sexta-feira, 24 de junho de 2016

Persuadir ou manipular

                                                            
Sabemos que persuadir é determinar a vontade de alguém, levar alguém a acreditar, aceitar ou decidir, mas também induzir e aconselhar ao passo que, quando se manipula, engendra-se, perverte-se ou manobra-se para orientar.
Sendo, ambas as atitudes, estratégias comunicacionais, na persuasão utilizam-se recursos lógicos e racionais para induzir alguém a aceitar uma ideia, uma atitude ou realizar uma acção qualquer em benefício de outrem ou do interesse próprio.
Um estudo realizado pela Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS) mostrou que, no acto de escolher, é o cérebro que trabalha através da consciência para a tomada da decisão de forma racional, sendo certo que muitas decisões do nosso cérebro surgem sem a consciência ser convocada.
É o caso, por exemplo, do caminhar e outras decisões simples tomadas durante o nosso dia-a-dia que não sobrecarregam o cérebro, pois emanam mecanicamente, havendo, no entanto, as que exigem mais esforço mental pela sua complexidade.
Imaginemos, porém, se todas as decisões complicadas tivessem a necessidade da análise minuciosa do cérebro, como ficaria este órgão essencial do nosso organismo e o cansaço mental que provocaria no ser humano.
Todavia, o nosso sistema nervoso possui o chamado mecanismo de filtragem que valida ou não as nossas escolhas, ou seja, o cérebro adopta directrizes de comportamento para evitar a sobrecarga de reflexão em cada tomada de decisão.
Relativamente à manipulação, diz-nos o professor Eduardo Punset que a «lavagem ao cérebro é a máxima invasão da privacidade. Antigamente, acreditávamos que o cérebro era sólido como um diamante, mas aprendemos que outras pessoas podem controlar aquilo que fazemos e, inclusivamente, aquilo que pensamos, recorrendo a métodos como a coerção, a mentira e a violência. Sabemos que podem lavar-nos o cérebro. Agora, pelo menos, podemos analisá-lo a partir das bases da neurologia».
A nossa ideia do «eu» é muito mais profunda do que o simples reconhecimento de si mesmo se pensarmos, por exemplo, que os chimpanzés também possuem consciência de si próprios e até se reconhecem ao espelho, mas os chamados racionais, nós, além de nos reconhecermos, somos também capazes de imaginar e gerar convicções, algumas das quais podem ser demonstradas em absoluto.
Perguntarão alguns, mas a que propósito virá todo este arrazoado? A resposta é relativamente simples: desde os confins dos tempos sempre pensamos que os seres humanos são livres no momento em que tomam uma determinada decisão, no entanto, temos vindo a constatar em muitos casos falta de solidez e suporte lógico nas convicções seguidas por muitos, quer individualmente, quer colectivamente, exactamente pela forma como se deixam enredar nas teias da manipulação, ou seja, agem inconscientemente, quantas vezes repetindo erros de avaliação.
Ferramenta importante para ajudar a resolver este problema é, sem dúvida, a filosofia que há mais de dois mil anos tem procurado resolvê-lo ao colocar perante nós algumas questões fundamentais, tais como, o que é o homem, qual a sua posição na humanidade, que possibilidade tem de a conhecer e de a transformar, qual o sentido da vida humana, que objectivo deve o homem esforçar-se por atingir.
Contudo, no conjunto dos problemas filosóficos, existe um de importância especial, o da relação entre matéria e consciência ou o da existência e do pensamento, questão fulcral, nomeadamente nos dias de hoje em que a humanidade atravessa um dos períodos mais críticos da sua História, após a última grande conflagração que deixou um rasto de milhões de vítimas mortais, destruição e miséria nunca até então vistas.
Ignorando esta lição, o imperialismo volta a fazer caminho, mais preocupado com a hegemonia global e a procura do melhor posicionamento geoestratégico, do que com o bem-estar dos povos, a justiça social, o desenvolvimento económico harmonioso e a busca incessante da Paz mundial.

Está a ser criado um ambiente de violência, xenofobia e racismo muito semelhante ao existente antes da II Grande Guerra, só que, se houver terceira, poucos ou nenhuns cá ficarão para contar a História.   

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