sábado, 11 de junho de 2016

Escravatura em pleno século XXI

                                           
A Fundação Walk Free, uma instituição australiana que disponibiliza informação e recursos para combater a dita «escravidão moderna», foi criada em 2012 pelo casal filantropo australiano Andrew e Nicola Forrest e pela filha de ambos, Grace.
Esta Fundação elaborou este ano um relatório mostrando que o Índice Global de Escravidão abrange 45,8 milhões de seres humanos, ou seja, em termos comparativos mais do que o número total de habitantes existentes nas cidades de Londres, Nova Iorque, Seul e Deli, com a agravante de ter aumentado significativamente desde 2012, ano em que as projecções indicavam cerca de 35 milhões de pessoas nesta situação.
Portugal também é contemplado neste relatório com um total estimado de 12.800 «escravos modernos» numa população de quase 10,4 milhões de habitantes e, em declarações à imprensa, a australiana Fiona David, directora executiva do Departamento de Investigação Global da Fundação Walk Free, afirmou que esteve em Portugal no início deste ano e que uma das «coisas boas» que viu «foi a grande importância e a seriedade dada pelo Governo português à questão».
Embora não fosse estritamente necessário que esta Fundação nos alertasse para o problema, dado o conhecimento veiculado por outras instituições nacionais e internacionais sobre a matéria, não deixa, no entanto, de ser relevante o relatório agora conhecido que assim também cauciona as preocupações, indignação e protesto demonstrados pela população portuguesa em inúmeras formas de luta levadas a cabo no decorrer dos anos, nomeadamente nos últimos quatro, contra a exploração e miséria.
Devemos, porém, considerar que, paralelamente à escravidão aqui referida levada ao extremo, existem dois milhões de portugueses vivendo no limiar da pobreza, os trabalhadores precários e os desempregados, sejam eles de longa ou curta duração, vítimas também eles de exploração desenfreada, enquanto meia dúzia de nababos se vão refastelando com os paraísos fiscais, a corrupção e altos proventos, situação de profunda injustiça social a carecer de urgentes medidas para uma mudança radical de conceitos.
Como escreveu Marx, com a sua dialéctica na procura da verdade através de argumentos fundamentados e não simplesmente para vencer um debate ou persuadir o opositor, «as ideias dominantes numa época nunca passaram das ideias da classe dominante» ou «os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras, o que importa é modificá-lo», ideias de ontem com plena actualidade nos dias de hoje.
Nesse sentido posicionam-se as formações políticas e sindicais mais activas no nosso País que actualmente procuram reverter as medidas postas em prática no decorrer dos anos de políticas de direita, tendo-se pronunciado recentemente a CGTP favorável ao projecto de lei apresentado pelo Grupo Parlamentar do PCP que prevê as 35 horas de trabalho para os trabalhadores do sector privado, após aprovação na AR do mesmo tempo para o sector público e na medida em que estas alterações, além de contribuírem para uma maior justiça social na distribuição da riqueza e melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, contribuem para a criação de emprego e combate ao desemprego. Face à gravíssima situação de desemprego em que o país se encontra, ao mesmo tempo que se verifica a existência de horários de trabalho longos e desregulados e elevados ritmos de trabalho, a redução dos horários, sem perda de retribuição e de outros direitos, é totalmente justificada, além de que, segundo dados do Eurostat, os trabalhadores com vínculos precários têm mais do dobro das probabilidades de caírem na pobreza do que os trabalhadores com vínculos estáveis. Apesar de ser um novo passo obrigatório na política económica para a economia produzir e satisfazer as necessidades dos portugueses, é necessário também alterar outras componentes do modelo produtivo do País, pois o modelo actual privilegia as baixas qualificações, os baixos salários e a precariedade dos vínculos laborais, o que tem efeitos devastadores sobre trabalhadores e famílias.

Esta situação é insustentável, sendo urgente apostar também na valorização do trabalho e dos trabalhadores, criando emprego com direitos, vínculos estáveis e salários dignos, aumentando as qualificações e as oportunidades de progredir na carreira, respeitando os direitos de quem trabalha a todos os níveis e assim contribuindo para um efectivo desenvolvimento do país e para a melhoria das condições de vida da população.

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