika internacional implica na estagnação da economia e ocasiona a existência dos sacrifícios e injustiças aplicados à população portuguesa, com especial incidência na mais vulnerável economicamente.
Os exemplos que conhecemos do BPN, do BPP, do BANIF e agora do BES ajudam-nos a compreender melhor as razões pelas quais a nacionalização da banca ou o seu controlo público se tornam cada vez mais necessárias.
Está em jogo a defesa do interesse nacional e, por esse motivo, aguarda-se uma decidida intervenção do governo e do Banco de Portugal no sentido de evitar problemas graves, apesar de termos ouvido destas entidades um discurso otimista de que tudo está controlado.  
Percebe-se, no entanto, que o governo, o Banco de Portugal e demais estruturas e entidades públicas continuam a ocultar a verdadeira dimensão do problema, a encobrir responsabilidades no plano político e financeiro e a esconder as possíveis consequências para a economia nacional, para os trabalhadores e para o país que a situação no BES e no GES possa envolver.
No fundo, quer uns quer outros, temem o juízo do povo português sobre a política de direita, as orientações e decisões de sucessivos governos do PS, PSD e CDS que deram cobertura a estas situações e que agora envolvem um dos maiores grupos económicos do país.
Urge o apuramento da situação real, das responsabilidades e responsáveis até às últimas consequências e a aplicação dum conjunto de medidas de gestão que impeçam a utilização dos meios financeiros do Banco, evitando assim a repetição daquilo que aconteceu com o BPN, ao serem nacionalizados os prejuízos.  
A repetição escandalosa destas situações e as políticas seguidas pelo atual executivo governamental e pelos anteriores, com a financeirização da economia e a permissividade dos grupos financeiros privados em privilegiarem a atividade especulativa, impedem a banca de desempenhar o seu papel primordial de financiar a economia e apoiar as famílias. 

O contínuo cortejo de corrupção, especulação e apropriação do erário público que tanta falta faz às Funções Sociais do Estado e aos Serviços Públicos de proximidade, exige a demissão deste governo e a eleição dum governo patriótico e de esquerda que tenha os valores de Abril como objetivo para Portugal e para os portugueses.

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