segunda-feira, 7 de abril de 2014

As Funções Sociais do Estado

O MUSP-Movimento de Utentes dos Serviços Públicos pronunciou-se sobre as Funções Sociais do Estado, no passado fim de semana.

 Massarelos, 05/04/ 2014                             As Funções Sociais do Estado
A organização do Estado moderno pode ser vista sob duas perspetivas, uma, de carater neo liberal que o considera como neutro na realização do bem comum e outra, de carater marxista, que tem em consideração a existência duma sociedade de classes com interesses antagónicos que podem inviabilizar a execução do bem comum, se o Estado não for objetivamente conduzido nesse sentido.
Nesta conformidade, não é difícil compreender o que se passa nos dias de hoje na sociedade portuguesa, que viu pela primeira vez, com a Revolução do 25 de Abril, consagrados na sua Constituição os direitos à Saúde, à Educação, à Segurança Social e também não será de estranhar os estragos causados nestas Funções Sociais do Estado, onde se incluem também a Justiça, a Habitação, Os Correios e Telecomunicações, os Transportes, a Água e o Saneamento, pelos programas dos governos constitucionais do País, com especial incidência no atual, cujo chefe foi bem claro ao afirmar que pretendia mudar o paradigma da sociedade portuguesa, demonstrando claramente quais os interesses que defende.
Por essa razão, cresce, cada vez mais, a consciência por parte das populações, utentes e trabalhadores, das implicações negativas para as suas vidas, resultantes da destruição dos Serviços Públicos e das Funções Sociais do Estado.
A liberalização e a desregulamentação conducentes à privatização dos serviços públicos, como bens essenciais e fundamentais para a qualidade de vida do povo e para o desenvolvimento equilibrado do território nacional, são as razões para o deficiente funcionamento, degradação e até extinção de diversos e imprescindíveis serviços, situação que está a conduzir o País para um agravamento das condições de vida da esmagadora maioria dos portugueses pela brutal ofensiva contra os seus rendimentos, direitos e interesses, enquanto, por outro lado, são defendidos e acautelados os interesses dos grandes grupos económicos e financeiros, nacionais e internacionais, política esta conduzida com o aval da UE e bem patente no Memorando de Entendimento ou Pacto de Agressão, assinado entre as «troikas» (FMI, BCE, UE) e (PS, PSD, CDS).
A situação na área da Saúde, por exemplo, mostra claramente o domínio crescente do grande capital que a considera como um chorudo negócio, favorecido pelas medidas do atual e anteriores governos que permitiram que o acesso ao SNS passasse de gratuito para tendencionalmente gratuito, que os recursos humanos não tivessem formação atempada, mas pelo contrário fossem e continuam a ser alvo de forte pressão pela precarização dos seus vínculos contratuais, que o sistema continue a ser atingido por uma permanente suborçamentação e desinvestimento, que as condições impostas pelas multinacionais do medicamento tenham sido invariavelmente aceites, quando, por outro lado, continuam as parcerias público-privadas a permitir a contratualização de serviços e a construção de unidades hospitalares privadas com recursos públicos e o fecho de unidades e valências no SNS continua na ordem do dia.
A degradação da prestação de cuidados de saúde à população, nomeadamente com as dificuldades, problemas e entraves no acesso a tratamentos e a exames complementares de diagnóstico, com as dificuldades no acesso a consultas hospitalares, com o brutal aumento das taxas moderadoras, com a redução do número de profissionais de saúde, a reforma dos cuidados de saúde primários em banho-maria e até a morte de utentes por falta de assistência médica, tornam bem visível, nos dias de hoje, o resultado das opções ideológicas do governo.
No entanto e mesmo assim, as estruturas atuais do SNS continuam a oferecer as condições para, no quadro duma política claramente orientada para a sua defesa e desenvolvimento como serviço de gestão pública, cumprirem a missão que lhe está constitucionalmente atribuída, não descurando a avaliação do seu desempenho que deve obedecer a critérios de qualidade e eficiência global com os profissionais da Saúde e os utentes intervindo no seu planeamento e acompanhamento.  
Nas atuais condições do País é fundamental colocar em prática um programa de emergência que tenha em consideração algumas medidas, tais como, o reforço da dotação financeira para o SNS, a eliminação total das taxas moderadoras, o aumento das comparticipações em medicamentos, a revogação do novo regulamento do transporte de doentes, o reforço e capacidade da rede de assistência pré-hospitalar, a extinção das PPP, a integração de toda a rede hospitalar no quadro do Sector Público Administrativo e a realização duma política de recursos humanos que promova as carreiras profissionais como estímulo da formação e elevação constante da resposta técnica e humana na prestação de cuidados.
Para concretizar o direito à Saúde e para o êxito da luta por um SNS para todos, é condição decisiva a unidade dos trabalhadores, dos utentes e do povo em geral na denúncia dos problemas, no esclarecimento e na proposta de soluções, na luta pelas Funções Sociais do Estado e pelos valores de Abril no futuro de Portugal.
Massarelos, 05/04/2014

MUSP-Movimento de Utentes dos Serviços Públicos

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