A Revolução de
25 de Abril de 1974 constitui a data mais marcante da nossa história-pátria
recente, mas encerra essencialmente uma notável característica ao conseguir harmonizar
duas vontades: a do povo no desejo de liberdade, justiça social, democracia e o
fim da guerra colonial e a dos militares na determinação e no saber interpretar
esses anseios. Por esse motivo devemos prestar a devida homenagem aos Capitães
de Abril e estarmos gratos pela forma corajosa e desassombrada como ajudaram no
salto em frente do nosso País, quer socialmente quer na procura do
desenvolvimento económico.
É forçoso também
recordar que o êxito da Revolução do 25 de Abril, ficou a dever-se muito à luta
do povo português contra o fascismo, a guerra colonial e o poder dos monopólios
e dos agrários, luta sempre apoiada pelo PCP como único partido a combater
frontalmente o regime. Estávamos isolados no concerto das nações, com uma taxa
de analfabetismo que rondava os 33%, com forte emigração a salto e, certamente
por essa razão, é que a Aliança Povo-MFA foi uma realidade constante no
processo revolucionário, para darmos o necessário salto em frente.
Durante 48
longos e penosos anos, a horda pidesca constituiu o pilar de segurança do
regime saído do 28 de Maio de 1926. Com os seus métodos desumanos e repugnantes
seguiu práticas inquisitoriais usadas na Idade Média e aperfeiçoadas pela
Gestapo, através de censura prévia, violação da correspondência, escutas
telefónicas, chantagens, buscas e prisões sem mandados, torturas físicas e
psicológicas, assassinatos, julgamentos sem culpa formada, servindo-se de
edifícios prisionais como o Aljube, Peniche, Caxias, Tarrafal e Machava, onde
imperava o sofrimento e a morte, tudo em nome dum Estado e duma ideologia
fascistas que caracterizavam os governantes de então. O número de inspetores,
subinspetores, chefes de brigada, agentes, informadores a troco de dinheiro e
outros funcionários da PIDE, ultrapassava os 20 mil em funções, mas colaboraram
nessa atividade cerca de 200 mil indivíduos de ambos os sexos, assim apoiando
Salazar e Caetano num regime ditatorial dos mais violentos da História
Contemporânea, sustentado também pela bênção da hierarquia católica, salvaguardando
uma ou outra honrosa exceção, pela Legião Portuguesa e o poder económico de
meia dúzia de grupos monopolistas sem visão estratégica.
A preparação
política dos militares não era igual entre eles e, em consequência, houve
clivagens e tentativas de retrocesso no programa inicial do MFA, protagonizadas
por Spínola, responsável pelas organizações terroristas MDLP e ELP, mas também pelos
reformistas do grupo dos nove, cujos elementos hoje são impedidos de falar na
Assembleia da República na comemoração do 25 de Abril e ainda pelas atitudes aventureiristas
de Otelo, associadas às posições revanchistas dos partidos da direita a que os
soaristas se associaram incompreensivelmente, apesar de se auto intitularem apoiantes
do socialismo, factos estes causando frações no movimento sindical e na
sociedade, mas que não impediram a aprovação da Constituição de 1976, ao tempo
considerada das mais avançadas.
Houve, porém, um
militar que se salientou como timoneiro da Revolução, à qual se dedicou
honestamente e sem reservas como insigne elemento das forças armadas e como
Primeiro-ministro de quatro sucessivos governos provisórios, chefe da 5ª.
Divisão do EMGFA, colaborador no texto final do Programa do MFA para ele um
projeto dinâmico aberto à evolução da própria realidade e não um documento de
conteúdo estático. As iniciativas e organizações criadas sob o impulso do
General Vasco Gonçalves sempre apoiaram os trabalhadores, o povo e a Revolução,
sendo suas as palavras «a unidade entre o Povo e o
MFA constitui condição fundamental do nosso progresso». Foi o tempo da Reforma
Agrária, da Nacionalização da Banca, dos Seguros, das principais empresas
estratégicas para a economia nacional, do aparecimento das Funções Sociais do
Estado e do Poder Local Democrático, conquistas essas logo postas em causa com
as governações constitucionais de 1976 até hoje.
Os militares
revolucionários reconheciam a interligação existente entre as três formas de
dominação global - capitalismo, fascismo, colonialismo - e também sabiam, que o
capitalismo não é reformável, porque as relações sociais em que se baseia e sem
elas não pode sobreviver, são intrinsecamente injustas, pois caracterizam-se pela
exploração do homem pelo homem.
No
25 de Abril começou uma nova era, fomos envolvidos por uma lufada de ar fresco
e a esperança varreu o País, sentimos em cada esquina um amigo, em cada rosto a
igualdade e, como em todas as revoluções, há os que ganham e os que perdem. Ganhou
o País do progresso, da justiça social e do desenvolvimento, perderam os apoiantes
da repressão e do obscurantismo, cujos herdeiros se perfilam hoje, passados 40
anos, numa tentativa de regresso ao passado, bem patente quando o atual Presidente
da República recusou uma pensão vitalícia a outro militar notável de Abril,
Salgueiro Maia, ao mesmo tempo que concedia idêntica pensão a dois inspetores
da extinta PIDE, passado esse bem patente num novo tipo de emigração, a da nossa
qualificada juventude, que não mostra vontade de regressar ao solo pátrio por não
confiar na governação atual que deixa, a contento, o poder político ser
dominado pelo poder económico e financeiro.
Passados
40 anos sobre aquela risonha madrugada, terão os portugueses consciência plena
do que se conseguiu em 1974 e o que temos em 2014 com as políticas neo liberais
em curso, conduzindo a um retrocesso civilizacional?
25 de Abril sempre!
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