terça-feira, 7 de outubro de 2014

Novos encómios para velhas políticas


A atribuição pela Comissão Europeia da pasta da Ciência, Investigação e Inovação ao
português Carlos Moedas, suscitou na direita nacional e nos partidos do chamado «arco
da governação» os maiores elogios, sendo salientada a ideia de que Portugal irá ser
francamente beneficiado com a referida nomeação.
Os que não têm memória curta, estão seguramente lembrados dos mesmos louvores
atribuídos a Durão Barroso quando ascendeu ao lugar da presidência da mesma instituição
europeia e até da sintonia de posições políticas com o primeiro-ministro português da altura,
sintetizadas na célebre exclamação «porreiro pá» que ficará para a história da nossa vida
política recente como o super sumo da satisfação pessoal de cada um, mas não passando
disso mesmo.
Regressando à realidade e quanto à composição da nova Comissão Europeia e às nomeações
do Presidente do Conselho Europeu e da Alta Representante, fica bem expressa a vontade
de seguimento do rumo anteriormente trilhado, caracterizado por retrocessos sociais,
concentração e centralização do poder económico nas multinacionais e no diretório das
potências europeias comandadas pela Alemanha, impondo relações do tipo colonial
no seio da União Europeia e levando à intensificação da crise económica e social e ao
aprofundamento dos seus pilares neoliberal, militarista e federalista, como, aliás, temos tido
oportunidade de constatar, por exemplo, na crise ucraniana e no apoio às ações da NATO no
Iraque, Líbia, Síria, Sudão, Somália, Iemen e Afeganistão com os resultados bem à vista.
Sabendo nós que a Ciência, Investigação e Inovação constituem uma das áreas onde se
verifica uma maior injustiça e desigualdade no processo de integração capitalista europeu,
agravando a diferença científica e tecnológica entre os vários países europeus, a nomeação
de Carlos Moedas para a referida pasta, sabendo da sua atuação no atual governo que se
distinguiu exatamente pelos cortes nessa área, não augura nada de bom, acrescido o facto
de não lhe ser reconhecido pensamento ou trabalho específico anterior sobre a matéria.
Por outro lado, tendo aumentado na União Europeia as dotações nesta área, mas
dirigidas preferencialmente para apoiar os interesses das grandes empresas e unidades de
investigação das grandes potências em detrimento dos países periféricos ou mais pequenos,
o nosso País tornou-se contribuinte líquido na referida área, não conseguindo mesmo
absorver as verbas com que contribui.
Assim sendo, impunha-se a escolha dum Comissário que combatesse esta realidade e
não alguém atento, venerador e obrigado, seguindo escrupulosamente os interesses do
diretório das grandes potências europeias, alguém que, enquanto parte integrante do atual
governo, se distinguiu pela asfixia financeira e material das Universidades com cortes de 14
milhões de euros, mas também de Laboratórios do Estado, pelo encerramento de cerca de
cem centros de investigação e diminuição acentuada de bolsas de formação avançada de
recursos humanos, o que levou à fragilização acentuada exatamente do sistema científico e
tecnológico do nosso País e à fuga ou emigração de cientistas e investigadores.
Aquilo que se impõe à União Europeia, não é, pois, «uma mudança na continuidade» das
políticas e dos responsáveis quaisquer que sejam os lugares ou cargos que ocupem, mas sim
romper com o rumo até agora seguido, a exemplo do que deve também acontecer no nosso
País em relação ao atual governo, isolado social e politicamente, cujos ministros e o seu
chefe são continuamente alvo de protestos em toda a parte para onde se deslocam, governo
este que ainda existe devido ao apoio do presidente de alguns portugueses, incapaz de
seguir à risca o conteúdo da nossa Constituição e de olhar criteriosamente para a sociedade
portuguesa como um todo.

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