A
mudança de paradigma e os resultados visíveis
No
site da CMVM foram publicadas as
contas da Estoril Sol, grupo que engloba Casinos do Estoril, de Lisboa-Expo e
da Póvoa do Varzim, contas respeitantes a 30 de Setembro de 2013 e que nos
mostram alguns dados no mínimo curiosos, a saber:
O
terceiro trimestre da empresa fechou com a apresentação de lucros na ordem dos
1.258.281 euros, o que não é de subestimar;
embora
se verifique uma diminuição das receitas em 5% face ao período homólogo de
2012, constata-se, porém e numa observação mais cuidada, que as receitas
derivadas das slot-machines desceram
7%, ao passo que as respeitantes ao jogo de banca, por exemplo, gamão e bacará,
subiram 2%;
no
total de 137.771.294 euros de receita contabilizada, 42% dizem respeito ao
Casino de Lisboa, 37% ao Casino Estoril e 21% ao Casino da Póvoa.
O
grupo obteve, entretanto, benefícios fiscais na módica quantia de 2.333.516
euros, ou seja, um valor de mais ou menos o dobro do lucro registado e cerca de
1,8% do total da receita encontrada, benefícios estes atribuídos como apoio do
Estado à renovação dos equipamentos de jogo (tudo precisa estar devidamente em
dia com as novas técnicas) e ainda mais 405.000 euros como prémio pela boa
prestação de serviços realizada.
Trata-se
dum critério escandaloso, pois o governo corta, por exemplo, nas pensões mais
baixas de viuvez de poucas centenas de euros e concede benefícios de milhões
para máquinas de jogo e espetáculos de variedades apresentados nos Casinos.
Por
outro lado, o governo vende empresas públicas rentáveis por preços irrisórios,
não se importa que muitas delas contribuiriam para o relançamento necessário da
economia e continua apostado seriamente nas privatizações, estratégia que já
vem de longe, do tempo em que o atual Presidente da República era
primeiro-ministro, corria o ano da graça de 1989 e para nossa desgraça era iniciada a privatização da Banca.
O
argumento sempre utilizado é que o Estado é mau gestor, não tem vocação para
gerir, o sector privado é mais dinâmico e por aí fora, razões puramente
ideológicas e preconceituosas, que nos estão a levar para a ruína. E não deixa
de ser curioso observar que muitos dos parlamentares da maioria, mas também da
anterior governação, acumulam as funções públicas com apoios em empresas
privadas, beneficiando-as à luz desta verdadeira promiscuidade a que urge
colocar um ponto final.
O
caso recente dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo está a tornar-se um
verdadeiro escândalo, por ações e omissões envolvendo o ministro da tutela e o
próprio governo, ao pretenderem entregar a uma empresa privada, com um passivo
de cerca de 400 milhões de euros, uns estaleiros de construção naval com uma
boa carteira de encomendas e barcos prontos para entrega, além de que
colocariam centenas de trabalhadores com boa formação profissional no desemprego
e deixariam as respetivas famílias em precárias condições sociais.
Como
resultado do programa de privatizações, aqui e na europa connosco, surgiu em
2008 a fatura no valor de mais de quatro biliões de euros desviados
dos contribuintes europeus para salvação dos Bancos que continuam a cartelizar
taxas e comissões para os povos pagarem, enquanto recebem uma boa parte dos
empréstimos da troika e as populações
sofrem na pele os resultados desta pouca vergonha.
No
nosso País e em nome da mudança de paradigma social, privatizaram os sectores
petrolífero e energético e nós contribuintes pagamos os combustíveis mais caros
do que a média europeia e os preços do gás e da eletricidade continuam a subir,
agora com a privatização dos CTT vamos pagar uma boa fatura em indemnizações
compensatórias e, em pouco tempo, teremos seguramente os serviços postais mais
caros da Europa.
Em
paralelo, o Estado Social vai-se degradando com a Saúde, a Educação, a
Segurança Social, os Transportes, a Justiça, as Repartições de Finanças, cada
vez mais longe dos cidadãos e as assimetrias regionais a avolumarem-se.
Com
esta mudança de paradigma não vamos longe e por essa razão devemos mobilizar-nos mais fortemente para acabar com o modelo e expulsar os seus autores.
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