sábado, 22 de março de 2014

Teimosia de maus resultados

                                            Fora de questão
Instado a pronunciar-se sobre o chamado manifesto das 70 personalidades que sugeriram a reestruturação da nossa dívida soberana, o primeiro-ministro limitou-se a informar o País de que essa ideia está fora de questão, pois estamos no bom caminho e o governo continua a corrigir as desigualdades.
Já o presidente de alguns portugueses, tomando conhecimento de que dois dos seus consultores tinham subscrito o manifesto, decidiu despedi-los, certamente na convicção de que pudessem constituir uma quinta coluna em Belém e assim minarem a coesão presidencial no apoio às medidas do governo na crise, tão benéficas para o País como elas demonstram ser desde o começo.
Estas duas atitudes, parecendo diferentes no conteúdo, constituem uma forma concertada de olhar para a situação nacional e demonstram uma falta de sensibilidade social e um autoritarismo, a todos os títulos condenáveis.
Para lá das discussões técnicas sobre reestruturar ou renegociar a dívida soberana, ficam as opções políticas e, nestas, a vida das pessoas, o que parece não ter grande importância, nem para o chefe do governo, nem tão pouco para o presidente que, de quando em vez, vai tentando dar um ar da sua graça da pior forma, desta feita ao vetar o aumento das contribuições para o fundo de pensões dos elementos das forças armadas e de segurança, sabendo, no entanto, que o governo vai insistir no mesmo texto e sendo também por essa razão que o Partido Comunista Português continuará a preparar o requerimento de fiscalização da constitucionalidade do Orçamento Retificativo, sendo ainda de toda a justiça lembrar que, há 3 anos atrás e quando a questão da divida soberana foi colocada pela primeira vez, foi o PCP quem sugeriu a renegociação da mesma e, se na altura houvesse vontade política para avançar nesse sentido, não teríamos assistido à destruição do País e da vida de muitos portugueses, pois esta dívida é sempre crescente e, portanto, impagável.
Era muito importante que o presidente de alguns portugueses exercesse o direito de veto em relação às mais de 165 mil pensões que irão sofrer novo corte já a partir de Abril com o agravamento da contribuição extraordinária via Orçamento Retificativo, mas, pelos vistos e sobre este assunto, não haverá qualquer atitude no sentido de salvaguardar os direitos dos reformados e pensionistas que, acreditando na boa-fé do Estado, lhe confiaram os descontos legalmente constituídos e agora roubados, mesmo que custe a muito boa gente esta designação, mas que traduz plenamente a ação cometida pelo governo, aliás, em abono da qual as palavras do presidente, no Prefácio do livro de intervenções «Roteiros VIII», não oferecem quaisquer dúvidas, pois considera e defende que este caminho de recessão, desemprego, aumento brutal de impostos, da emigração e da dívida pública, hoje superior a 126% do PIB, deve continuar durante pelo menos mais 20 anos, contrariando por outro lado as promessas do primeiro-ministro de saída da crise e retificando as voltas do «relógio» do vice primeiro-ministro. Torna-se, pois, no mínimo ridículo, afirmar que o governo está a corrigir as desigualdades, como refere o primeiro-ministro dum País onde os ricos estão mais ricos e os pobres mais pobres, realidade que entra pelos olhos dentro do mais sonso.  
Estamos próximos das eleições europeias e desenganem-se aqueles que as vão aproveitar para novas promessas ou procurar ocultar novas medidas de austeridade que vão aparecer a seguir, pois não há campanhas que possam impedir o protesto, a luta e a resistência para, acima de tudo, abrir caminho à resolução dos problemas nacionais, à concretização do projeto que a Constituição da República Portuguesa consagra, à retoma dos valores de Abril e à construção dum Portugal mais justo, desenvolvido e soberano.

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