O ministro da economia, de seu nome Pires de Lima, era até ao presente
um governante caracterizado por alguma contenção narrativa, um pouco afastado
dos cânones dos congéneres, os quais, a começar pelo chefe, já nos habituaram
às diatribes mais escabrosas e às mentiras mais escandalosas.
Porém e sem nada o fazer prever, o ministro resolveu mudar de rumo, não
se sabe bem se em cruzada auto promocional, receio de perder alguma das
carruagens do comboio governamental ou ainda se instado pelo presidente do
partido onde se encontra filiado, presidente esse propenso às irrevogabilidades
e às amizades para com ex-combatentes, feirantes e reformados ou pensionistas,
sempre pronto a dizer hoje aquilo que nega no dia seguinte.
O que é certo é que, no debate sobre o estado da nação realizado há
dias, o ministro da economia com ar sério e sem corar saiu-se com esta frase
lapidar que deixou os acólitos de boca aberta ou com sorrisos de assentimento,
«que orgulho eu tenho na economia portuguesa».
Por uma questão de ética ou boa educação escuso-me a transcrever aqui o
que terão dito e pensado os milhares de micro, pequenos e médios empresários
obrigados a encerrar portas na vigência deste governo, a par dos mais de
quinhentos mil portugueses lançados na pobreza no mesmo período, perfazendo no
total 20% da população, os desempregados, muitos dos quais já nem subsídio de
desemprego recebem, os forçados a emigrar que depois entram nas contas
governamentais para hipocritamente servirem para invocar descida do desemprego,
os reformados e pensionistas com pensões congeladas e outros com cortes nas
mesmas, mas obrigados a pagar uma contribuição extraordinária de solidariedade
e outra sobre o IRS, os milhares de agregados familiares enfrentando uma subida
também de IRS na ordem dos 30% ou as centenas de milhares de funcionários
públicos com cortes em média de um quarto nos seus salários e retirada de
direitos com tanto esforço obtidos.
Além deste descalabro, esqueceu-se o ministro da economia de referir, embora
tenha tentado apresentar sucesso, que o ritmo das exportações de bens está em
queda há vários meses e nem todos os bens e serviços possuem a mesma
importância na atividade exportadora, salvo raras e honrosas exceções, mas
tanto combustíveis, minérios, metais, como madeira, cortiça, papel e máquinas
estão, infelizmente, em franca desaceleração.
Para culminar, o ministro não teve qualquer pejo em afirmar
peremtoriamente que as exportações, no seu conjunto, aumentaram nos últimos
dois anos 30%, o que, a ser verdade, seria uma boa notícia, só que a realidade
cifra-se num modesto crescimento acumulado de 9,6% e ele sabe disso
perfeitamente.
Prossegue, pois, sem decoro, a tentativa de branqueamento dos
resultados das medidas governamentais ou a justificação das mesmas como
inevitáveis para o crescimento económico do País, quando a dura e crua
realidade se manifesta no empobrecimento acentuado da população e dos
trabalhadores com a contínua transferência de rendimentos do trabalho para o
capital, com a precarização do trabalho, com a destruição do aparelho
produtivo, com o prosseguimento das privatizações em áreas estratégicas para o
País, com a destruição das Funções Sociais do Estado e o prosseguimento da
financeirização da economia.
O chefe do executivo governamental, compulsivamente falso, como tem
acontecido desde a campanha eleitoral que o elegeu, passando pelas afirmações
em funções, novamente faz jus a esta designação, quando se pronuncia sobre a
preocupante situação no BES. Esta gente não serve, serve-se e deve ir embora
rapidamente.
Sem comentários:
Enviar um comentário