A
“Reforma do IRC” e as micro, pequenas e médias empresas
Proposta de Lei n.º 175/XII/3.ª (Governo)
Pergunta
do Deputado Bruno Dias (PCP)
Sessão Plenária de 2 de Outubro de 2013
Senhora Presidente, Senhoras e Senhores
Deputados,
Senhora Ministra das Finanças:
Quem ouvir a Sra. Ministra e o Governo há de
ficar a pensar que o País está bloqueado e amarrado por uma taxa de IRC
exorbitante que está a matar as empresas, com 31,5% de imposto.
Sra. Ministra, eu pergunto-lhe quantas
empresas pagam 31,5,% de IRC!
É que a taxa efetiva do IRC no nosso País é
muito diferente desses valores: as 140 maiores empresas portuguesas, que
apresentaram lucros de cerca de 7,5 mil milhões de euros, pagaram uma taxa
efetiva de IRC de 11,5% – é só uma diferença de vinte pontos percentuais!
E o problema da esmagadora maioria das
empresas não é o de pagarem muito imposto sobre os rendimentos e lucros – é não
terem lucro, é estarem com a corda na garganta por não terem vendas! Porque os
senhores estão a esmagar a procura interna, desde logo nos impostos indiretos
(de que os senhores não falam) como é o caso do IVA na Restauração. Ou ainda
com o corte brutal que os senhores impõem, no poder de compra das populações.
Para estas centenas de milhares de empresas,
a Sra. Ministra não lhes diz nada de bom ao falar desta Proposta de Lei.
É que deduzir prejuízos fiscais ao longo dos
doze anos seguintes em vez de cinco; isentar dividendos obtidos no estrangeiro
(ou enviados para o estrangeiro); alargar possibilidades em empresas
participadas, fusões e aquisições, etc., etc. – ou seja, aumentar
substancialmente as possibilidades de planeamento fiscal – isto, Senhora
Ministra, não é para o pequeno comércio. É para a grande distribuição! E vai
deixar as pequenas e micro empresas numa situação concorrencial ainda mais
desfavorável perante as grandes empresas.
Ora, o grande problema das micro, pequenas e
médias empresas neste domínio é o Pagamento Especial por Conta. E o Pagamento
Especial por Conta aumenta 75% com a vossa proposta – passa de 1000 para 1750
euros, apertando ainda mais o garrote sobre estas empresas.
Os senhores falam no Regime Simplificado como
sendo supostamente a solução alternativa. Eu pergunto:
Existindo em Portugal, segundo o INE, mais de
250 mil micro empresas (para além das pequenas e médias empresas), qual é o
número ou percentagem das que serão abrangidas por este regime?
É que o volume anual de negócios que aí se
admite é no máximo de 200 mil euros por ano. Dez vezes menos do que o valor que
define uma micro empresa, e 25 vezes menos que o valor para uma pequena
empresa, por exemplo. Mas entretanto obriga toda a gente a ter contabilidade
organizada (mesmo em áreas de atividade onde ela não é exigida). E para a
imensa maioria das empresas e sectores, presume-se uma margem de lucro de 10%
com os tais coeficientes técnico-científicos. E é isto a “alternativa” a um PEC
de 1750 euros!
Senhora Ministra das Finanças, depois de
ouvir a sua intervenção neste debate, dá para perguntar: considera o Governo
que ser “amigo do investimento” é esmagar desta forma as micro e pequenas
empresas e favorecer, com este “fato à medida”, os grandes grupos económicos?
Disse.
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