No passado dia 27 de Setembro o ministro dos negócios estrangeiros
russo, Sergei Lavrov, levantou a voz na Assembleia Geral das Nações Unidas para
desmistificar o conteúdo de muitos discursos que ali são proferidos e ainda
denunciar veementemente o imperialismo, protagonizado pelos Estados Unidos e os
seus aliados da NATO, os quais se arriscam a provocar uma guerra global face à
sua tentativa de conquista e domínio de imensos territórios que não lhes
pertencem, esquecidos completamente das lições da História como sucedeu com o
colapso da França napoleónica e a destruição do Terceiro Reich de Hitler.
É difícil vaticinar o que o futuro nos reserva, mas a possibilidade
duma conflagração mundial está em aberto, pois o capitalismo em crise parece
querer encetar uma fuga para a frente, imprudente e irracional, como sistema
económico que vive quase inteiramente na base do imperialismo e dos seus
constantes abusos planetários e da exploração, características que acabarão por
lhe determinar o fim como descreve o economista francês Thomas Piketty na sua
obra - Capital no Século 21 - considerada um best-seller.
Sergei Lavrov, em nome da Federação Russa, declarou o seguinte: «A
aliança ocidental, liderada pelos Estados Unidos que se retrata como um campeão
da democracia, do Estado de direito e dos direitos humanos em cada País , atua a partir
de posições diretamente opostas na arena internacional, rejeitando o princípio
democrático da igualdade soberana dos Estados consagrado na Carta das Nações
Unidas e tentando decidir por todos o que é bom ou mau.
Washington declarou abertamente o seu direito de uso unilateral da
força em qualquer lugar para defender seus próprios interesses e a
interferência militar tornou-se uma norma, apesar do resultado desastroso de
todas as operações de poder que os Estados Unidos têm realizado ao longo dos
últimos anos.
A sustentabilidade do sistema internacional foi severamente abalada
pelos bombardeamentos da NATO na Jugoslávia, pela intervenção no Iraque, pelo
ataque contra a Líbia e pelo fracasso da operação no Afeganistão. Só devido a
intensos esforços diplomáticos a agressão contra a Síria foi impedida em 2013 e
existe uma involuntária perceção de que o objetivo de várias revoluções
coloridas e outros projetos para mudar regimes inadequados é provocar o caos.
Os Estados Unidos e a União Europeia optaram por expandir a área
geopolítica sob seu controlo, sem levarem em conta o equilíbrio de interesses
legítimos de todos os povos da Europa. O alargamento para leste continuou,
apesar das promessas em contrário, sem ouvir o interlocutor natural, seguindo
uma retórica hostil, abandonando a cooperação e acumulando infra-estruturas
militares nas fronteiras russas, seguindo o código da era da Guerra Fria.
Os Estados Unidos e a União Europeia apoiaram o golpe de Estado na
Ucrânia, favorecendo as auto proclamadas autoridades de Kiev nas suas medidas
anti-constitucionais e obrigando a população da Crimeia a tomar o destino nas
suas próprias mãos através da auto determinação e enfrentando tentativas de
distorcer a verdade dos factos. Posteriormente não processaram os responsáveis
pelos casos sangrentos em Maidan, Odessa, Mariupol e outras regiões ucranianas.
Recentemente, foram encontradas em Donetsk valas comuns e, pela Resolução
SG 2166 da ONU sobre a investigação da perda do avião da Malásia, os culpados
devem ser identificados e levados à Justiça, caso contrário a reconciliação
nacional na Ucrânia não é de esperar.
Num total desprezo pela verdade e pelo direito internacional,
prepara-se implacavelmente uma escalada na crise ucraniana em Kiev com o
presidente Poroshenko ameaçando a sobrevivência da Rússia. No mês passado,
Washington entregou 53 milhões de dólares do dinheiro dos contribuintes dos
Estados Unidos para fornecer ajuda militar ao regime de Kiev apoiado por
adeptos da ideologia nazi que está a aproveitar o cessar fogo organizado pelo
presidente russo Putin e pela OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação
na Europa) como uma oportunidade para adquirir armas mais sofisticadas e
mortíferas para mais um ataque contra civis no leste e sudeste da Ucrânia e
depois da visita a Kiev em segredo e sob nome falso do diretor da CIA John
Brennan em Abril passado».
E mais declarou Sergei Lavrov: «Porém, o facto mais destacado para
contribuir ainda mais para a carnificina dos cidadãos do leste da Ucrânia foi o
anúncio do retorno este mês a Kiev da Secretária de Estado norte americana
Victoria Nuland, bem conhecida pelo patrocínio ao projeto do derrube do
presidente ucraniano Viktor Yanukovich democraticamente eleito e mergulhando a
seguir a Ucrânia na guerra civil.
Chegou a hora de excluir totalmente, a partir da interação
internacional, as tentativas de pressão ilegítima de alguns estados sobre outros
e a natureza sem sentido e contraproducente de sanções unilaterais como é o
caso do bloqueio a Cuba pelos Estados Unidos.
A política de ultimatos e a
filosofia de supremacia e dominação não atendem as exigências do século 21 e
são contrárias ao processo objetivo de desenvolvimento de uma ordem mundial
policêntrica e democrática».
Esta notável intervenção de Sergei Lavrov na Assembleia Geral das
Nações Unidas, de que se destacam aqui alguns excertos, impressionou todas as
delegações presentes, pela verdade, clareza e desassombro, somente se esperando
que prevaleça o bom senso e que o encontro da semana passada em Milão, entre o
presidente russo, o auto proclamado presidente ucraniano e representantes
internacionais, constitua um sério contributo para o regresso à Paz tão
necessário.
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