quarta-feira, 23 de julho de 2014

Propaga-se a falta de decoro

                                  
O ministro da economia, de seu nome Pires de Lima, era até ao presente um governante caracterizado por alguma contenção narrativa, um pouco afastado dos cânones dos congéneres, os quais, a começar pelo chefe, já nos habituaram às diatribes mais escabrosas e às mentiras mais escandalosas.
Porém e sem nada o fazer prever, o ministro resolveu mudar de rumo, não se sabe bem se em cruzada auto promocional, receio de perder alguma das carruagens do comboio governamental ou ainda se instado pelo presidente do partido onde se encontra filiado, presidente esse propenso às irrevogabilidades e às amizades para com ex-combatentes, feirantes e reformados ou pensionistas, sempre pronto a dizer hoje aquilo que nega no dia seguinte.
O que é certo é que, no debate sobre o estado da nação realizado há dias, o ministro da economia com ar sério e sem corar saiu-se com esta frase lapidar que deixou os acólitos de boca aberta ou com sorrisos de assentimento, «que orgulho eu tenho na economia portuguesa».
Por uma questão de ética ou boa educação escuso-me a transcrever aqui o que terão dito e pensado os milhares de micro, pequenos e médios empresários obrigados a encerrar portas na vigência deste governo, a par dos mais de quinhentos mil portugueses lançados na pobreza no mesmo período, perfazendo no total 20% da população, os desempregados, muitos dos quais já nem subsídio de desemprego recebem, os forçados a emigrar que depois entram nas contas governamentais para hipocritamente servirem para invocar descida do desemprego, os reformados e pensionistas com pensões congeladas e outros com cortes nas mesmas, mas obrigados a pagar uma contribuição extraordinária de solidariedade e outra sobre o IRS, os milhares de agregados familiares enfrentando uma subida também de IRS na ordem dos 30% ou as centenas de milhares de funcionários públicos com cortes em média de um quarto nos seus salários e retirada de direitos com tanto esforço obtidos.
Além deste descalabro, esqueceu-se o ministro da economia de referir, embora tenha tentado apresentar sucesso, que o ritmo das exportações de bens está em queda há vários meses e nem todos os bens e serviços possuem a mesma importância na atividade exportadora, salvo raras e honrosas exceções, mas tanto combustíveis, minérios, metais, como madeira, cortiça, papel e máquinas estão, infelizmente, em franca desaceleração.  
Para culminar, o ministro não teve qualquer pejo em afirmar peremtoriamente que as exportações, no seu conjunto, aumentaram nos últimos dois anos 30%, o que, a ser verdade, seria uma boa notícia, só que a realidade cifra-se num modesto crescimento acumulado de 9,6% e ele sabe disso perfeitamente.
Prossegue, pois, sem decoro, a tentativa de branqueamento dos resultados das medidas governamentais ou a justificação das mesmas como inevitáveis para o crescimento económico do País, quando a dura e crua realidade se manifesta no empobrecimento acentuado da população e dos trabalhadores com a contínua transferência de rendimentos do trabalho para o capital, com a precarização do trabalho, com a destruição do aparelho produtivo, com o prosseguimento das privatizações em áreas estratégicas para o País, com a destruição das Funções Sociais do Estado e o prosseguimento da financeirização da economia.

O chefe do executivo governamental, compulsivamente falso, como tem acontecido desde a campanha eleitoral que o elegeu, passando pelas afirmações em funções, novamente faz jus a esta designação, quando se pronuncia sobre a preocupante situação no BES. Esta gente não serve, serve-se e deve ir embora rapidamente.

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