quinta-feira, 17 de abril de 2014

Alvo seletivo para humilhação

                                            
Por todo o País (Braga, Guimarães, Porto, Covilhã, Coimbra, Lisboa, Faro) milhares de reformados e pensionistas manifestaram-se novamente em protesto, organizado pela Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos (MURPI), contra os cortes nas pensões e porque é preciso derrotar uma política de classe que está a institucionalizar ofensas sociais pela injusta distribuição da riqueza nacional e a promover o alastramento da pobreza que atinge sobretudo os reformados e os trabalhadores, a quem são impostos o corte sistemático nos seus rendimentos e a destruição de funções sociais do Estado, essenciais à população e consagradas na Constituição da República.
E têm toda a razão, pois o dinheiro disponível já não lhes chega para o pagamento de alimentos, da luz, água, renda de casa, medicamentos e porque as dificuldades no acesso à prestação de cuidados médicos estão a tornar-se um obstáculo impossível de transpor e também porque seguramente não estão de acordo com as afirmações escandalosas recentemente produzidas por Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar, a qual, sem qualquer respeito por quem menos tem e menos pode, considerou que «os portugueses vivem muito acima das possibilidades» e, como tal, «vão ter que aprender a viver com menos, vamos ter que empobrecer muito, vamos ter que viver mais pobres».
A Constituição da República Portuguesa nascida com a Revolução do 25 de Abril, consagra devidamente no Artigo 63º o direito à Segurança Social e a forma de atribuição das pensões de velhice e invalidez e, mesmo em termos comparativos com outras Constituições europeias, como a Constituição alemã, que não contempla especificamente os direitos sociais, estes são, no entanto, devidamente acautelados na medida em que o Tribunal Constitucional alemão, equiparando as pensões à propriedade, considera que os governos não podem alterá-las retroativamente, pois o direito à pensão e ao seu montante são idênticos a uma propriedade que foi construída pelos cidadãos ao longo dos anos com a entrega ao Estado de valores que depois têm direito a receber quando se reformam e, como tal, não se trata de um subsídio ou de uma dádiva e, se o Estado quiser reduzir ou eliminar este direito, está a restringir o direito à propriedade, ou seja, está a praticar uma ofensa a um direito civilizacional aceite, inclusive, pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
Aliás e certamente em concordância com esta ideia, o atual primeiro-ministro afirmava na campanha eleitoral de Abril de 2011 que «todos aqueles que produziram os seus descontos e que têm hoje direito às suas reformas ou às suas pensões deverão mantê-las no futuro, sob pena do Estado se apropriar daquilo que não é seu».
Porém, muitos de nós também concordam que bem pregava frei Tomás e que a atribuição dum cargo público de responsabilidade não é propriamente um prémio, mas constitui um compromisso sério para com todo o País e este ataque brutal à dignidade e às condições de vida dos reformados e pensionistas não é uma atitude séria, mas sim um roubo, por muito que esta designação ofenda alguns pruridos mais delicados, até porque continua o discurso ofensivo da falta de meios financeiros, quando sabemos que, a pretexto da redução do défice e das “gorduras” do Estado, é renovada no Orçamento do Estado para 2014 a transferência de milhares de milhões de euros para o grande capital, por via dos juros da dívida pública, das parcerias público-privadas, dos contratos SWAP e de outros contratos ruinosos celebrados com interesses privados, que constituem na prática a atribuição de privilégios e benefícios fiscais ao grande capital, apoios diretos à recapitalização da banca e garantias dadas ao sector financeiro ou à especulação bolsista.

Esta política não serve os interesses da esmagadora maioria dos portugueses e, como é apoiada sem reservas pelo diretório da União Europeia, mais interessado em canalizar meios para o novo governo ucraniano nascido duma golpada nazi, deve ser devidamente penalizada nas próximas eleições de 25 de Maio, com o voto naqueles que, sem reservas ou tibiezas, lutam por uma mudança de rumo, ou seja, naqueles que integram as listas da CDU e que, quantos mais forem, mais poderão influenciar positivamente o Parlamento Europeu para levar à prática políticas de coesão social e de apoio direto aos Estados europeus periféricos em crise. 

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