A
austeridade é inútil
Injusta, cega e
inconstitucional, a austeridade continua inexoravelmente a empurrar-nos para
patamares de pobreza ignóbeis e para o afundamento da economia. Atingindo
trabalhadores, reformados e pensionistas, pequenos e médios comerciantes e
industriais, desempregados e agora também a viuvez, torna-se, no entanto, o
cúmulo da insensibilidade social quando chega às crianças e aos jovens.
Um relatório da
UNICEF, divulgado há dias, acusa o nosso País de violar os direitos económicos,
sociais e culturais desta camada frágil e indefesa da nossa população com as
medidas impostas pelo atual governo, apostado no contínuo saque à bolsa dos economicamente
mais débeis.
Nalguns dados
inseridos no referido relatório, lê-se, por exemplo, que em 2011 estavam em
risco de pobreza 28,6% das crianças portuguesas e mais de 500 mil perderam o
abono de família no período compreendido entre os anos de 2009 e 2012, além de
que 46 mil famílias deixaram de ter direito ao rendimento social de inserção,
afetando particularmente as crianças das camadas mais pobres.
Sendo este
estudo elaborado em referência aos anos anteriores a 2013 e, tendo em
consideração o conteúdo do Orçamento de Estado para 2014 com cortes nos
salários, pensões, serviços públicos essenciais à população e o desemprego a
aumentar, as repercussões na vida das gerações futuras são imprevisíveis, por
muito que as famílias façam para nada faltar às suas crianças.
Num exercício de
ficção orçamental, de enganos e mentiras, o governo e a troika pretendem incutir-nos a patranha, na qual nem eles
acreditam, de que vamos ter crescimento positivo em 2014, o défice fixar-se-á
nos 4%, a nova carga fiscal não provocará efeitos recessivos, os pensionistas e
reformados aguentam, aguentam, cortes sucessivos e cumulativos nas pensões, ou
seja, trata-se dum autêntico regabofe para o grande capital.
O escocês Mark
Blyth, professor de Economia Política no departamento de Ciência Política da Universidade
de Brown, em Providence, Estados Unidos, autor do livro "Austeridade --
uma ideia perigosa“, afirma que as medidas drásticas não são adequadas para a
solução da crise económica.
"Quando a crise começou em
2007 e 2008 ficámos a saber tudo sobre as fragilidades das economias do sul da
Europa, mas também sobre o elevado nível de endividamento do sistema bancário e
que esteve escondido durante mais de uma década", disse o académico,
sublinhando que as medidas impostas pelos governos dos países expostos à crise
não fazem sentido porque apenas servem o sistema bancário em crise.
"Necessárias
são políticas de crescimento, caso contrário, a mobilidade laboral vai tentar
resolver o problema afastando as pessoas com qualificações que simplesmente vão
abandonar os países. E depois quem paga os impostos?” questiona Mark Blyth,
recordando que na Irlanda milhares de académicos já abandonaram o país. E nós
em Portugal bem o sabemos também.
Para o professor
de Economia Política, pressionar o sistema com austeridade "como se fosse
um estilo de vida" só pode dar maus resultados e a crise não pode ser
solucionada enquanto se tenta resolver, "ao mesmo tempo", uma crise
bancária "através de reformas governamentais, porque uma coisa não tem
nada que ver com a outra".
"A
austeridade é uma forma de deflação voluntária em que a economia se ajusta
através da redução de salários, preços e despesa pública para 'restabelecer' a
competitividade, que (supostamente) se consegue melhor cortando o Orçamento do
Estado, promovendo as dívidas e os
défices" (página 16), escreve Blyth, realçando que não se verificam à escala mundial casos que tenham sido
solucionados com políticas de austeridade.
"Os poucos
casos positivos que conseguimos encontrar explicam-se facilmente pelas
desvalorizações da moeda. A austeridade trouxe-nos políticas de classe,
distúrbios, instabilidade política, mais dívida do que menos, homicídios e
guerra" (páginas 337-338), escreve o autor.
"Mas também
é uma ideia perigosa porque o modo como a austeridade está a ser apresentada,
tanto pelos políticos como pela comunicação social -- como o retorno de uma
coisa chamada 'crise da dívida soberana' supostamente criada pelos Estados que
aparentemente 'gastaram de mais', é uma representação fundamentalmente errada
dos factos", defende Blyth.
Como
alternativa, o autor da investigação defende a "repressão financeira"
assim como um esforço renovado na coleta de impostos "sobre os mais
ganhadores", a nível mundial, assim como a procura de riqueza que se
encontra "escondida em offshores" e que os Estados "sabem"
onde está.
O ex-ministro
das finanças, Gaspar de seu nome, confessou que o programa do governo, sob o
comando da troika está errado desde o
seu nascimento.
Mais palavras
para quê?
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