quinta-feira, 6 de março de 2014

Em abono duma política insidiosa e pérfida

                   
Decorrido à medida de quem lá quis estar (os indefetíveis, os desavindos de ontem hoje apoiantes e o despudoradamente repescado para a direção partidária, ontem ignominioso hoje talentoso) o congresso do maior partido governamental consagrou definitivamente alguns aspetos da vida política do País dos nossos dias que bem podem ser sintetizados na frase do seu líder parlamentar quando afirmou «a vida das pessoas não está melhor, mas o País está» e eles, consequentemente, têm toda a razão quando proclamam o sucesso das medidas a mando da troika, mas que eles quiseram sempre levar mais além.
E de tal forma que, tanto a Comissão Europeia como o FMI, na divulgação dos respetivos relatórios de avaliação, nos dizem estar tudo a correr muito bem, com exceção do que está a correr muito mal, ou seja, há necessidade de aumentar a dose dos condimentos da receita para acertar definitivamente no prato a apresentar aos portugueses, se é que esse prato algum dia surgirá completo e aceite pela população.
Nesta conformidade, dizem os sábios troikistas que falta competitividade para garantir sustentabilidade ao crescimento das exportações, o elevado nível dos salários é também um sério obstáculo a par com a falta das reformas estruturais e do crédito às empresas e, quem diria, a ação do famigerado Tribunal Constitucional representa uma barreira às medidas inconstitucionais pretendidas, querendo tudo isto significar que é preciso continuar com os cortes nos salários, reformas e pensões, tornando definitivo aquilo que seria provisório na boca do primeiro-ministro, o qual, demonstrando uma vez mais a sua propensão inata para o ludibrio, nos informa estarmos numa nova fase promissora da vida nacional, esquecendo-se, porém, que a fase não é nova, pois ela tem originado há uns tempos a esta parte mais indignação, mais contestação e mais luta para a demissão do governo, conforme pudemos novamente verificar na passada quinta-feira em Lisboa, Porto e Leiria e vamos continuar a ver no futuro, pois a luta vai alargar-se e intensificar-se. É uma luta que se desenvolve hoje e vai desenvolver-se nos próximos tempos, ganhará expressão no 25 de Abril, no 1º de Maio e nas próximas eleições europeias, eleições que representam uma extraordinária oportunidade de elegermos mais deputados da CDU que defendem mais e melhor os interesses nacionais, eleições que servirão também para mostrar à União Europeia, às troikas ao governo e ao grande capital explorador que o povo português não aceita esta situação, quer uma vida melhor, um País soberano, desenvolvido e com futuro.    
No conclave, disse ainda o primeiro-ministro estas palavras de alto gabarito e sensibilidade social «imaginem que há neste País quem não pague impostos e tenha saúde e educação de borla» querendo referenciar certamente os pensionistas idosos com pensões abaixo dos quatrocentos euros, mas que sofrem, como todos e ainda mais, com o aumento do custo de vida e sabendo ele muito bem que os impostos se destinam fundamentalmente à redistribuição da riqueza e muitos desses pensionistas enfrentam hoje um dilema: ou compram medicamentos ou compram géneros para o seu sustento alimentar.
Em digressão publicitária pelo estrangeiro o presidente de alguns portugueses continua a manter a postura de observador atento a todas estas realidades, para não perturbar a ação do governo, tão benéfica para o País como sabemos.

Parafraseando Eduardo Lourenço podemos bem dizer que «de repente fomos invadidos por uma espécie de vampiros, é como se estivéssemos a viver uma espécie de apocalipse em direto, não é de gente só armada no sentido terrorífico do termo, é qualquer coisa que nos suga o sangue».

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