Decorrido à
medida de quem lá quis estar (os indefetíveis, os desavindos de ontem hoje
apoiantes e o despudoradamente repescado para a direção partidária, ontem
ignominioso hoje talentoso) o congresso do maior partido governamental
consagrou definitivamente alguns aspetos da vida política do País dos nossos dias
que bem podem ser sintetizados na frase do seu líder parlamentar quando afirmou
«a vida das pessoas não está melhor, mas o País está» e eles, consequentemente,
têm toda a razão quando proclamam o sucesso das medidas a mando da troika, mas que eles quiseram sempre
levar mais além.
E de tal forma
que, tanto a Comissão Europeia como o FMI, na divulgação dos respetivos
relatórios de avaliação, nos dizem estar tudo a correr muito bem, com exceção
do que está a correr muito mal, ou seja, há necessidade de aumentar a dose dos
condimentos da receita para acertar definitivamente no prato a apresentar aos
portugueses, se é que esse prato algum dia surgirá completo e aceite pela
população.
Nesta
conformidade, dizem os sábios troikistas
que falta competitividade para garantir sustentabilidade ao crescimento das
exportações, o elevado nível dos salários é também um sério obstáculo a par com
a falta das reformas estruturais e do crédito às empresas e, quem diria, a ação
do famigerado Tribunal Constitucional representa uma barreira às medidas
inconstitucionais pretendidas, querendo tudo isto significar que é preciso
continuar com os cortes nos salários, reformas e pensões, tornando definitivo
aquilo que seria provisório na boca do primeiro-ministro, o qual, demonstrando
uma vez mais a sua propensão inata para o ludibrio, nos informa estarmos numa
nova fase promissora da vida nacional, esquecendo-se, porém, que a fase não é
nova, pois ela tem originado há uns tempos a esta parte mais indignação, mais
contestação e mais luta para a demissão do governo, conforme pudemos novamente
verificar na passada quinta-feira em Lisboa, Porto e Leiria e vamos continuar a
ver no futuro, pois a luta vai alargar-se e intensificar-se. É uma luta que se
desenvolve hoje e vai desenvolver-se nos próximos tempos, ganhará expressão no
25 de Abril, no 1º de Maio e nas próximas eleições europeias, eleições que
representam uma extraordinária oportunidade de elegermos mais deputados da CDU
que defendem mais e melhor os interesses nacionais, eleições que servirão
também para mostrar à União Europeia, às troikas
ao governo e ao grande capital explorador que o povo português não aceita
esta situação, quer uma vida melhor, um País soberano, desenvolvido e com
futuro.
No conclave,
disse ainda o primeiro-ministro estas palavras de alto gabarito e sensibilidade
social «imaginem que há neste País quem não pague impostos e tenha saúde e
educação de borla» querendo referenciar certamente os pensionistas idosos com
pensões abaixo dos quatrocentos euros, mas que sofrem, como todos e ainda mais,
com o aumento do custo de vida e sabendo ele muito bem que os impostos se
destinam fundamentalmente à redistribuição da riqueza e muitos desses
pensionistas enfrentam hoje um dilema: ou compram medicamentos ou compram
géneros para o seu sustento alimentar.
Em digressão
publicitária pelo estrangeiro o presidente de alguns portugueses continua a manter
a postura de observador atento a todas estas realidades, para não perturbar a
ação do governo, tão benéfica para o País como sabemos.
Parafraseando
Eduardo Lourenço podemos bem dizer que «de repente fomos invadidos por uma
espécie de vampiros, é como se estivéssemos a viver uma espécie de apocalipse
em direto, não é de gente só armada no sentido terrorífico do termo, é qualquer
coisa que nos suga o sangue».
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